O Maisfutebol publicou ao longo da semana uma história por dia sobre futebolistas do Coimbrões, o clube do Campeonato de Portugal adversário do FC Porto na Taça de Portugal.

Despedimo-nos em dose tripla. Holofotes do Parque Silva Matos inclinados e a incidir sobre o presidente Vítor Ferreira, o herói Pedro Tavares e um dragão dos quatro costados, mas triste com o seu FC Porto: o talentoso Clever Jansen.

Casa cheia no velhinho campo do Coimbrões, adeptos animados, conversas no café com vista privilegiada sobre o sintético. O líder da instituição traça-nos o retrato do Orgulho de Gaia, emblema quase centenário e que movimenta 580 atletas em várias modalidades e escalões etários.

«Foi uma festa depois do sorteio. Normalmente não temos esta visibilidade, vamos tentar aproveitá-la para lá do apito final do jogo de dia 19. Queremos fazer do Coimbrões um clube mais conhecido e mais forte», afirma o dirigente, cuja tomada de posse foi feita a 1 de maio.

Parte I: «Acho que o Zé Luís e o Conceição vão reconhecer-me» (Nikiema)

Parte II: «Joguei com o Félix e o Dalot, agora vendo sushi» (Daniel Pires)

Vítor Ferreira reclama instalações superiores para o clube num futuro próximo e solicita ajuda de instâncias superiores. O orçamento anual é de 300 mil euros e há 1500 sócios pagantes. Não chega.

«Gostaríamos de trazer o jogo aqui para o Silva Matos. Sou sócio há 49 anos e nunca tivemos um clube desta dimensão no nosso velhinho campo», lembra o presidente do Coimbrões.

«Infelizmente as restrições de segurança limitariam em muito a lotação atribuída aos nossos adeptos. Muitos deles, e também os atletas da formação, ficariam fora do campo. Seria uma tarde de festa inesquecível, mas sem as pessoas todas que queremos connosco.»

A partida, um dérbi, coincide com o início das comemorações do 99º aniversário do Sporting Clube de Coimbrões. Uma instituição eclética, feita de gente rija e fiel.

«Temos uma longa história, com muitos sucessos. Ganhámos a Volta a Portugal em bicicleta de 1978 pelo Belmiro Silva e somámos vários títulos nacionais nos escalões secundários.»

Os registos de duelos entre Coimbrões e FC Porto não contemplam qualquer jogo oficial. A memória dos mais velhos fala de jogos relativos aos campeonatos distritais, nas épocas de 40 e 50, mas não há provas físicas nem relatos dessas pelejas.

Mais viva está a recordação de um amigável realizado no pelado deste Silva Matos, em 1977. O FC Porto contratou o então promissor Quinito ao Coimbrões e os gaienses organizaram-lhe um jogo de despedida.

O médio fez a primeira parte pelos da casa e vestiu de azul e branco no segundo tempo. Ganhou o FC Porto de José Maria Pedroto por 2-1. Quinito, já agora, esteve ligado ao FC Porto até 1985 e foi duas vezes campeão nacional: 78/79 e 84/85. Fez 63 jogos de dragão ao peito.

Maisfutebol pisou o sintético do Coimbrões

Pedro Tavares matou um Linfoma de Hodgkin, agora venha o dragão

Entre 2000 e 2002, Pedro Tavares foi dragão de corpo e alma. Jogou com Fábio Espinho e Hugo Almeida, por exemplo, nos juvenis do FC Porto. Acabou dispensado e rumou a outras paragens [Leixões, Padroense e Candal], antes de assentar arraiais no Coimbrões.

Está na 13ª época seguida no clube, é o mais antigo do plantel e os 33 anos são um mero detalhe burocrático. Pedro é o exemplo maior de superação. Derrotou um cancro há oito anos, ultrapassou «o choque», parou seis meses e recuperou a saúde. Faz o que mais gosta.

«Foi um Linfoma de Hodgkin. Sabia que a doença tinha uma taxa de cura elevada e nunca baixei os braços. O Coimbrões foi fantástico comigo e decidi não voltar a sair do clube. Enfim, nem gosto muito de falar sobre isso.»

