Stadio delle Alpi, 29 de agosto de 1998.

Juventus-Lazio, minuto 90+4 da Supertaça de Itália.

Marcelo Salas recebe a bola sobre a esquerda, tabela com De la Peña e cruza para a zona de penálti. Roberto Mancini falha a receção e, em esforço, toca para a direita, onde surge Sérgio Conceição de rompante a rematar de primeira para fazer o 2-1.

Segue-se se a corrida desenfreada em direção aos adeptos. Os braços no ar com a camisola a tapar a cara. O beijo de raiva na camisola. Lágrimas do inicio de uma paixão. E os companheiros a envolverem ‘quel portohgese’ recém-chegado a Roma.

É difícil esquecer o início de uma história de amor. E a dos adeptos da Lazio por Sérgio Conceição, foi amor ao primeiro jogo.

No dia em que se estreou com a camisola azul celeste, o antigo extremo marcou, aos 90+4m, o golo que valeu à equipa romana a primeira Supertaça de Itália do seu historial.

Inolvidável.

Mais ainda se tivermos em conta que esse esteve longe de ser o único ponto alto daquela relação. Muito longe.

Nos dois anos da primeira passagem pela Lazio – Conceição voltaria durante meia época depois – o atual treinador conquistou quase metade dos títulos que tem no palmarés enquanto jogador profissional.

Cinco títulos. Em dois anos.

Supertaça de Itália. Liga Italiana. Taça de Itália. Taça das Taças. Supertaça Europeia.

Em dois anos.

Ou seja, Sérgio Conceição foi figura de destaque na era dourada da Lazio. E os adeptos do clube não se esquecem disso.

Nem o atual treinador do FC Porto, que nesta quinta-feira defronta um clube que, na conferência de imprensa de antevisão ao jogo com a equipa italiana, dos 16-avos de final da Liga Europa, assumiu ser especial para si.

Pudera. A camisola da Lazio foi aquela que Sérgio Conceição vestiu mais vezes durante a carreira de jogador profissional. Foram 103 jogos oficiais, mais 14 do que aqueles que fez ao serviço do FC Porto. Uma relação que várias vezes recorda.

«Foi o melhor ala direito da história da Lazio»

Stadio delle Alpi, 29 de agosto de 1998.

Na bancada em direção à qual Sérgio Conceição corre a celebrar, está em apoteose Augusto Sciscione, então com 20 anos, de mãos na cabeça e lágrimas nos olhos.

«A primeira vez que vi o Sérgio Conceição a jogar foi em Turim, em 1998, no jogo da Supertaça. Quando ele veio para a Lazio, eu não o conhecia. Nesse ano contratámos muito bons jogadores: o Vieri, O Mihajlovic, o Stankovic, o Marcelo Salas… Mas quando ele marcou aquele golo tão importante, no último minuto, começou uma relação de amor», recorda o agora jornalista, em conversa com o Maisfutebol.

«Lembro-me bem da forma como ele veio a correr em direção aos adeptos, tirou a camisola e estava a chorar. E eu, na bancada, a chorar também. Porque foi uma grande vitória no Delle Alpi, contra a Juventus que era a equipa mais forte de Itália. Foi o melhor começo possível para ele», acrescenta.

Sérgio Conceição foi apresentado na Lazio de Sven-Goran Eriksson no mesmo dia que Fernando Couto

Foi o amor à Lazio que fez Sciscione dedicar-se ao jornalismo. Ele que, como adepto, chegou meter-se num carro com amigos para fazer uma viagem de mais de 2.000 de Roma a Copenhaga – e mais 2.000 no regresso, claro – para ver um jogo do clube do coração na Liga dos Campeões.

E é ainda como um apaixonado do clube laziale que recorda como o clube se tornou numa das equipas mais temidas da Europa nos anos em que Conceição representou o clube.

«Naquela altura, a Lazio foi a melhor equipa do Mundo. Ganhámos o campeonato, A Taça das Taças e depois ganhámos a Supertaça Europeia ao Manchester United. Foi a melhor fase do clube», orgulha-se.

E nessa «melhor equipa do mundo», na opinião do jornalista italiano, Sérgio Conceição tinha um papel fundamental.

