Reinaldo Teixeira falou pela primeira vez, em entrevista ao Maisfutebol, depois de ter sido eleito presidente da Liga Portugal. Uma conversa a propósito dos 25 anos do nosso jornal e que passou muito pelo futuro do futebol português.

A começar pelo dossier da centralização dos direitos televisivos. Mais do que qualquer outra coisa, esta é a prioridade da Liga, admitiu Reinaldo Teixeira.

O dirigente revelou, de resto, que já falou com todos os operadores, que se mostraram satisfeitos com o produto e lhe manifestaram vontade de o inovar. Também disse que vai reunir com a Autoridade da Concorrência e garantiu que o Benfica tem tido uma atitude construtiva em todo o processo.

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Em 2018, a Liga Neerlandesa caiu para décimo lugar no Ranking UEFA, o que a levou a empreender uma série de alterações, entre as quais a regra de partilha de dez por cento das receitas da UEFA por todos os clubes. A partir daí subiu ao sexto lugar da ranking e até ultrapassou Portugal. A minha pergunta é: porque é que em Portugal não é possível fazer uma coisa destas?

Nós estamos a chegar, faz hoje precisamente 51 dias que tomámos posse, e o que sinto dea parte das sociedades desportivas é uma total abertura para tornarmos a nossa Liga mais competitiva e mais forte, para podermos ter um ranking diferente. Agora, neste momento, temos de focar-nos na centralização. É isso que o decreto-lei nos diz e é nisso que estamos a trabalhar, para ver se conseguimos antecipar uma centralização em que todos ganham mais e, por isso, ficam com melhores condições para poderem ter um futebol mais competitivo. Competitivo não só a nível de planteis mais fortes e mais caros, mas competitivo também em infraestruturas que melhorem a experiência do adepto e valorizem todas as nossas condições.

Mas mesmo na questão da centralização, temos visto o Benfica dizer repetidamente que só entra se não receber menos do que recebe atualmente. O que revela um egoísmo que é totalmente o oposto do espírito de que se falava na perguntar anterior.

Desde que cheguei, não senti de nenhuma das sociedades desportivas qualquer relutância em relação à centralização. O Benfica disse recentemente que não iria participar nas reuniões de centralização, também disse publicamente que tinha algumas preocupações, que nós subscrevemos. São coisas que nós próprios queremos clarificar, para depois, em conjunto, podermos avançar. No passado e agora, desde cá estamos, o Benfica participou ativamente e construtivamente em todas as reuniões.

Mas isso não significa que não tenha uma visão individualista do processo.

Naturalmente que quem está a ganhar X não quer perder esse X. É legítimo. A nós compete-nos fechar os dossiês, definir o tipo de conteúdo que está lá dentro, se é um pacote só ou se são vários pacotes, as regras que vão em cima da mesa e a definição de chave de distribuição que obtenha a aprovação da Autoridade da Concorrência. Depois disso, sim, vamos para o mercado. Temos de entregar este dossier até junho de 2026 e queremos fazê-lo antes.

Acredita que vai ser possível fazê-lo antes?

Estamos a trabalhar para isso, já ouvimos algumas sociedades desportivas, iremos ouvir todas e perceber a sensibilidade que têm quer em relação à distribuição das verbas - ou seja, as chamadas chaves de distribuição -, quer no tipo conteúdos que vamos comercializar: se são só os 90 minutos, se há alguma coisa para além dos 90 minutos, enfim. E com base nisso vamos falar também sobre os quadros competitivos, há várias modelos, há várias propostas e há várias ideias. Vamos, com base nisso, fechar todo o dossier, para o entregar à Autoridade da Concorrência. Após a aprovação, vamos para o mercado.

Já falou com os operadores e as televisões?

Devo dizer que nestes 50 dias de trabalho já visitamos quase todos, senão mesmo todos, os operadores. Temos a nossa equipa que trabalha nessa área e eu acompanhei todas essas ações. E sentimos da parte de todos forte motivação e interesse no produto. Agora falar de valores, se é 10, se é 50, se é 100, acho que é prematuro. O essencial é: o que é que vamos vender? De que forma é que o vamos vender? Quantos anos é que vamos vender? E isso tudo tem de ser aprovado pelo regulador.

O que é que lhe disseram do produto futebol português?

Todos gostam do produto. Gostam do produto e querem criar mais inovação, mais e melhores experiências para os espetadores. Querem diferenciar o produto e é nisso que estamos a trabalhar, em conjunto.

Já teve algum encontro com a Autoridade da Concorrência?

Vamos reunir neste mês. Temos um encontro marcado para dia 24 de junho. Vamos apresentar os nossos cumprimentos e, dentro disso, vamos conversar sobre como fazer, porque tudo o que nós façamos requer essa aprovação.

Em relação ao modelo de distribuição das receitas televisivas, já tem alguma ideia de como pode ser?

Estamos a ouvir as várias sociedades desportivas sobre as opiniões delas, sobre os modelos que defendem para as chaves de distribuição e depois vamos criar uma sugestão para que elas aprovem.

A conversa que vai ter em breve com a Autoridade da Concorrência é para preparar isso?

Já há um draft feito, já há um regulamento de drafts feitos, já há alguns lotes feitos e é dentro disto que já existe, e com base naquela sensibilidade que há pouco referi, que vamos falar com a Autoridade da Concorrência para obtermos a sua anuência para fazer alguns ajustes. Depois temos de aprová-los nos clubes, passar na Autoridade da Concorrência e pôr tudo isto em prática.

Das conversas que teve com os operadores, ficou com uma ideia de quanto pode valer o futebol português?

Não e tudo o que se possa dizer sobre isso nesta altura é fictício. Depende do produto que vamos vender. Que tipo de conteúdos vamos vender? Que tipo de infraestruturas? Que lotes vamos colocar à venda? Qual é o regulamento desses lotes?  São três anos? São cinco anos? São mais? Compete-nos fechar o produto, aprová-lo na Autoridade da Concorrência e depois ir ao mercado e falar olhos nos olhos. Como disse, temos um ano para o fazer, mas queremos fazê-lo mais cedo do que junho de 2026.

Uma liga que também era muito desnivelada era francesa e com o fim que se sabe: a centralização correu mal, teve de fazer uma revolução, acabar com a Liga e seguir o exemplo inglês de uma empresa privada formada pelos clubes, para gerir o futebol, com mais intervenção do Estado. É um aviso para Portugal?

O facto de sermos das últimas ligas a centralizar os direitos televisivos tem desvantagens, mas também tem vantagens, e uma vantagem é que possamos não repetir alguns erros que aconteceram noutras ligas. Por isso, o dossier a ser entregue à Autoridade da Concorrência tem de ter ‘suspensórios’, para no fundo mantermos o controlo e garantirmos que quem concorreu tem condições para honrar os compromissos.