#TodoEsCulpaDeLayún

A frase ecoou no México anos a fio. Na hora das derrotas do América, o primeiro acusado era Layún. Sempre Layún. Culpado, irrevogavelmente, sem direito a defesa.

O estigma disseminou-se e chegou à seleção azteca. Miguel Layún foi vítima de bullying nas redes sociais e nas manchetes da comunicação social.

O tempo tudo curou. Layún contornou as críticas, tornou-se capitão do América e passou a ser um indiscutível nas escolhas da Tri.

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Voltou à Europa – após uma experiência traumatizante na Atalanta, em 2009 -, impôs a sua utilidade e polivalência no Watford, convenceu Julen Lopetegui a trazê-lo para o FC Porto. Por empréstimo, até junho de 2016.

O rendimento tem surpreendido. A lateral esquerdo, sim, mas também como defesa direito (Varzim e Sp. Braga) e até extremo direito (Chelsea).

Miguel Layún chegou ao FC Porto em cima do fecho do mercado mas, mesmo assim, já é o décimo atleta mais utilizado por Julen Lopetegui. Nove jogos oficiais, 640 minutos, regularidade absoluta em todas as funções, melhor jogador em campo contra o Sp. Braga, três assistências para golo.

Não admira que o FC Porto já pense em acionar a opção de compra junto do Watford, no valor de seis milhões de euros.

«O Miguel sabe que não é um craque, mas é um senhor na arte da disciplina»

Em Córdoba, México, a possibilidade já é conhecida. Don Miguel Layún, pai do jogador do FC Porto, olha «maravilhado» para a relação entre o filho e os dragões.

«A família junta-se toda para ver os jogos da Liga dos Campeões e do campeonato. Somos muito unidos, falamos todos os dias com o Miguel», diz ao MAISFUTEBOL o patriarca da família Layún, sempre num tom sereno e uma educação irrepreensível.
 

Layún numa visita à Disneylândia

«Continuar no FC Porto seria o melhor prémio para todos os sacrifícios que ele fez. O Miguel sabe que não é um craque, mas é um senhor na arte da disciplina, na ordem, na atitude. Está sempre de sorriso nos lábios, é um homem feliz».

Don Layún sublinha que Layún é «muito bem tratado no FC Porto», tem uma «ligação perfeita com Lopetegui» e que a polivalência pode ser facilmente explicada.

«Não existe nenhum segredo. O Miguel está sempre disposto a aprender, sempre esteve. Pode jogar em qualquer lugar, da defesa ao ataque, e faz tudo com alegria. Jogue onde jogar. A polivalência resume-se a isso: sentir privilégio em estar no relvado».

Nos piores dias o apoio chegou do… Líbano

São felizes os dias de Miguel Layún, a tempestade afastou-se, a bonança é o Porto. Nos piores anos, porém, o mexicano sofreu e foi buscar apoio a uma pequena aldeia no norte do Líbano.

Não há engano. O avô paterno de Layún, Youssef, é libanês e emigrou muito cedo para o México. Para trás deixou dezenas de familiares, todos em Beit Mellat, bem perto da fronteira com a Síria.

«O meu pai é de origem sírio-libanesa. Vivemos sempre debaixo dessa influência. Visitei a nossa aldeia há uns anos, mas o Miguel nunca lá foi».

No Mundial2014, por exemplo, centenas de pessoas juntavam-se na praça central de Beit Mellat para apoiar o México. Por culpa de Miguel Layún.

«Trago sempre essas pessoas no meu coração», disse o futebolista, em Fortaleza, após a derrota contra a Holanda nos oitavos de final.

O pai completa a ideia. «A nossa origem faz parte de nós. O Miguel não se esquece disso e segue as três regras primordiais da família: 1. não perde nunca os nossos valores; 2. não perde jamais a humildade; 3. não tira nunca os pés do solo».

E assim se escreve a redenção de Miguel Layún, como se fosse uma segunda vida. A azul e branco, no FC Porto, com a bênção familiar e a tradição sírio-libanesa.

#ACulpaJáNãoÉDeLayún