Pedro é um dos muitos amadores do plantel às ordens do treinador Pedro Alves. Amadores, sim, mas não menos responsáveis e conscienciosos. O futebolista tem um café na Afurada e, sem problemas, assume o seu portismo. «Mais de 90 por cento nesta zona são do FC Porto. Mas sábado é para ganhar.»

«O Gonçalo Paciência foi o melhor jogador que vi no FC Porto»

Clever Jansen transportou para o FC Porto o talento tropical do Pará. Nasceu no Brasil, veio ainda pequeno para o nosso país e jogou nos azuis e brancos dos 13 aos 19 anos. O médio é um dos mais influentes do Coimbrões e será uma figura a não perder de vista.

Maisfutebol – Foram seis anos no FC Porto. O jogo será especial para si.

Clever Jansen - Vou reencontrar muita gente conhecida. Roupeiros, funcionários e o Bruno Costa, com quem joguei. Já lhe mandei mensagem a dizer que quero a camisola e as chuteiras dele (risos).

MF – E o que perspetiva? O Coimbrões tem hipóteses reais de surpreender?

CJ - O FC Porto é melhor, mas vamos desfrutar do jogo sem medo. Dar o máximo, tudo pode acontecer.

MF – Ná época 2017/18 não fez nenhum jogo oficial no Felgueiras. O que se passou?

CJ - Tive duas roturas de ligamentos. Uma no joelho direito e outra no esquerdo. Parei quase um ano, recuperei, voltei a treinar e passados dois meses tive a segunda lesão. Quis desistir, pensei mesmo em desistir do futebol.

MF – O Coimbrões acreditou em si.

CJ - A época passada já foi boa e voltei a sonhar. Estou bem fisicamente e quero ver se ainda consigo concretizar os meus sonhos, só tenho 23 anos.

MF – Nasceu no Brasil. Quando é que veio para Portgal?

CJ - Vim para cá com sete anos, com a minha mãe e o meu padrasto. Nasci na região do Pará. Em Portugal comecei a jogar nas escolinhas Fair-Play e aos 13 anos cheguei ao FC Porto. Saí de casa da minha família, em Famalicão, e fui morar para o Lar do Dragão. Estive lá até aos 19 anos e depois, infelizmente, fui-me embora.

MF – As memórias do FC Porto são boas?

CJ – Tenho muitas boas memórias, muito fortes. Fui campeão nacional de sub-15 e sub-19, aprendi muito, sempre me dei bem com toda a gente.

MF – E deve ter histórias boas para contar.

CJ - Pregávamos muitas partidas. Joguei com Rúben Neves, André Silva, Bruno Costa, não faltam boas histórias. Uma delas foi com o Rui Lowden, agora Team Manager da equipa principal do FC Porto. De vez em quando colocávamos um balde em cima da porta, cheio de água fria. Os nosso colegas entravam e aquilo molhava-os. Certo dia, bem, tivemos azar. Nós e o Rui. Não estávamos à espera que ele entrasse e acabou por ser o Rui, o Fininho como dizíamos, a vítima. Molhou-se todo e ficou bem chateado connosco. Ele e o treinador, o Folha. Levámos um raspanete.

MF – Qual foi o melhor jogador que viu no FC Porto?

CJ - Melhor jogador? Um craque, o Gonçalo Paciência. Com a bola nos pés é incrível, podia estar numa equipa ainda melhor. Treinei com ele na equipa B.

MF – Acabou a formação e não renovou. O que aconteceu?

CJ - Saí de lá um bocado triste. Na fase final dos sub-19 não joguei, depois de ter sido titular a época inteira. Houve ali uns problemas, umas chatices e nem tentei falar com o clube para renovar ou continuar. Quis sair. Estive para sair para Sp. Braga, Vitória de Guimarães, mas não deu. Direitos de formação, obstáculos, é a vida. Cá estamos. Sinto-me bem e reentrei no bom caminho.