«Barça, Barça, Baaarça.»

Superada a azáfama, subimos as escadas ao ritmo do hino do FC Barcelona. É preciso pedirmos ajuda para encontrar o nosso lugar.

Ah! Ali está, entre dois casais: fila 21, lugar 17. Bem entre os culés e longe rigidez da zona de imprensa.

Acaba o Cant del Barça e ouvem-se aplausos e gritos de incentivo. A bola começa a rolar e a lógica e a razão perdem-se algures.

É amor e paixão, e um turbilhão de sentimentos.

«WOOOW!!» Griezmann dispara de fora da área ao lado. 

«Hóstia! Que estás a fazer De Joooong (diz o J de forma vincada)», refilam ao nosso lado esquerdo. O holandês podia ter rematado, mas preferiu a assistência e perdeu-se uma boa oportunidade.

Só passaram sete minutos, portanto, o entusiasmo inicial mantém-se.

«WOOOOOW!» seguido de aplausos. O toque de calcanhar de Rafinha foi excelente, mas Bartra desfez o lance para desalento das bancadas.

«Vamos Griezmann!!! Mejor, mejor, mejor!», pede um jovem adepto com a mão na testa na fila da frente.

15 minutos.

Marca Fékir para o Betis. A bancada divide-se: há assobios, impropérios e aplausos. Timidamente há quem grite «Barça, Barça» enquanto outros levantam-se e gesticulam.

Cada um gosta à sua maneira, não é? É universal, está visto.

Os culés contagiam-se e as bancadas unem-se. Grita-se a uma só voz. Não há quem desafine ou falhe o tempo das palmas.

Palavrões outra vez. Era só um pontapé de canto que o árbitro transformou em pontapé de baliza, mas parecia um golo anulado.

«A tocar, a tocar como sabemos», pede certamente o culé mais velho da fila. Certamente admirador de Rinus Michels, Cruyff e Guardiola.

WOWWW! Por pouco o 0-2. O ambiente torna-se tenso e Camp Nou explode de seguida quando Piqué vê amarelo. Palhaço foi o nome mais simpático quem chamaram à equipa de arbitragem.

GOL… WOW!!! Sidnei desvia o remate de Rafinha. «Hostia! Temos que marcar», diz uma senhora simpática ao marido à nossa frente.

«MADRE MÍA!!! Não é possível!», queixam-se alguns, enquanto outros abanam a cabeça em sinal de negação, após o falhanço de Rafinha.

«GOOOOOOOOOOOOL!» Griezmann empata e ninguém se senta! Os ecrãs gigantes de Camp Nou mostram a repetição do remate do francês e grita-se uma vez mais. «Grizou, Grizou» cantam dois meninos com chapéus do Barcelona na ponta esquerda da fila enquanto saltam e se agarram um ao outro.

Perto do lugar, eis que surge um adepto incrédulo. Talvez o balde de pipocas e o refrigerante expliquem onde estava quando Griezmann marcou o primeiro golo oficial pelo novo clube.

Esperemos, pelo menos, que a refeição tenha valido a pena.

Lá se consegue ouvir o soar do apito para o intervalo.

«Anda canterano, anda canterano!», pede um senhor mais velho com um farta cabeleira e um bigode farfalhudo à direita. 

«GOOOOOOOOOOL!» delírio completo! Griezmann bisa e Camp Nou aplaude como nunca em 50 minutos. Remontanda do Barcelona. O francês lança confettis sobre si próprio e festeja-se como da primeira vez.

Arrepiante!

«Caramba, canterano!», queixa-se o senhor mais velho à esquerda. A sua esposa não se deixa ficar e diz-lhe que o seu nome é Carlos Pérez. «Hostia, mulher!», faz questão de retorquir.

Logo a seguir Pérez marca. «GOOOOLLLLL!», ouve-se em uníssono. Não há quem festeje mais que a esposa que ensinou ao marido o nome do extremo blaugrana.

O ambiente torna-se, por fim, festivo e elogios aparecem.

«Que pinta tem este miúdo», comenta um adepto para o outro na fila imediatamente acima em relação a De Jong.
 


Antes de Busquets dar o 4-1 a Alba e provocar nova explosão de alegria, uma jovem grita por Piqué. «Cuidadoooo!», exclama. O espanhol evita o roubo de Loren e sai a jogar.

 Logo de seguida, Busquets retira-se e ouve-se um dos maiores aplausos da noite.

«O monstro Vidal! Aí está!!!!», diz o homem de boné e cachecol em baixo (estavam 27 graus à hora do jogo), o mais moderado da bancada até ver. 

«GOOOOOOOOOOOOOOOOL!!!!» Vidal marca e o adepto perde o ar sisudo. Um sorriso desenha-se no seu rosto. «O monstro, Vidal!» exulta para todos o ouvirem.

Entra Anssumane Fati. Camp Nou acarinha o mais recente produto de La Masía. «Dezasseis anos! Dezasseis anos!», repete o tipo do bigode farfalhudo sempre que o jovem toca na bola.

«Semedo… Semedo… Semedo!! Wow!!» vão gritando à medida que o português corre com a bola até ao momento em que «deita» um adversário.

Entre músicas pró-independência, há quem não desligue do jogo e peça à equipa que jogue a um toque. De Jong, Griezmann, Sergi Roberto fazem-lhe a vontade.

O eterno Joaquín é ovacionado e tem o merecido reconhecimento de quem nos rodeia. Por sua vez,  Lovren deixa Camp Nou de boca aberta. «Que golaço!», comentavam atrás de nós.

«Deixa os cartões no bolso!», grita ironicamente 

O apito final chega, mas o silêncio nem por isso.

«Tot el camp, és un clam

som la gent blaugrana,

Tant se val d'on venim

si del sud o del nord

ara estem d'acord, ara estem d'acord,

una bandera ens agermana.

Blaugrana al vent, un crit valent

tenim un nom, el sap tothom:

Barça , Barça, Baaarça.!»

O som ecoa para o exterior à medida que descemos os vários lanços de escada até sermos engolidos pela multidão e pelo barulho de uma grande cidade: buzinas e sirenes.