Um bom gigante nas redes do FC Porto. 20 anos e 21 dias para atingir o sonho da estreia no Campeonato Nacional. Mais jovens do que Diogo Costa a cumprirem este desígnio na história do dragão? Só Vítor Baía e, antes, Rui Teixeira. Grupo de elite.

Diogo Costa faz 90 minutos no Bessa e sai com a folha imaculada. Um dérbi em forma de promessa cumprida, consequência de uma promoção contínua nos nove anos de ligação ao FC Porto.

Este não é o primeiro jogo de Diogo pela equipa A – tem um jogo na Taça de Portugal (Coimbrões) e um na Taça da Liga (Santa Clara) -, mas assinala, porventura, a prova definitiva de maioridade e maturidade. Diogo fica bem na baliza azul e branca. Dizemos nós e confirmam os números: 270 minutos e nem um golo sofrido.

E tanto mudou na vida de Diogo. Dos dias em Rothrist, a pequena vila da Suíça com sete mil habitantes onde nasceu, até à mudança para a Vila das Aves e aos primeiros pontapés no futebol federado.

«O Diogo começou a jogar no AMCH Ringe, um clube muito pequeno aqui da Vila das Aves, onde jogou também o Vítor Ferreira, que também conheço bem. Depois saiu de lá para a Academia do Benfica, da Vila do Prado, e só depois para o FC Porto.»

Benfica? Sim, não há engano. É nesta coletividade ligada ao rival da Luz que Diogo começa a jogar aos nove anos, refere Vítor Mota, primo e também guarda-redes. É no Prado, explica, que treina e joga a equipa da Casa do Benfica de Póvoa de Lanhoso.

Diogo (à esquerda) com o primo Vítor, outro guarda-redes

Duas temporadas depois, em 2011, a mudança para o FC Porto, sempre pela mão da mãe, Armanda Meireles. «Ele sempre foi muito portista e nem hesitou», continua Vítor Mota, apenas um ano mais velho do que Diogo e guardião no Bairro FC, da AF Braga.

«Apanhei o Diogo no terceiro ano dele no clube», conta Bino, um dos treinadores que melhor conhece o futebolista, ao Maisfutebol.

«Ele estava numa fase de transição. Ainda ia muitas vezes a casa, à Vila das Aves, mas já ficava também alguns dias a dormir no Lar do Dragão. Era muito acompanhado pela mãe, lembro-me disso, até porque o pai vivia no estrangeiro.»

Francisco da Costa continua emigrado na Suíça. O Maisfutebol contacta os pais de Diogo Costa, mas ambos recusam participar na reportagem sobre a carreira do filho.

Diogo Costa nos iniciados do FC Porto (João Félix era o capitão)

«O Diogo era menos precipitado do que os outros na baliza»

Campeão da Europa de sub-17, campeão da Europa de sub-19, vencedor da UEFA Youth League em 2019, campeão nacional de sub-19 em 2016, 54 internacionalizações pelas seleções jovens de Portugal. Não há como enganar: são 187 centímetros de certezas.

Bino, ex-treinador, confirma estarmos perante «um jogador especial». «Tivemos desde o primeiro momento a certeza de que o Diogo era um atleta fadado para a alta competição. Estava acima dos outros, nomeadamente por ser menos precipitado e apresentar uma serenidade surpreendente num menino de 13 anos.»

Diogo nos primeiros tempos do FC Porto

O técnico e comentador insiste no principal traço de Diogo: estabilidade. «Era um adolescente pacato e que sabia ouvir, já com um talento e um dom acima da média para a função de guarda-redes», recorda Bino.

Diogo percorre com raro sucesso o caminho da afirmação: infantis, iniciados, juvenis, juniores, equipa B, equipa A. «Sempre jogou com regularidade e isso é outro dado a ter em conta», aponta Bino.

«Não há segredos. O Diogo sempre apresentou um instinto ótimo nos lances de um para um com os avançados e um timing acertadíssimo nas saídas aos cruzamentos. Habituou-se a jogar com defesas em bloco subido e também ganhou rapidamente a capacidade de ler e adivinhar os momentos em que devia ou não sair da área.»

Elogios, elogios, elogios, tudo a apontar de forma previsível para esta chegada a número um. Bino é um dos menos surpreendidos, até por possuir um conhecimento total sobre o atleta.

«Defeitos? Quando o conheci era um pouco lento na tomada de decisão, mas isso foi sendo corrigido e o Diogo, aliás, sempre encontrou forma de esconder esse pequeno defeito.»

