Conhecem-no pela abreviatura TNS, porém, o pentacampeão galês tem um nome bem mais pomposo e extenso: The New Saints of Oswestry Town & Llansantffraid Football Club.

Mais do que pelo nome a formação dos The New Saints está nas notícias pelos números impressionantes que conseguiu nesta temporada, a ponto de ter batido um recorde com 44 anos no futebol mundial, do Ajax de Johan Cruijff, como equipa do escalão principal do seu país com mais vitórias seguidas: 27.

A história curiosa levou o MAISFUTEBOL à procura deste clube que representa duas localidades, uma de cada lado da fronteira entre os territórios do País de Gales e de Inglaterra, até encontrar Mike Harris, 53 anos, presidente desde 2007 e um ilustre cidadão britânico que já viveu no Algarve – já lá vamos – que começa por dizer: «É uma honra bater um recorde do Ajax de Cruijff, que é um ídolo dos meus tempos de infância como George Best ou, nos dias de hoje, Cristiano Ronaldo.»

No último fim-de-semana de 2016, o campeão em título venceu em casa do Cefn Druids, na 21ª jornada da Premier League galesa (que só volta a jogar-se neste fim-de-semana), e alcançou o 27.º triunfo consecutivo em jogos oficiais, superando a marca de 26 vitórias seguidas do Ajax na época de 1971/72. A explicação para o grande momento é simples: um bom técnico, um grupo com valor e alguma sorte.  

«A equipa tem evoluído bastante nos últimos dois anos graças a um grande trabalho do nosso técnico Craig Harrison. Nesta época, já tivemos jogos equilibrados, mas mesmo nesses os jogadores têm encontrado as respostas para vencer. Cria-se uma dinâmica vencedora: uma vitória traz a outra… E os jogadores continuam motivados. Ambição é poder chegar um dia à fase de grupos da Liga dos Campeões», confessa o presidente, acrescentando que o objetivo não é fácil.

Presidente Mike Harris fala sobre o TNS:

Nesta época, o The New Saints até ultrapassou a primeira pré-eliminatória frente ao Tre Penne de São Marino, mas na segunda, depois de um nulo, acabou eliminado em Chipre pelo APOEL (3-0), ainda em julho, naquela que foi a última derrota do TNS, que de seguida venceu os 21 jogos já disputados esta temporada para a liga galesa, mais quatro da Taça de Gales e dois da Scottish Challenge Cup, prova para a qual foi convidado.

A diferença para os cipriotas era abissal, explica Mike Harris, repensando por momentos os objetivos do clube: «Nós temos um orçamento anual para salários a rondar os 60 mil euros, enquanto o APOEL tem um orçamento de 3,5 milhões… E isto é a diferença para o APOEL, que não é propriamente o Manchester United ou outras grandes equipas que poderíamos encontrar na Liga dos Campeões. Na verdade, chegar à terceira eliminatória da Liga dos Campeões e depois passar para a Liga Europa é um objetivo mais realista para nós.»

De facto, assim é, até porque o País de Gales ocupa o 51.º lugar no ranking da UEFA, o quinto a contar do fim.

Um clube com o pé em Gales e outro Inglaterra

Bem antes de andar nas bocas do mundo pelo recorde impressionante de vitórias consecutivas, o TNS já merecia atenção pela sua história curiosa.

Fundado em 1959 como Llansantffraid Football Club tornou-se no primeiro clube britânico a ter um sponsor no nome quando entre 1997 e 2006 em troca do apoio financeiro do seu patrocinador, uma empresa local de informática, assumiu a designação de Total Network Solutions.

O dono era Mike Harris, que vendeu a sua empresa à British Telecom em 2006, mas manteve a ligação ao clube, primeiro como diretor-desportivo e depois como presidente. A sigla manteve-se, porém, a desigação Total Network Solutions deu lugar a The New Saints, aproveitando a alcunha pela qual o clube já era conhecido.

Outra grande mudança ocorrera no clube quatro anos antes, quando em 2002, o TNS comprou o falido Oswestry Town FC, numa fusão que permitiu ao novo clube passar a jogar no estádio Park Hall, em território inglês, e a representar duas localidades, separadas por 13 quilómetros, uma de cada lado da fronteira: Llansantffraid-ym-Mechain, uma pequena vila galesa de 900 habitantes, e Oswestry, cidade de 15 mil habitantes.

Os golos da histórica vitória do TNS sobre o Cefn Druids:

«Em Oswestry a maioria da população sente-se inglesa. Em Llansantffraid são irredutivelmente galeses. As rivalidades fronteiriças dantes eram duras, mas agora tudo se resolve no campo de futebol. Os nossos rivais é que ao verem-nos ganhar sucessivamente dizem: “Vocês são um clube inglês. Não deviam de jogar no campeonato do País de Gales.” Mas no fundo fazemos o contrário do que fazem o Swansea ou o Cardiff na Premier League inglesa. A nível interno temos mais duas equipas que gastam praticamente o mesmo do que nós, mas que preferem contratar jogadores com mais pedigree que só jogam em part-time. Nós procuramos jovens jogadores dedicados a tempo inteiro ao futebol e que querem afirmar-se para serem vendidos e poderem construir a sua carreira. Essa é a grande diferença para a concorrência», afirma Mike Harris, que quase no fim da conversa nos revela a sua história curiosa com Portugal:

«Vivi no Algarve, perto de Faro, durante boa parte do ano entre 2008 e 2011. Ainda hoje lá volto todos os anos para passar férias, para jogar golfe e rever os meus amigos. Aliás, já fui ver alguns jogos de futebol no Estádio do Algarve. Há bons jogadores por aí. Quem sabe um dia o TNS não contrata um português?»