Noventa e quatro dias.

Fora esse o tempo passado desde o último jogo do Benfica no Estádio da Luz.

No entretanto, o mundo viveu um confinamento quase total durante dois meses. Dois meses de emoções contidas e com incerteza a preencher a linha do horizonte.

O mais natural seria, portanto, haver adrenalina à flor da pele nos adeptos encarnados. Ainda para mais, depois de o FC Porto ter perdido na véspera, deixando a liderança à distância de uma vitória para as águias.

Contudo, nas imediações do Estádio da Luz a cerca de uma hora e meia do apito inicial do Benfica-Tondela imperava o silêncio. Um estranho silêncio para dia de jogo.

Vermelho, só mesmo os semáforos da Avenida Lusíada. Sinais de um tempo estranho. De um desconfinamento que não incluiu as emoções futebolísticas. Essas terão de continuar encerradas dentro das casas.

Mas isso pode também ser uma boa notícia. Que o diga a PSP de Lisboa que teve um anormalmente calmo dia de jogo no Estádio da Luz. Uma tranquilidade acompanhada pelo Maisfutebol no terreno.

Um fogacho de agitação… que não chegou a incendiar os ânimos

A presença da PSP no terreno para este jogo começou na véspera da partida e fez-se sob a forma de sensibilização dirigida, sobretudo, aos espaços comerciais situados nas imediações dos estádios da Luz e de Alvalade – não esquecer que o Sporting também jogava, ainda que em Guimarães.

O objetivo era claro: tentar assegurar que todas as medidas de prevenção ditadas pela Direção Geral de Saúde seriam cumpridas nos estabelecimentos que iriam transmitir o regresso da competição para os dois rivais da Segunda Circular.

Com o aproximar da hora do jogo do Benfica, contudo, as atenções estavam naturalmente centradas junto ao Estádio da Luz. Era lá que se concentravam os cerca de 40 operacionais da PSP destacados para a partida.

E o momento de maior tensão foi aquele que já se esperava: a chegada do autocarro do Benfica ao estádio.

Cerca de uma centena de adeptos esperava a comitiva encarnada numa posição superior junto à rotunda Cosme Damião. E no momento da passagem do autocarro, com a ânsia de mostrar apoio, muitos ‘esqueceram-se’ das recomendações sobre o distanciamento em tempos de pandemia.

A situação obrigou a PSP a intervir, alguns adeptos não gostaram da forma como essa intervenção foi feita e os ânimos exaltaram-se, mas tão depressa quanto ferveram… logo baixaram fervura.

Ainda assim, a tensão resultou na identificação de cinco adeptos – aos quais se juntaria um outro que tentou bloquear a passagem do autocarro encarnado para mostrar uma faixa de apoio.

Sensibilização surtiu efeito

Com o início da partida as atenções dos elementos da PSP dispersaram-se. Mais do que o exterior do estádio, onde não ficaram mais do que umas dezenas de adeptos, era importante perceber como estavam a comportar-se as pessoas nos cafés que transmitiam o jogo.

Mas também aí não houve muito trabalho a fazer.

Um. Dois. Três. Quatro. Fiscalizados os estabelecimentos mais próximos do Estádio da Luz, tudo em ordem. Mesas espaçadas nas esplanadas, medidas de segurança individual cumpridas e um fim de tarde santo para a PSP.

Ainda assim, uma chamada a alertar para uma «enchente» na zona de Telheiras, levou a equipa de fiscalização a ir verificar.

Chegados ao local, confirmava-se a informação. Talvez duas centenas de pessoas espalhavam-se pelas esplanadas do Jardim de Telheiras. Ainda assim, e verificados todos os estabelecimentos, um por um, o veredito foi o igual a tudo o que acontecera antes: «tudo conforme».

O balanço da operação não podia, então, ser distinto do que nos foi feito pelo Comissário Soares, que comandou os homens no terreno.

«É um balanço muito positivo. Tirando o pequeno atrito que se registou aquando da chegada do autocarro, tudo correu de forma positiva», resumiu.

O ponto negativo da noite aconteceria, porém, mais tarde. Quando o autocarro do Benfica se dirigia ao Seixal e foi atacado na autoestrada, através do arremesso de pedras que deixaram feridos Weigl e Zivkovic.