«A chegada do Diogo à titularidade até peca por tardia»

Depressa e bem. Aos 16 anos, Diogo Costa é chamado aos treinos da equipa principal do FC Porto por José Peseiro. Um mês antes, também em 2016, junta-se aos trabalhos da Seleção Nacional de sub-21. Um talento precoce, sempre.

Em maio de 2016 é campeão da Europa de sub-17 e está 432 minutos sem sofrer golos. Atento, o FC Porto amplia o seu contrato logo a seguir até 2019 – atualmente tem vínculo até junho de 2022 no Dragão.

Em setembro de 2018, é o atleta eleito para receber o Dragão de Ouro para Atleta Revelação. Uma recompensa justa, poucos meses depois de falhar por lesão a final do Europeu de sub-19.

Crescimento sustentado, lições diárias aprendidas ao lado de Iker Casillas. Fundamentais. Por falar na lenda espanhola, é também por sua responsabilidade indirecta que Diogo Costa se aproxima mais das opções de Sérgio Conceição, lembra Bino.

«Esta chegada do Diogo Costa à baliza até é tardia, no meu ponto de vista. Eu não trabalho com ele diariamente, mas quando o Casillas teve o problema cardíaco, em maio, o Diogo já demonstrava capacidade suficiente para jogar regularmente. Uma capacidade fora do normal.»

Na altura, Conceição opta por Vaná e Diogo tem de esperar mais uns meses. Não fosse a lesão num dedo em cima dos jogos contra o Krasnodar, e a chegada convincente de Agustín Marchesín na mesma altura, Diogo Costa até já podia ter muitos mais jogos na equipa A do FC Porto.

Diogo Costa num Mundialito no Algarve com o AMCH Ringe

«O Diogo está preparadíssimo para ser titular do FC Porto»

Aqui chegados, outra questão se levanta. O que fará Sérgio Conceição nos próximos jogos do FC Porto? Premeia Diogo Costa pela resposta afirmativa dada no Bessa ou recupera Marchesín, apesar do processo disciplinar em que está envolvido?

«Bem, a verdade é que o aparecimento bom do Marchesín bloqueou a afirmação do Diogo em agosto. Agora… cada caso é um caso. Cada treinador tem a sua forma de lidar com estas questões. Alguns aplicam uma multa e nada mais, outros levam a punição um pouco mais longe», diz Bino, antes de deixar uma certeza.

«O que posso dizer é que o Diogo Costa está preparadíssimo para ser titular do FC Porto.»

«O meu primo sempre disse que queria ser como o Vítor Baía»

Diogo e Vítor, primos e inseparáveis. Nas ruas da Vila das Aves a bola foi desde os primeiros tempos a companheira inseparável. E há muitas memórias boas, ainda que dolorosas.

«Somos os dois de Vila das Aves. Eu sou mais velho um ano, mas crescemos sempre juntos. O Diogo veio da Suíça muito cedo e estávamos todos os dias juntos, sempre a jogar à bola na praça principal da Vila», conta Vítor Mota, recuando até 2009/2010.

«Lembro-me de uma vez em minha casa estarmos a jogar aos remates. Tínhamos dez ou 11 anos. Ele chutou a bola com tanta força que me deixou a chorar. Sempre fomos muito chegados e mesmo agora, em festas de família, ficamos sempre juntos. Ele é um bom gigante.»

Diogo com a mãe no dia da comunhão

Diogo e Vítor eram portistas e tinham como ídolo um nome obrigatório: Vítor Baía. «Desde que foi para o Porto, o Diogo sempre me disse que queria ser como o Baía para conseguir chegar à equipa principal. Está a consegui-lo», conta Vítor Mota, o segundo guarda-redes mais famoso da família.

«O Diogo sempre foi muito divertido, mas era mais sossegado do que eu. Eu fazia as asneiras maiores. Agora jogo num clube da distrital e trabalho numa fábrica. Além disso ainda treino as camadas jovens do São Martinho. Profissional? Tenho essa ambição, mas parei dois anos por culpa de uma lesão e isso tornou mais difícil esse sonho.»

Diogo passou do pequeno Ringe para a equipa de uma Casa do Benfica e depois para o seu FC Porto.

Vítor só coincidiu no início, com o Ringe. Depois jogou no Tirsense, no Aves, no São Martinho e, agora, no Bairro FC.

O mesmo ADN, a mesma paixão pelas luvas, universos distintos nos meninos de Vila das Aves.

FOTOS: facebook e arquivo familiar