Depois de ter tido uma experiência na Arábia Saudita, no Al Nassr, Luiz Felipe foi o primeiro treinador da equipa B do Vitória de Guimarães. Numa entrevista ao Maisfutebol, o técnico de 46 anos deu o seu parecer acerca da criação das equipas B:

As equipas B serão um projeto com futuro em Portugal? Deverão os clubes apostar ainda mais nesta estratégia?

«É mais que óbvio que a conjetura do nosso futebol influencia essa situação. O desinvestimento que os grandes clubes apresentam, não contratando jogadores no estrangeiro, é um sinal das dificuldades financeiras que atravessam. O trabalho na formação é essencial. Ao longo destes anos, lançaram-se muitos jovens com talento e esse é o futuro, o caminho a seguir».

Isto é essencial para a sobrevivência do jogador português?

«Apresento o caso do Vitória de Guimarães. A maioria dos jovens atletas estava distribuída pela II divisão. Jogando numa equipa B, a aceitação é mais rápida. É um fato que se tornou um espaço que antes não existiam nos clubes e, por isso, demora o seu tempo de adaptação. Mas assim, estes jovens têm garantidas todas as condições para evoluir e atingir a equipa principal. Não andam perdidos por aí, de clube em clube, situação que é prejudicial. Se se mantiverem no mesmo clube, assimilam a forma de pensar do clube e é mais fácil a sua evolução. No caso do Vitória de Guimarães B, se não tivesse sido criada essa equipa, nem 10% de aproveitamento desses jovens havia. É essencial apostar na formação, cada vez mais».

Quais são os principais objetivos de uma equipa B?

«O principal objetivo é servir de fornecedor à equipa A, formando-os. Mas o futebol português ainda não está preparado para estas equipas B. O mais importante não são os resultados, mas sim a formação. É o fundamental. Não consigo entender a pressão que foi colocada nestas equipas. Formar os atletas tornou-se secundário e isso é errado».

Se não fossem criadas as equipas B quais eram as maiores ameaças ao futebol português?

«Os clubes grandes venderam muitos dos seus ativos, mas não se repuseram financeiramente, contratando mais jogadores. Optaram pela formação ou aproveitamento dos jogadores que já estavam nos plantéis. Por exemplo, o Vitória de Guimarães efetuou uma grande dispensa no início da temporada e chegou a ter 11 jogadores de campo. Se não fosse a equipa B, não sei como seria. Essa é a grande importância. Investir no que é nosso».

Normalmente os jogadores preferem jogar na equipa B ou um empréstimo a um clube de primeira divisão?

«Ficou provado que os jogadores nas equipas têm mais visibilidade que os jogadores que são emprestados a clubes de ligas estrangeiros e de segunda linha. O Baldé, se não tivesse jogado na equipa B do Sporting, não teria passado pelo futebol holandês e a esta hora não estaria a marcar tantos golos como já marcou no Vitória de Guimarães. Embora tenha chegado como um jogador desacreditado, está a provar o seu valor».

Quais são as principais criticas que faz às equipas B?

«As equipas B apareceram num espaço que não existia nos clubes e isso é complicado de assimilar. É preciso tirar ilações do que correu bem e do que correu mal, para nos próximos anos haver um melhor e maior aproveitamento. Portugal precisa de jogadores portugueses com grande qualidade, para suceder aos atuais».

Os índices de motivação dos jovens jogadores em jogar na II Liga são os mesmo que jogar na 2ª Divisão B?

«Não. Esse é o outro problema com que se tem que lidar no futuro. Se é difícil um jogador da equipa A jogar na equipa B, muito mais difícil é jogar na 2ª divisão. É preciso preparar mentalmente os jogadores. Existem atletas que jogaram na equipa B, passaram para a equipa B e, provavelmente irão jogar na 2º divisão [caso do Vitória B]. É preciso dar um grande acompanhamento a esses miúdos e mantê-los motivados. As equipas principais precisam deles».