* Enviado-especial do Maisfutebol aos Jogos Olímpicos
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[atualizado]

O barco para Niterói parte dentro de minutos. Brad Funk encontra-se com o Maisfutebol, agitado, e planeia mais um dia nas águas da Baía de Guanabara. O velejador norte americano passa os dias a recolher lixo - «garrafas de plástico, sacos, detritos» - e a fugir de ameaças.

«Isto está a ficar demasiado grande. Não era o que eu queria no início», lamenta, a olhar para tudo o que o rodeia. «Hoje vem um rapaz novo ajudar-me e nem sei quais são as intenções dele. Nem o conheço, mas preciso de toda a ajuda possível e vou arriscar».

Brad devia competir nos Jogos Olímpicos, na classe de 49er. Falhou a qualificação «por problemas pessoais vários e um grande azar numa prova», mas viajou na mesma para o Rio. A namorada de Brad, Bryony Shaw, atleta britânica, vai competir na Baía de Guanabara e Brad está muito preocupado. 

«As análises mostram a existência de uma bactéria super resistente. Além disso, há coisas que podem destruir por completo uma prova e roubar uma medalha», explica Brad Funk, antes de entrar no barco e remover «dezenas de lixo».

«Eu adoro o Rio», avisa Brad, «mas não posso ver estas águas assim». Ironicamente, o norte americano é natural de Clearwater (água límpida), Florida. Uma casualidade, apenas, não o motivo para esta ação forte. De protesto, sim, mas também de amor.

«Penso na minha namorada, no que lhe pode acontecer, e nos outros velejadores. Eu detestaria competir nesta Baía e perder uma medalha por culpa de um plástico que se agarra ao meu barco». 

«Na zona interior da Baía vive-se uma tragédia ambiental»

A Organização Mundial de Saúde monitoriza diariamente a qualidade da água na Baía de Guanabara. Os recentes indicadores são satisfatórios. Brad Funk concorda que o COI e a prefeitura do Rio de Janeiro estão a desenvolver «um tremendo esforço». Não chega.

«Repare, nesta área mais próxima do Atlântico, a água não é má. Mas basta entrar na baía e procurar as margens interiores para perceber a tragédia ambiental que aqui se vive».

Brad Funk antes de mais um dia de limpeza da Baía

O problema, acrescenta Brad, está na forma como o saneamento básico está construído. «É tudo despejado aqui. Além disso, quando chove muito, o lixo que está nos morros escorre e afeta as águas».

Fonte da organização assegura ao nosso jornal que as condições reunidas estão «dentro dos parâmetros internacionais» e que as provas decorrerão «normalmente».

Brad Funk quer acreditar que sim. «Adoro a cidade e não pretendo que o mundo fique com uma imagem errada. Por isso estou a fazer tudo o que posso para ajudar. Limpo tudo o que vejo, há mais de um mês».

«Recebo mensagens feias, tenho de ter cuidado»

Para esta ação de «mediatismo altruísta», Brad Funk tem uma tripulação curta. «Ridícula», concorda. O capitão do pequeno barco, o assistente e uma tradutora brasileira, importante para o contato com outros pescadores e marinheiros locais. 

No dia em que fala ao Maisfutebol, Brad tem um reforço local. «Preciso de todas as mãos, vou aceitá-lo».

E as ameaças? O que deixa Brad Funk tão perturbado? «Não quero falar muito. Alguns políticos acham que estou a passar uma imagem negra do Rio. Recebo mensagens feias, tenho de ter cuidado. Eu adoro o Rio e só quero ajudar. A minha namorada e os outros». 

Brad acha que está na hora de parar. «Já fiz muito, há que passar o testemunho».

Os pescadores locais, homens simples e conhecedores, dizem que o que mais assusta é a instabilidade das águas. Pelo que nos dizem, tudo pode mudar de um dia para o outro, basta haver mais vento ou uma tempestade súbita. 

O americano concorda e acena. O barco para Niterói apita, Brad embarca. «É a minha missão. Tenho de acabá-la».

Por amor, por preocupação ambiental. Brad Funk está na história destes Jogos do Rio.