«Ele era um jogador rápido, muito tecnicista, que cruzava e defendia muito bem. Tínhamos uma equipa muito ofensiva, e o Sérgio Conceição, à direita, e o Nedved, à esquerda, davam muito equilíbrio à equipa porque atacavam e defendiam», elogia.

Aliás, a importância de Conceição era tal que Sciscione acredita que a saída do antigo extremo para o Parma depois de duas épocas na capital italiana impediu o clube de vencer mais títulos.

«No primeiro ano dele, a Lazio perdeu o título por um ponto para o Milan. Ele foi muito importante para ganharmos o campeonato no ano seguinte. E depois saiu para o Parma quando a Lazio contratou o Crespo, porque o Marcelo Salas não quis ir para Parma», detalha.

«Ficámos sem o ala direito e perdemos o campeonato para a Roma. Acredito que teríamos vencido novamente se ele tivesse ficado», revela, deixando um enorme elogio ao português.

«Eu não vi a Lazio que venceu o primeiro título italiano [em 1974], mas acho que ele foi melhor jogador que tivemos naquela posição. Não me lembro de um melhor do que ele», garante.

«Oooohhhh, meu amigo Conceição, Conceiçããããoo!»

O jornalista da Gold TV realça que as equipas daqueles anos do início do século serão sempre idolatradas pelos adeptos. Passem os anos que passarem. Estejam eles em que clube estiverem.

«Jogadores como Verón, Nesta, Almeyda, Stankovic, Simone Inzaghi, Paolo Negro, Pancaro, Mihajlovic, Simeone e Conceição fazem parte dessa história».

Por isso, daqui a duas semanas, quando Conceição regressar ao Olímpico de Roma, Augusto Sciscione antevê uma receção bem calorosa.

«Vai ser uma grande festa recebê-lo e os adeptos vão cantar a canção dele, de certeza», refere.

Sim, Sérgio Conceição tem direito a uma música cantada pelos adeptos da Lazio na altura em que jogava em Roma e que mostraram não ter esquecido quando, em 2008, então no PAOK, Conceição regressou ao Olímpico para um jogo particular.

«Oooohhhh, meu amigo Conceição, Conceiçããããoo!» é, portanto, algo que vai certamente ecoar nas bancadas do Olímpico.

«Ainda há dias o Mihajlovic voltou como treinador do Bolonha e foi assim. Ele foi cumprimentar os adeptos, que não se esquecem dele. E com Conceição vai ser igual», assegura.

«Era bom tê-lo na Lazio, mas o FC Porto é superior neste momento»

Nesta quarta-feira, aos 44 anos, Augusto Sciscione diz ter cumprido um desejo de anos. Ele que foi o único jornalista italiano presente na conferência de imprensa, conseguiu no final trocar umas palavras e tirar uma foto com o antigo ídolo.

«Foi um sonho para mim. Já tinha estado com ele antes, tínhamos tirado uma foto, mas nem tinha dado para falarmos. Agora foi diferente», explica, contextualizando.

«Eu ia ao estádio desde muito novo, aquelas épocas foram as melhores de sempre. São as memórias de uma criança que nem dormia por causa da Lazio. Por isso, estar com Sérgio Conceição era um sonho. E ainda tenho outro por cumprir, que é estar com o Simeone», confidencia.

Ora, e como seria para um adepto da Lazio ver regressar o filho pródigo, agora como treinador? Uma realidade que até já foi falada no último verão…

«Tê-lo como treinador, seria muito bom. Os adeptos da Lazio ficariam muito contentes por vê-lo regressar, mas acho que quando se falou disso, não passou de rumores. E, honestamente, considero que o FC Porto está acima da Lazio neste momento», nota, antes de deixar um rasgado elogio o técnico portista.

«Acho que neste momento já é um dos melhores treinadores da Europa. Tal como o Simeone, o Inzhagi… Talvez um dia possamos vê-lo voltar à Lazio», remata.

Para já, Sérgio Conceição e a Lazio vão ter de ‘dar um tempo’. Um tempo de pelo menos 180 minutos.

Será que depois a relação de amor pode voltar ao que era?