O mais novo de sempre a jogar nas provas europeiaso mais jovem titular de sempre do FC Porto e, entretanto, também o mais jovem jogador a marcar pelos dragões: Fábio Silva é um talento precoce, já ninguém duvida.

Pelo talento e valor que o jovem avançado tem, os dragões não se importaram de percorrer 600 quilómetros para assegurar o seu regresso. Uma viagem longa que pode vir a sair barata ao clube azul e branco tamanho o potencial lhe é reconhecido.

Embora Fábio Silva esteja habituado a queimar etapas, vamos começar pelos primeiros pontapés da bola. O Maisfutebol recuou no tempo até à altura em que clubes como FC Porto e Benfica não passavam de sonhos.

«Notava-se que tinha algo de especial, sobretudo na relação com a bola. Mas tinha um feitio difícil: odiava perder. Ferrava-se todo quando perdia. Às vezes, fazíamos exercícios de técnica como é natural nessas idades, e ele aborrecia-se. Porquê? Para ele já era fácil executá-los», referiu Pedro Fonseca, o primeiro treinador de Fábio Silva quando este tinha seis anos.

Entre gritos de entusiasmo e corridas, o barulho das botas a bater no chão ecoa pelo corredor a caminho do relvado no estádio Municipal de Nogueira. O jogador do FC Porto era um menino como tantos outros que cumpria solenemente o ritual a caminho do sintético. Dentro do relvado, Fábio era diferente.

 «O Fábio tinha mais qualidade que os outros. Já na altura era muito vertical e festejava os golos como ninguém. Isto com seis anos, atenção», disse o técnico.

Uma carreira ao lado do irmão

Há duas razões para Fábio ter começado a jogar no pequeno clube maiato: a proximidade da casa do avô ao estádio e o irmão. O mais velho dos filhos do ex-futebolista Jorge Silva iniciou o seu percurso no União Nogueirense FC e Fábio acompanhou-o. O mesmo aconteceu quando ambos se mudaram para o Gondomar um ano depois.

Bastou um ano a jogar nas imediações do estádio São Miguel para os irmãos Silva chamarem a atenção do FC Porto. Fábio ingressa nos dragões para jogar nos sub-8, equipa no qual encontra a treinadora Mara Vieira.

«Estive com ele três anos. O Fábio já era avançado, pelo menos foi o que detetámos. Sempre jogou a avançado, porque tinha algumas características para isso. Marcava muitos golos, tinha uma variabilidade corporal e uma agilidade própria dos avançados. Era a posição que mais gostava», começou por contar ao nosso jornal.

«Tinha muita técnica e uma facilidade para finalizar de várias maneiras mesmo sendo pequenino. Conseguia conduzir a bola muito rápido. Sabe, tinha a tranquilidade típica dos avançados para receber na área e finalizar. Parecia que não lhe sobrava tempo, mas ele conseguia fazê-lo. Marcava de cabeça, de primeira, enfim, de várias maneiras. Era um menino muito ágil, a bola podia estar a saltar que ele conseguia dominá-la e conduzi-la sem perder velocidade», acrescentou.
 

Fábio Silva foi orientado por Mara Vieira durante três dos cinco anos em que esteve no FC Porto



Volvidos quase dez anos, Fábio aprimorou as competências futebolística. Portanto, a treinadora da equipa feminina do Valadares destacas as qualidades humanas do jogador.

«Sempre foi uma criança muito ativa e competitiva. Parecia não estar atento quando falava, mas sabia sempre o que estava a ser dito e o que era para fazer. Tal como o Fábio, o Tiago [Ribeiro], o Bernardo [Folha] ou o Tomás [Esteves] estavam sempre prontos para desafios. Propunha que fizessem um pontapé de bicicleta e eles tentavam fazer. Estão prontos para o mais difícil mais cedo que as outras crianças, por isso são talentos», frisou.

Cinco após ter chegado, Fábio Silva encerrou a primeira passagem pelo FC Porto com 13 anos. Uma vez mais, o jovem decidiu seguir o irmão Jorge Silva, que ficou sem espaço na equipa de juvenis depois da entrada do espanhol Pablo Sanz para coordenador da formação azul e branca.

No Seixal às ordens do irmão de Bruno Lage

Tal como o irmão Jorge, Fábio Silva seguiu de malas e bagagens para o Seixal. O centro de estágios do Benfica foi a sua casa durante dois anos, período no qual foi orientado por Luís Nascimento de quem gostava muito.

Durante o segundo ano nas águias, o filho do antigo capitão do Boavista declinou vários contratos de formação oferecidos pelo Benfica. Um dos motivos? O irmão Jorge Silva, uma vez mais. Capitão de equipa durante a pré-temporada, o atual jogador da Lazio deixou de ser opção nos encarnados. A juntar a essa razão, Fábio estava insatisfeito no Benfica.

 

Fábio Silva voltou ao FC Porto em 2017


Por sua vez, o FC Porto também queria recuperar o jogador. Os dragões souberam do descontentamento do futebolista através dos seus colegas de seleção nacional. José Tavares procurou imediatamente resgatá-lo. Aliás, o coordenador da formação dos azuis e brancos é o principal responsável pelo ingresso de Fábio no clube. Ferreirinha, como é conhecido, fez-se à estrada e viajou propositadamente ao Algarve, onde Fábio passava férias com a família, para garantir o seu regresso.

Houve propostas de Manchester City e Liverpool, todavia a prioridade da família e do próprio Fábio sempre esteve clara: continuar no FC Porto.

Agora o menino fez história sob o olhar atento de Pedro Fonseca e de Mara Vieira. Babados, claro.

«Quando o Fábio ganhou a Youth League até partilhei uma foto nas redes sociais. Ele deve lembrar-se vagamente de mim, mas o pai sabe quem sou. Afinal, ele deu os primeiros chutos comigo», concluiu Pedro.

*na foto de capa Fábio Silva é o quarto da fila de baixo de t-shirt preta.

[Artigo originalmente publicado a 27 de setembro]