«Há um filme que se chama 'Nunca é Tarde para Amar'. No caso do José Viterbo, diria que é mais nunca é tarde para chegar à cadeira de sonho».
 
As palavras são de Vítor Manuel, um dos treinadores com mais jogos no principal escalão do futebol português, atualmente ao serviço do Bravos de Maquis, do Girabola, o campeonato de Angola.

O experiente treinador, de 62 anos, possui uma relação de amizade muito forte com o atual técnico da Académica, responsável pela notável recuperação dos estudantes neste campeonato (10 pontos conquistados nas últimas quatro partidas). Conheceram-se quando este último estava nos juniores do clube e mesmo sem terem trabalhado juntos, partilham ideias de jogo e possuem uma identidade semelhante.
 
«Conheço-o bem, somos muito amigos e até temos ideias de jogo muito semelhantes. É um treinador que possui uma enorme empatia com os adeptos, é um homem da casa. Está, sem dúvida, a viver o momento mais alto da sua carreira», refere Vítor Manuel ao Maisfutebol, considerando ainda que Viterbo «tem contribuído de maneira decisiva para a recuperação da Académica no campeonato».
 
«Tem feito um trabalho exemplar, fantástico. É um homem extremamente sério e que fez um trabalho de recuperação moral dos jogadores muito meritório», acrescenta.
 

José Viterbo abraçado a Marinho
 
Apesar dos muitos elogios, Vítor Manuel considera que Viterbo «por vezes, ainda é demasiado humilde», algo que não vê necessariamente como um defeito: «Ele é um treinador que gosta mais de dar o mérito aos seus jogadores, o que é algo perfeitamente normal. Ainda assim, acho que não se deve esquecer dele próprio, porque tem uma responsabilidade enorme nestas últimas vitórias da Académica».
 
E agora, muitos levantam a questão: será que há condições para que Viterbo fique no banco da Briosa para lá do final da temporada? Vítor Manuel não hesita na resposta:

«Se eu mandasse, ele ficaria como treinador. O trabalho fala por ele, embora os responsáveis é que tenham de tomar uma decisão. Bem sei que no futebol tem de se ter os pés assentes na terra, pois se altera muito facilmente entre a euforia e a depressão. Mas, aconteça o que acontecer até ao fim da época, o Zé tem de continuar a fazer parte da estrutura profissional da Académica»
.
 
Um treinador bondoso e fã de umas boas sandes de leitão
 
Os antigos jogadores de José Viterbo também o recordam sempre com imenso carinho. O técnico foi fazendo parte de várias equipas técnicas das camadas jovens da Briosa ao longo dos últimos 25 anos, além de ter treinado emblemas da região Centro como o Fátima, Pampilhosa Sourense, Valonguense, Sanjoanense, Tocha e Eirense.

André Portulez, antigo médio, formado na Académica e com passagens pelos campeonatos da Hungria ou Malta, relembra com carinho e estima um homem para o qual só tem elogios.
 
«Defino o José Viterbo por três características: é um homem aglutinador, inteligente e apaixonado», refere o antigo jogador, que agora é empresário, depois de um final de carreira prematuro. «É alguém extraordinário. Por exemplo, se alguém ao lado dele estiver com frio, ele é capaz de tirar a camisola para dar a essa pessoa. O Vitas é uma pessoa bondosa, fantástica».
 
E aí nos deparamos com uma das alcunhas pela qual alguns dos seus antigos jogadores o conhecem, mais uma prova da relação próxima que Viterbo cultiva com os seus plantéis: «A maneira de ser dele faz com que as pessoas gostem da sua personalidade. É alguém que sabe estar e que sabe o que tem de fazer para ter sucesso».
 

Viterbo, ou «Vitas», no banco da Académica

Essa proximidade refletia-se até na maneira como ele se juntava aos jogadores para convívios depois dos treinos ou jogos…
 
«Quando jogávamos no Valonguense, parávamos todas as sextas-feiras na Mealhada para comer sandes de leitão. Éramos um grupo de sete ou oito jogadores e o Vitas juntava-se a nós porque gostava muito desse convívio e dessa união. Era alguém sempre bem-vindo no seio dos jogadores»
.
 
Portulez, que foi ainda treinado por José Viterbo no Tocha, conta que sempre viu o treinador atuar «da forma adequada»
, tendo em conta as vicissitudes do trabalho em divisões inferiores.
 
«Numa terceira divisão tudo é diferente. Há jogadores que falharam em escalões principais e que estão ali a tentar recuperar na carreira, há outros que trabalham e jogam… Ele conseguia perceber essa realidade e a forma de atuação sempre foi a mais correta»
, recorda André Portulez, lembrando ainda outras histórias curiosas, que refletem o rigor e a paixão pelo jogo de Viterbo.
 
«Lembro-me de estarmos no balneário antes de um jogo com o Cesarense e de ele ter trazido relatórios do adversário. Perguntámos logo: 'Oh mister, mas vamos jogar contra o Barcelona ou quê?'. Era sempre assim. No Valonguense, defrontámos o Ginásio Figueirense, que tinha um jogador que se chamava Faneca. Antes do jogo, falava dele como se já o conhecesse desde que nasceu»
, acrescenta, de forma humorada, o antigo pupilo de Viterbo, gabando o método de trabalho do timoneiro da Académica.

Até à cama vai buscar os jogadores

 
Também Vítor Vinha, lateral-esquerdo formado na Briosa e atualmente no Beira-Mar, foi treinado por Viterbo nos juniores e na equipa B da formação conimbricense. O jogador, de 28 anos, recorda um homem com «muita paixão pelo jogo e que consegue transmitir essa paixão aos seus jogadores»
.
 
«É alguém que sabe ser amigo e ao mesmo tempo exigente com os jogadores. Nós gostamos disso. A veracidade na paixão e a exigência para vencer»
, refere o antigo atleta de Académica ou Gil Vicente, relembrando um episódio curioso: «Uma vez chegou a ir buscar um jogador à cama, o Xano, para vir treinar»
.

Para quem não se recorda, Xano era um dos jogadores mais talentosos da Briosa no início do século, embora tivesse incorrido nalguns casos de indisciplina. Esteve, inclusivamente, preso
.
 
«O Viterbo acabou por treinar uma geração de jogadores nos juniores da Briosa e depois na equipa B que chegariam à equipa principal, entre os quais esse Xano, o Zé Castro ou o Nuno Piloto. Eu pertenço a outra geração mas ainda cheguei a ser chamado à equipa B»
, refere Vinha, recordando alguns dos nomes que Viterbo ajudou a lançar para a alta roda.
 
Tanto Portulez como Vinha concordam em como existe atualmente uma espécie de «efeito-Viterbo»
na Académica.
 
«A Académica precisava disto. Era importante mexer com as emoções. Não foi por acaso que o estádio esteve mais bem composto do que é costume no jogo com o Nacional»
, refere André Portulez, considerando Viterbo um «doente pela Académica, no bom sentido»
. O antigo pupilo aposta que «a vontade é tanta que ele nem sequer dá folgas a si mesmo, só aos jogadores»
.
 
Vítor Vinha afina pela mesma nota: «É um homem que ama a Académica. Conhece bem a cidade, conhece bem os adeptos e conhece melhor do que ninguém a mística do clube. Merece o momento que está a viver pois já deu muito à Académica»
. Uma definição perfeita do que é um homem na sua «cadeira de sonho»