Principal alvo das investigações da CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Desportivas no Brasil, o empresário William Rogatto está foragido no Norte de Portugal e teme pela própria vida. Tem prisão preventiva decretada no país de origem, mas está disposto a colaborar para pagar pelos crimes que cometeu.
Em entrevista exclusiva ao Maisfutebol, o «Rei das Despromoções», como é conhecido no mundo da bola, revelou detalhes do esquema criado para lucrar mais de 50 milhões de euros e que, agora, trabalha sobretudo para em breve entregar-se às autoridades brasileiras.
«Percebi as brechas, criei um sistema [ilegal] e comecei a viver disso. Aproveitei-me disso. A ocasião faz o ladrão. Entrava nos clubes como investidor, dizia que pagava as contas e, então, conseguia ter o controlo da equipas e dos jogadores. Cometi meus erros [crimes], mas acredito fiz menos mal do que muita gente por aí. Sou o David perto do Golias, um grão de areia. Mas fui um grãozinho que entrou no sistema e ficou anos a ganhar dinheiro», explicou Rogatto.
«Tenho noção, sim, dos erros [crimes] que cometi. Quero pagar por isso e dar paz para os meus familiares. Nunca disse que não pagaria pelos meus erros. Antes, no entanto, quero estruturar a minha defesa e também a minha família. Quero entregar todas as provas, talvez conseguir uma "delação premiada", e, quem sabe, ter uma pena reduzida», completou.
Fora do Brasil há aproximadamente quatro anos, o empresário vai esta semana encontrar-se presencialmente com os responsáveis pela CPI das Apostas, entre eles ídolo brasileiro e ex-jogador Romário, atualmente no papel de Senador.
«Não quero mais ficar escondido, não quero mais ter medo. Você não acha que vão me querer calar o quanto antes? Estou nos holofotes. Já sofria com ameaças antes mesmo do início das investigações no Brasil. Tenho recebido ameaças [de morte]. Não vou passar impune. A única certeza que tenho na vida é a morte. Não quero meu filho sendo criado sem pai, mas... O sistema é poder, e o poder é dinheiro», contou.
«Quero recomeçar minha vida, mas, para isso, preciso estar limpo. Já estou, inclusive, a colaborar com as investigações. Como o dinheiro entrava, quem recebia o dinheiro, etc. Quero ter paz, quero viver e, sim, regressar para o Brasil», reforçou.
O nosso jornal sabe que William Rogatto está mesmo em Portugal, apesar de o próprio não admitir. Tentou, inclusive, comprar clubes em solo português.
«Quem diz que estou em Portugal... é porque acredita que estou em Portugal. Posso estar em Portugal, como posso não estar em Portugal. Entendeu? Não quero dar brechas para descobrirem minha localização», desconversou.
«Depois que fui embora do Brasil, tentei uma nova vida. Ajudar jovens jogadores e, inclusive, trazê-los para a Europa. Mas fui sendo barrado. Tentei comprar alguns clubes em Portugal. Entretanto, meu histórico no Brasil [condenação em 2020 por apostas ilegais] atrapalhou. Ninguém quis vender clube para mim. Queria desta vez fazer tudo certo, administrar um clube, vender jogadores, tudo de forma legal» lamentou.
Diferentemente do cenário visto hoje no Brasil, onde há diversas suspeitas e uma longa investigação contra apostas ilegais, a envolver supostamente até nomes de peso, como Lucas Paquetá (West Ham) e Luiz Henrique (Botafogo), William Rogatto não acredita que o mesmo seja praticado em Portugal.
«Tiro o chapéu para o futebol português. A Polícia Judiciária de Portugal é a melhor de todas. O futebol em Portugal é tratado com seriedade. Se existe algo ilegal com apostas em Portugal, está muito, muito bem escondido. E digo isto com propriedade, tenho experiência nisso. Não vejo brechas em Portugal», finalizou.