Em 1996 havia poucos avançados que pudessem rivalizar com Romário. Depois de uma passagem curta mas intensa pelo Barcelona e do título mundial pelo Brasil em 1994, o «Baixinho» tinha uma legião de fãs. Por essa altura, no dia de Natal de 1996, nascia Romário Baldé, na Guiné-Bissau.
 
«O meu pai gostava muito do avançado brasileiro. Seguia todos os jogos dele e era um verdadeiro ídolo», diz ao Maisfutebol o jogador cedido esta época pelo Benfica ao Tondela.
 
O goleador brasileiro nunca foi um ídolo para o avançado de 18 anos, até porque, diz, nunca o viu jogar. No entanto, na adolescência não evitou comparações. «No Benfica brincavam comigo e diziam que tinha de chutar mais de bico, como ele [risos]. Não senti qualquer problema devido ao nome, mas essa brincadeira foi acontecendo naturalmente.»


O pai de Romário Baldé era fã do «Baixinho». «No Benfica diziam-me que tinha de chutar mais de bico»
 
No campeonato português há vários jogadores com nomes de vedetas do futebol mundial estampados nas costas da camisola. Uns porque assim foram registados na certidão de nascimento em jeito de homenagem dos progenitores aos ídolos da bola, outros por associação ao estilo de jogo dos craques ou por semelhanças físicas.

Yazalde, avançado do Rio Ave, nasceu assim: Yazalde, como o atacante argentino que passou pelo Sporting na década de 70 e pulverizou o recorde de golos (46) numa só edição do campeonato. A marca, estabelecida em 1973/74, perdura até hoje. Não é esquecido por isso, mas também porque Yazalde Gomes Pinto transporta o peso e a honra do nome. Também aqui, a influência do progenitor foi fundamental.
 
«O meu pai [Jaime Graça] foi jogador e queria que eu também fosse futebolista. E queria meter-me o nome de um jogador. Se tinha de ser Yazalde? Já não me lembro quais, mas sei que ele tinha vários nomes em cima da mesa e que eram todos de avançados, que era a posição onde também queria que eu jogasse», conta ao Maisfutebol.
 
Há pouco mais de 20 anos, Gary Lineker, avançado inglês que dispensa apresentações, estava na reta final de uma carreira de sucesso. Com 34 anos, decidiu ir pendurar as botas para o Japão. Nesse ano, em 1994 e a alguns milhares de quilómetros do país do sol nascente, no Brasil, nascia Lynneeker Nakamuta, jogador do Marítimo com raízes nipónicas da parte da mãe. Mas foi o pai, brasileiro, quem decidiu que o filho teria nome de craque.
 
Bem, mais ou menos de craque: «O nome ficou assim porque o meu pai gosta muito de inventar», confessa bem-disposto sobre o progenitor, que jogou futebol nos escalões de formação do Atlético Paranaense. «Ele era muito fã do Lineker. Artilheiro, nunca tomou cartões vermelhos, e a minha mãe também não se opôs», acrescenta o extremo do Marítimo, que não se considera parecido ao antigo ponta-de-lança inglês. «Ele era mais fixo e eu sou mais móvel, mais explosivo.»

Lynneeker não é o único jogador do Marítimo com o nome de uma antiga vedeta do futebol. Há ainda um Romário e um Patrick Vieira. Neste último caso, pelo menos, tratou-se de uma coincidência, até porque quando nasceu (1991) o antigo médio francês ainda era um adolescente.

Espalhados pela Liga há ainda dois Cafús (V. Guimarães) e um Kaká, central do Tondela e mais velho do que o compatriota brasileiro que passou por clubes como o Milan e o Real Madrid.


 
Judilson, médio emprestado pelo Benfica ao Paços, é mais (unicamente, não?) conhecido por Pelé. Assim ficou porque era o típico miúdo que queria levar a bola para casa. «Foi nos tempos do Atlético do Cacém. Eu era avançado e só queria fintar. Os meus colegas lembraram-se de me começar a chamar Pelé e ficou até hoje. Gosto», disse recentemente em entrevista ao Maisfutebol.
 
