Sebastián Coates era um miúdo de 19 anos quando foi chamado pela primeira vez para representar a seleção A do Uruguai. Apesar da timidez, notada inclusive ainda nos dias de hoje no Sporting, o jovem central resolveu ser a voz do experiente grupo, que estava a um passo de conquistar o apuramento para o Mundial de 2010 na África do Sul.

Na véspera do play-off decisivo contra a Costa Rica, o então defesa do Nacional de Montevideo recebeu do capitão e ídolo Diego Lugano a oportunidade de “apresentar-se” ao plantel. Acabou, entretanto, por fazer um discurso emocionante e digno de um verdadeiro líder.

«Estávamos à espera do jogo mais difícil, mais dramático e mais tenso que um jogador pode participar. Não é o Mundial, não é a Copa América, não é a Libertadores. É mesmo o play-off para o Mundial. Ou você vai para o inferno ou garante a passagem para o purgatório. A pressão era gigante, e o Sebastián estava a estrear na seleção», recordou Lugano, em exclusivo ao Maisfutebol.

«Eu, como capitão, sempre reunia o plantel um dia antes das partidas, era um momento para partilhar ideias e opiniões. A situação também servia para quebrar o gelo entre os mais novos. De forma simpática, pedi ao Sebastián para dar uma palavra. Ele poderia ter ficado com vergonha e recusado, visto que é muito reservado, mas levantou e expressou-se com muita segurança, inteligência, mentalidade diferenciada e criatividade. Todos ficaram surpresos. O intuito, na verdade, era apenas fazer uma espécie de apresentação, não era para falar sobre a importância e a emoção daquele momento. Mas foi o que ele fez. Mostrou muita personalidade», confidenciou.

Lugano capitaneou o Uruguai anos a fio

Dali em diante, Coates praticamente conquistou de vez um espaço cativo no grupo de peso dirigido por Óscar Tabárez, que contava com Diego Godín, Maxi Pereira, Edinson Cavani, Luis Suárez, Diego Forlán, entre outros. Foi na Copa América de 2010, na Argentina, que o atual capitão leonino também passou a conviver com a alcunha de «Novo Lugano».

«Já com 20 anos, o Sebastián jogava com muita força e personalidade. Em solo argentino, por exemplo, fez tremer as pernas dos adversários nas divididas. Ele olhava e gritava comigo, como se fosse ele o capitão da equipa. Fez isso com uma firmeza incrível. Nos meus vários anos na seleção, posso dizer tranquilamente: é dos jogadores mais lúcidos para falar sobre o que queremos e precisamos. Tem uma capacidade sensacional para liderar e compreender os contextos», elogiou.

Hoje comentador desportivo na ESPN Brasil, Lugano, que fez sucesso no São Paulo e no Fenerbahce, tendo ainda representado PSG, Málaga e West Bromwich, tem um orgulho enorme de, modestamente, ter sido um “grão de areia” no processo de evolução do camisola 4 do Sporting.

«Não posso dizer que tive ou não uma participação no desenvolvimento do Sebastián, porque tudo o que conquistou foi por mérito próprio. Jogamos e convivemos vários anos juntos, então a minha experiência talvez tenha ajudado no amadurecimento dele. Tomara que eu possa ter participado em um grão de areia na evolução dele como jogador e também como homem», destacou.

Coates tem 40 internacionalizações pelo Uruguai; Lugano somou 95

«Pelo porte físico, ser loiro, jogar na mesma posição, ter uma personalidade semelhante, rapidamente começaram a comparar ele comigo, sobretudo no Brasil, porque o São Paulo chegou a mostrar interesse na contratação dele. Tudo isso ajudou a impulsionar a alcunha de “Novo Lugano”. Não sei se foi para o bem ou para o mal, mas ele escutou muito isso no começo da carreira [risos]», completou.

De longe, Diego Lugano, que deixou o futebol em 2017, acompanhou com atenção a vitoriosa campanha do Sporting, que colocou fim ao longo jejum de 19 anos na Liga. Um título que tem uma marca significativa de Coates. Aos 30 anos, o central uruguaio foi decisivo com golos importantes, segurança defensiva e, obviamente, liderança.

«O nível do Sebastián, e também refiro-me aos últimos três anos, tem sido absoluto. Achou o seu lugar, num clube grande e competitivo. Sempre estive seguro do sucesso dele no futebol português. Fico muito, muito feliz. É um momento muito merecido. É um líder nato, representa a forma de jogar e também de ser do uruguaio. É comprometido, leal, firme. Identifico-me muito o sucesso dele», finalizou.