Re-mon-ta-da

(‘remontada’, em espanhol), substantivo feminino

Definição: recuperação de um estado ou resultado desfavorável, em geral relacionado com um evento desportivo. Reviravolta. Virada.

O FC Porto nem precisa de consultar o dicionário para saber o que tem de fazer esta noite, a partir das 20 horas [21h locais], quando subir ao relvado do Sánchez-Pizjuán, agora casa do milionário Chelsea, que tem vantagem por 2-0 nos quartos-de-final da Liga dos Campeões.

Na bagagem os dragões trazem um resultado muito injusto, considera Sid Lowe, reconhecido jornalista inglês radicado em Espanha, que está em Sevilha para cobrir a eliminatória para o jornal britânico Guardian.

«O jogo da semana passada surpreendeu-me muito. Não esperava tanto do FC Porto, que jogou muito bem, tendo faltado apenas lucidez nos últimos metros para finalizar. O Chelsea teve muita sorte. É muito exagerado sair do primeiro jogo com um 2-0. O resultado justo seria um empate a um golo ou até uma vitória do FC Porto. Agora, sinceramente, vejo muito poucas possibilidades para ‘remontar’», afirma ao Maisfutebol o também colunista e autor – com quase meio milhão de seguidores no Twitter –, que destaca o cada vez mais difícil papel de «outsiders» como o FC Porto nas fases adiantadas da Champions.

«Estamos num rumo em que equipas como o FC Porto ou o Ajax têm obstáculos cada vez maiores para estarem presentes nestas fases. A avareza das equipas grandes, a mentalidade de Juventus, Real Madrid, Manchester City vai causar um dano terrível ao futebol. A história não conta para nada, a massa social não conta para nada, a integridade da competição não conta para nada. Só conta o dinheiro», lamenta Sid Lowe, prosseguindo a sua reflexão: «É um caminho muito triste. Com uma Superliga ou uma “Champions” remodelada será pior. A questão é que estão a proteger os grandes e não o futebol em si. Quando pensas nos dois títulos de campeão da Europa ganhos pelo FC Porto, no Estrela Vermelha, no Ajax, nas equipas escocesas, em clubes de países com uma tradição muito rica, muito importantes para a construção da história e da cultura do futebol e vês que estão a deixá-los fora, é uma pena.»

Toni Martínez, Sérgio Oliveira e Taremi em destaque na imprensa

Por agora, o FC Porto aproveita o pé que ainda tem dentro da Champions para desfilar entre os gigantes do futebol europeu.

Da parte da manhã, os 29 jogadores que integram a comitiva portista deram um passeio pelas imediações do hotel na ilha da Cartuja [ver vídeo], ao contrário do que aconteceu há uma semana.

Junto ao estádio, estiveram técnicos de equipamentos e responsáveis pela logística do clube a prepararem o jogo de mais logo.

Num dos bancos às portas do Sánchez Pizjuán concentravam-se uma dúzia de reformados indefetíveis adeptos sevilhistas. Debatiam a «remontada» impressionante do Sevilha diante do Celta na véspera, 4-3 em Vigo.

É a autodenominada «Peña de las Escaleras», um grupo de sócios que ganhou essa alcunha por, antes da era da cidade desportiva, se sentar nas escadas de acesso ao estádio à espera dos jogadores na porta 5 a cada treino, numa espécie de tribunal do Sevilha FC.

«Nós somos exigentes, aqueles [os do Betis, diz, enquanto aponta para sul] são mais conformistas. Somos da mesma cidade, mas temos formas distintas de pensar.»

Falando em «remontadas», e o FC Porto? «2-0? Não é fácil virar esse resultado. O Chelsea é uma grande equipa e a velocidade dos ingleses no jogo é muito complicada de travar», afirma Antonio Rodríguez.

Nas bancas, o As faz menção ao regresso de Sérgio Oliveira e Taremi, enquanto a Marca destaca o papel do espanhol Toni Martínez, que marcou nos últimos dois jogos, e tem inclusive uma chamada à primeira página, titulando: «O FC Porto necessita de um milagre.»

Que assim seja. Até porque Sevilha – famosa pela sua Semana Santa – tem mais de uma centena de igrejas. Não falta onde rezar.

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ONZES PROVÁVEIS:

Estádio Sánchez Pizjuán, Sevilha, 20 horas.

Árbitro: Clément Turpin (França).

Chelsea: Mendy; Azplilicueta, Thiago Silva e Rudiger; Reece James, Kovacic, Kanté e Chilwell; Mount, Havertz e Werner.

FC Porto: Marchesín; Manafá, Pepe, Mbemba e Zaidu; Corona, Sérgio Oliveira, Uribe e Otávio; Marega e Taremi.