O Estádio Algarve entrou na história do futebol de Gibraltar, ao acolher o primeiro jogo oficial da seleção do território sob administração britânica encravado em Espanha. A Polónia foi o adversário, e nem o desnível no resultado final calou os gibraltinos que se deslocaram ao Algarve para viver este momento histórico. 7-0 é um resultado pesado, mas não abafou a alegria dos gibraltinos pela honra de estar a disputar a principal competição de seleções da UEFA.

Antes do jogo, gibraltinos e polacos conviveram à entrada do estádio, tirando fotos ou conversando salutarmente. Com a seleção portuguesa a jogar à mesma hora frente à Albânia em Aveiro, não foi notada a presença de adeptos portugueses, à exceção de um, equipado com uma camisola do Farense. O preço dos bilhetes também não ajudou: o mais barato custava 20 euros.

Grande parte dos gibraltinos preferiram fazer a viagem pelos seus próprios meios, aproveitando para prolongar a estadia no Algarve. Afinal, o que são 400 km quando se pode desfrutar dos destinos balneares algarvios? «400 km? Albufeira… três dias! É muito bom», resumiu Felix Bernicacoci, um dos adeptos gibraltinos, à reportagem do Maisfutebol.

Interessava viver o histórico momento em que Gibraltar se tornava formalmente a 54ª seleção a competir na UEFA, o resultado passava para segundo plano. «Espero passar do meio-campo… pelo menos uma vez! Vai ser um bom jogo, com um bom ambiente, é o nosso primeiro jogo oficial, e estamos muito contentes!», dizia Felix, antes do jogo.

Gary Davies gastou cerca de 300 euros para apoiar a sua seleção, e também escolheu alojamento em Albufeira. «O mais importante é viver este momento. Não esperamos nenhum resultado, que comece o jogo para fazermos história», referiu. «Jogar no Algarve? É próximo de Gibraltar e adoramos os portugueses. E aproveitamos para passar cá o fim-de-semana, em Albufeira.»

Jonathan pagou 50 euros, e veio num dos cinco autocarros que saíram a meio da manhã de Gibraltar. Foram quatro horas e meia de viagem e o preço já incluía bilhete para o jogo. «Estamos satisfeitos pelo nosso primeiro jogo de qualificação para o Europeu. Realisticamente, se marcarmos um golo já será muito bom. Jogar no Algarve? É maravilhoso! A Espanha não nos deixou jogar lá, pelo que estamos aqui muito felizes», manifestou.

«É uma honra estar cá para celebrar esta ocasião única, a estreia de Gibraltar na UEFA. Obrigado Portugal por este bonito estádio. Vamos tentar fazer o melhor possível.», referiu Justin Poggio, outro dos cerca de 3000 gibraltinos presentes no Estádio Algarve, que não se cansaram de cantar e puxar pela sua equipa, além das constantes manifestações de carinho para com Portugal.

«Obrigado Portugal», foi das frases mais ditas e cantadas no recinto algarvio, tanto antes como durante o jogo.

Kamil Grosicki, polaco que joga no Rennes, não se deixou contagiar pela festa gibraltina, e aos 11 minutos puxou pela garganta dos cerca de 500 polacos que assistiram ao jogo. Um remate de  Roy Chipolina, capitão de Gibraltar, reanimou os adeptos gibraltinos, que apesar da significativa diferença entre as duas equipas, viram a sua seleção aguentar-se apenas com um golo sofrido, até ao intervalo.

Grosicki continuou a ser desmancha-prazeres, e após o reatamento deu início à goleada, que também teve marca de Lewandowski: o avançado do Bayern, temido por Allen Bula, selecionador de Gibraltar, na antevisão ao jogo, assinalou o momento com um póquer, nada menos que quatro golos.
No final, Allen Bula falava de diferenças profundas entre as duas equipas. «A condição física foi uma questão essencial neste jogo. No início da segunda parte a Polónia pressionou muito, e a equipa não conseguiu aguentar. O resultado final é como um abrir de olhos para a nossa verdadeira realidade», disse, para acrescentar que, até certa altura, chegou a acreditar em algo mais: «Na primeira parte estivemos bem e, com mais algumas qualidades, poderíamos ter ido para intervalo com outro resultado. Na segunda parte, as coisas pioraram. Apesar dos muitos erros, não vamos crucificar os jogadores. Demos muita liberdade aos jogadores polacos. Contra jogadores como Lewandoswki, se lhes damos um metro de espaço que seja, eles castigam-nos. Mostrámos que temos muito coração, especialmente na primeira parte. Só precisamos de juntar a condição física a esse coração.»

São tantas as diferenças. Gibraltar, um território com menos de 30 mil habitantes (precisavam de ter vindo todos para encher o Estádio Algarve), sem competição regular fora do Rochedo, tinha apenas dois jogadores profissionais no onze, segundo este curioso levantamento feito pelo inglês «Daily Mail»:




«Isto foi algo novo para nós. Temos de nos habituar porque estamos a jogar contra profissionais», resumia no final Jordan Perez, o guarda-redes bombeiro.

Também para ele foi o poder físico de adversários profissionais que desequilibrou tanto a balança: «Não foi a Polónia que foi muito melhor do que nós, a verdade é que nós 'desligámos' no segundo tempo. Aguentámos bem na primeira parte e eles marcaram com sorte, pois houve ressalto. Depois, quando eles marcaram o 0-2 logo no início da segunda parte, baixámos a cabeça e admitimos que o mais normal seria sermos goleados. Temos de ganhar experiência, retirar do jogo o que tivemos de positivo, e corrigir os pontos negativos.»