E Ricardo José Vaz Alves Monteiro. Sabe quem é? Provavelmente não! Mas se lhe perguntarmos quem é Tarantini já deve haver aí um clique, não? Sim, é o capitão do Rio Ave, que ganhou a alcunha há mais de uma década quando jogava no Sp. Covilhã. «O meu treinador era o João Cavaleiro. Certo dia disse-me que eu era igualzinho a um tal de Alberto Tarantini», contou há uns anos o capitão do Rio Ave.
 
Ora, convém explicar a quem não sabe que Alberto Tarantini não foi um jogador qualquer. Era o defesa esquerdo da seleção da Argentina no Mundial de 1978, prova que foi ganha precisamente pela alviceleste.


Tarantini, capitão do Rio Ave, recebeu a alcunha nos tempos do Sp. Covilhã: «Até a minha esposa me chama Tarantini. Adoro», disse em tempos ao Maisfutebol
 
Se mergulharmos pelos escalões inferiores do futebol portugueses é possível constituir uma equipa com nomes de referências do futebol mundial para todas as posições. Só no antigo Campeonato Nacional de Seniores, agora rebaptizado com o nome de Campeonato de Portugal, há mais Romários, um Capello, um Peruzzi, um Ballack e um Rooney. Ah! E até um Messi, na AD Sanjoanense.
 
Não tão longe, na II Liga, há um Kaká no Mafra (as semelhanças físicas são impressionantes) e dois Platinis. Um deles, Higor Platiny, até é o melhor marcador da competição, com dez golos pelo Feirense.
 
E um Materazzi! Trinta anos, central como o italiano Marco, mas português e Daniel. A alcunha foi-lhe atribuída no último ano de juniores, no Salgueiros, pelos jogadores da equipa sénior. «Na altura tínhamos o cabelo comprido e éramos parecidos fisicamente. Começaram a chamar-me Materazzi», conta o defesa do Olhanense. A alcunha pegou mas só mais recentemente, no Tondela ou no Leixões (não se recorda ao certo onde), começou a ser gravada nas costas da camisola. «Perguntaram-me que nome queria e eu disse Daniel. Responderam que assim ninguém me conhecia e ficou Materazzi. Só a minha mulher, os meus pais e alguns familiares é que me tratam por Daniel.»
 
Quem costuma assistir aos jogos do Olhanense, diz que o Materazzi português até nem é parecido ao original no estilo de jogo: «Joga bem limpo», atestam. Ele confirma: «Eu distingo-me pela capacidade de leitura de jogo. Ele era mais por ser impetuoso e agressivo. Quem não me conhece, deve achar que só devo dar porrada [pudera!], mas não me identifico com ele», diz com boa disposição.
 
Na Madeira mora um tributo vivo não a um mas a dois antigos craques: Overath Breitner. Sim, o pai era mesmo «maluco» por futebol e, quando nasceu, em 1989, só podia ter nome de jogador. «Estava para ser Beckenbauer, mas achou que era demasiada responsabilidade», contou o médio venezuelano há pouco mais de um mês em conversa com o Maisfutebol.


O pai de Overath Breitner era fã da Alemanha campeão do mundo em 1974. Esteve para ser Beckenbauer...
 
O nome escolhido, com a bênção de quem lhe deu à luz, acabou por nascer de um exercício entre Wolfgang Overath e Paul Breitner, figuras importantíssimas na caminhada da República Federal Alemã rumo ao título mundial conquistado em 1974. «Acho-me mais parecido com o Breitner. No Mundial de 2014, o Breitner esteve em São Paulo. Chegaram a falhar-lhe de mim e ele ficou interessado em conhecer-me, mas na altura não foi possível», disse ainda ao nosso jornal o jogador do União da Madeira que tem um irmão chamado… Prosinecki.