Os nossos dias tornam normal ver grandes atletas virarem homens de negócios: empresários que não entram apenas com o capital, mas fazem efetivamente parte da força empreendedora de uma empresa. Há vários casos disso, na Europa, claro, mas sobretudo nos Estados Unidos.

Ora é exatamente para apoiar os jogadores que querem tornar-se empreendedores que nasceu a Apex Capital, uma empresa fundada pelos pilotos António Félix da Costa e o neozelandês Mitch Evans, e pelos pelo Financial Advisors Pedro Félix da Costa e António Caçarino.

«Essencialmente somos uma empresa com mais de um ano e nesta altura estamos posicionados como uma plataforma de investimento em que co-investimos e ajudamos atletas de alta competição a tornarem-se eles próprios empreendedores, investindo no ecossistema de que fazem parte: basicamente trazemos as melhores oportunidades de investimento em desporto, media e entertainment», explica a Maisfutebol António Caçarino.

«Num ano de existência já temos sete operações fechadas. Nesta altura falamos recorrentemente com cerca de trinta atletas. Temos atletas que investiram nas nossas operações, temos outros que vão co-investir connosco em oportunidades e temos outros que são nossos advisers.»

Este não é, portanto, um advisor fund. Longe disso. É uma empresa que procura oportunidades, que as apresenta aos atletas de acordo com o perfil de cada um, que muitas vezes co-investe com os atletas e que presta todo o tipo de apoio para que estes participem no conselho de administração.

Mas o projeto destina-se apenas a jogadores milionários?

«O projeto é para todos os atletas que querem ser empreendedores. Não estamos a falar com atletas da terceira divisão, mas também não é um projeto exclusivo para atletas top, é um projeto para todos os atletas que querem investir na indústria e serem empreendedores», acrescenta.

«Se me aparecer um atleta de topo a dizer que simplesmente quer por o dinheiro a render, isso faz com o banco privado e com o wealth manager. Este é um projeto para atletas que tenham a ambição de se tornarem empreendedores. Claro que quanto maior for o atleta, mais capital tem, mais imagem tem, mais network tem, mas nós queremos todos os atletas que tenham este sonho.»

Luís Vicente é o primeiro português a integrar o Conselho de Administração da FIFA e agora foi convidado para ser o chairman da empresa, função que o fez agora regressar a Portugal.

«Nos Estados Unidos muitos atletas despertaram para o papel que podem na evolução do desporto e vemos grandes nomes, de LeBron James a Kevin Durant, a investir em muitas empresas que estão a potenciar a digitalização do desporto, nomeadamente no aspeto da monetização. Na Europa temos o caso do Piqué, que criou uma empresa de investimento no desporto, que é a Cosmos, com alguns partners muito importantes, nomeadamente o CEO da Rakuten», diz Luís Vicente.

«A Cosmos comprou, por exemplo, os direitos da Copa Davis, que revolucionou por completo. Investiu também na aquisição de um clube de futebol, o Andorra, que está na II B espanhola. E investiu, juntamente como o Griezmann e o Schurrle, na Sorare, transportando a empresa para o ambiente digital com tecnologia blockchain, o que se revelou um caso de sucesso: a empresa estava valorizada em cerca de 200 milhões de euros e que agora está valorizada em 7 mil milhões.»

Recordando que «ainda há dias houve o IPO da Sportradar, que foi valorizado em dez mil milhões de dólares, e o Michael Jordan é um dos principais investidores da Sportradar», Luís Vicente mostra-se entusiasmado com as perspetivas de futuro da Apex, num mercado em desenvolvimento.

«A Apex teve um primeiro ano excelente e sente que há um potencial enorme de crescimento na Europa. O espectro do desporto europeu tem enormes oportunidades e há uma crescente abertura aos modelos de digitalização e de monetização digital. Basta ver o que aconteceu com as empresas de beting, por exemplo. Ou o que está a acontecer agora com os tokens e os NFT’s.»

Por isso para os fundadores fazia sentido seguir o movimento de empowerment do atleta e trabalhar para que, por um lado, as empresas entendam a força que o jogador pode ter como investidor e para que, por outro, o jogador entenda que pode assumir a propriedade de plataformas na indústria.

«Maioritariamente focamo-nos mais em duas verticais. A primeira de venture capital, portanto olhando para empresas novas e start-ups neste ambiente de sportstech e inovação, não tanto numa fase de ideia ainda, mas necessariamente numa fase jovem da empresa, quando os atletas podem trazer muita força ao nível da mentorship e know-how», diz António Caçorino.

«Numa segunda vertical olhamos para participações em direitos de media, direitos de imagem, participações em clubes, participações em ligas, portanto em fases mais maduras do negócio. Mas mais uma vez queremos que os atletas tomem alguma ownership do negócio, queremos que sejam um pouco donos, não apenas investidores que trazem capital.»

No fundo, lá está, é preciso que os jogadores queiram, com fez Piqué, ter o ownership das plataformas. Até porque é isso que a Apex promete às empresas com as quais quer trabalhar.

«É prometido mais do que apenas capital, é prometido associar a imagem, ajudar a abrir portas no desenvolvimento do negócio, em alguns casos entrar na administração das empresas. A Apex estrutura a operação, faz todo o acompanhamento deste processo, fornece reporting, enfim.»

Mas como é que surgiu esta ideia?

António Caçorino explica que tudo aconteceu numa altura em que as pessoas tinham muito tempo livre e depois de António Félix da Costa dar um impulso decisivo.

«A minha carreira foi sempre no meio financeiro, mas acompanhei de perto a carreira do António Félix da Costa e de alguns amigos do futebol. Cada vez é menos comum haver atletas que terminam a carreira e não estão financeiramente como devem estar para o resto das suas vidas. Há muitos atletas com mentalidade empreendedora e que querem ter um propósito pós-carreira, mas havia alguma insegurança em relação a investir», conta António Caçarino.

«Quando começou a pandemia eu estava a trabalhar num fundo de private equity, fiz a pandemia em Portugal e comecei a discutir a ideia com o António e o Pedro, que são meus amigos desde miúdos. Com muito tempo nas nossas mãos, começámos a debater a ideia, falámos com atletas e percebemos que o feedback era muito positivo. Comecei a montar o business plan, passados uns meses avançámos com o projeto e está a correr muito bem.»

Num ano apenas fechou sete operações. Mas está sempre à procura do próximo Piqué.