A notícia chegou-nos pela boca de um jornalista norte-americano: «Há um antigo jogador do FC Porto que está a fazer um trabalho notável numa academia de soccer na Pensilvânia.»

Um antigo jogador do FC Porto? «Chama-se Samir Badr.» Samir Badr foi jogador do FC Porto de 2009 a 2012. Defendeu a baliza dos sub19 dos dragões e treinou regularmente às ordens de Jesualdo Ferreira e André Villas-Boas, sendo a quarta opção para a baliza. A história até começou com o Sporting, em Alcochete, mas Samir apaixonou-se pela Invicta.

Samir tem apenas 29 anos, mas deixou de jogar em 2016. Do FC Porto saiu para o Egito, onde tem raízes familiares, e daí voltou aos Estados Unidos. Esteve na MLS com os Philadelphia Union e depois em equipas menores na ULS.

É com surpresa que Samir Badr responde ao nosso contacto. O antigo dragão tem uma academia de futebol em Bucks County, a 45 minutos de Filadélfia, e trabalha com 1500 jovens. Ao Maisfutebol, Samir explica que está a aplicar tudo o que aprendeu no FC Porto.

«Na parte final da minha carreira já treinava alguns miúdos. Falei com alguns pais e propus-lhe isso. A minha carreira na MLS não foi brilhante e quis reformar-me cedo. Ganhei gosto pelo treino ainda no FC Porto, com o Patrick Greveraars e o Pepijn Linders. Além do Will Coort, claro», diz Samir, referindo-se a três treinadores holandeses que consigo coincidiram no FC Porto.

«Eu era um puto americano de 16 anos e esses tipos mudaram tudo em mim, incluindo a mentalidade. Fui muito influenciado pelo balneário do FC Porto. O Nuno Espírito Santo, o Guarin, o Falcao, todos eles eram máquinas de trabalho. O clube tinha um background riquíssimo em valores e em história. Isso não existe nos clubes dos EUA e é isso que estou a tentar passar aos meus alunos. Comecei com cinco ou seis e já são 1500», reforça Samir Badr.

«Sempre que tenho dúvidas, ainda falo com o Patrick e o Pepijn. Procuro ter na minha academia o tipo de treino que aprendi no FC Porto. Mesmo o tipo de futebol é semelhante. Dos miúdos de oito anos até aos mais velhos. Estou realizado e a cumprir um sonho.»

A mentalidade nos Estados Unidos nada tem a ver com a europeia. Samir Badr lembra que as crianças crescem a ver, sobretudo, basquetebol, basebol e futebol americano, embora o soccer tenha ganho «muito terreno» nos últimos 20 anos.

«As coisas têm evoluído muito. Nas infraestruturas, no interesse, até no talento. Isso deve-se muito à entrada da Liga dos Campeões, dos Europeus e dos Mundiais no mercado televisivo norte-americano», concretiza Samir Badr que, porém, luta ainda contra a falta de cultura futebolística em grandes partes do país.

«Fico assustado com o que ouço. Há muitos colegas meus, treinadores de jovens, que não sabem quem é o Xavi e o Iniesta. Não percebem o jogo. Eu quero ensinar o jogo aos meus alunos, não quero ensinar-lhes truques. Estou a prepará-los para serem profissionais, se é isso que eles querem.»

Para conhecerem melhor o projeto de Samir Badr, basta pesquisar pela SB Soccer Academy. Um norte-americano decidido a ser mais feliz como treinador do que foi como guarda-redes.