«Sou capaz de ser o mais esquisito de todos». As palavras são do próprio José Cabeça para definir o seu trajeto no mundo do esqui. Afinal de contas, trata-se de um rapaz de 25 anos, natural de Évora, no interior do Alentejo, que vive na tórrida cidade do Dubai, e que começou a perceber, só há alguns meses, que tem hipóteses de representar Portugal nos Jogos Olímpicos de Inverno na China, em 2022. Ah, e tem, ao todo, «cerca de três meses de neve» e «não tem treinador, nem equipa».
«Não se pode dizer tenha uma prática muito grande, é uma grande desvantagem como é obvio», conta José Cabeça, entre risos, no arranque da conversa com o Maisfutebol. Quando falou connosco estava em Évora, a matar saudades da família e da comida, antes de voltar para o Dubai, onde vive, treina e trabalha, há sete meses.
No meio de tanta aleatoriedade e magia, ao mesmo tempo, há uma grande vantagem que este esquiador ‘em part-time’ tem em relação aos comuns mortais. É que desde os 17 anos que é triatleta, já participou em inúmeras provas de alto nível, e treina ao nível dos melhores. «O triatlo foi o que me deu a possibilidade de ter a condição física para crescer neste desporto de uma forma mais rápida. Aliado a isso, está a minha capacidade de trabalho, que é a de um atleta profissional», revela.
Sem mais demoras, vamos ao princípio da ligação de José Cabeça aos desportos de neve. «Foi quando assisti, com mais atenção e pela televisão, aos últimos Jogos Olímpicos de Inverno, em 2018. Reparei que a nossa comitiva era pequena, tínhamos apenas 2 atletas, achei que era uma boa oportunidade para tentar mudar isso».
Dois anos depois, o triatleta José começou a dar corpo e forma ao esquiador José. «Em janeiro de 2020, em França, é que comecei a prática na neve, com melhores condições. Antes, só treinava com os ‘roller skis’, uma espécie de patins, o que permitia treinar, mas só no alcatrão, a lógica era a mesma».
Ainda na lógica da cronologia, em apenas 13 meses, José passou de dar os primeiros passos na neve a fazer história no último Mundial de Esqui nórdico, na Alemanha.
«Sou o primeiro português de sempre a cumprir um critério imposto pela Federação Internacional de Esqui para conseguir a vaga olímpica». O que falta? José explica. «Faltam quatro provas para conseguir fechar a vaga e ter a certeza de que sou que irei aos Jogos. Mas a partir de agora é muito mais fácil agora porque o Mundial é o local mais difícil para adquirir pontos, já que competes com os melhores do mundo. Se nada de mal acontecer, com a pandemia, por exemplo, não vejo possibilidades de não conseguir a vaga».
Ou seja, o esquiador alentejano está quase a chegar aos Jogos Olímpicos de Inverno, na China, em 2022.
Por estes dias, José Cabeça está no Dubai, onde vive há sete meses, e trabalha como ‘personal trainer’. É dos treinos que dá que vem parte do sustento para ele próprio treinar triatlo e esqui, No Dubai, claro, o treino faz-se em pistas de neve artificiais. Mas quando chegar a preparação final para os Jogos…
«O objetivo é ir no mínimo dois meses antes dos Jogos para um país nórdico, como Noruega ou Suécia, para ter apoio de um treinador ou de uma equipa. Posso evoluir muito mais porque tudo o que fiz até agora foi sem treinador nenhum».
E esta frase parece-nos suficiente para fechar um capítulo de uma história “esquisita”, já dizia o José, mas exemplar. Muito exemplar.