Por Leonor Gonçalves

Raquel Magalhães é portuguesa e Abdelkader Belkerma é marroquino. Conheceram-se em Marrocos e estão casados há 13 anos. Nesta quarta-feira o casal vai ter o coração dividido, com o jogo do Mundial entre Portugal e Marrocos, países que ambos consideram como a sua casa.

O casal escolheu o Porto para viver e criou dois espaços onde as culturas se unem. Em 2005 abriram o Sahara, bar marroquino, situado na ribeira, e mais tarde, em 2009, o Porto Riad Guest House. Quando pensaram em abrir os dois estabelecimentos, as influências marroquinas do marido foram essenciais.

«Pretendíamos que quem viesse descobrisse a cidade do Porto com toda a magia de um espaço ligado ao oriente», explica Raquel Magalhães ao Maisfutebol.

Mas porquê Porto Riad? Raquel explica que «Riad» é um tipo de construção típica de Marrocos, «casas no centro das almedinas que têm um pátio interior». E era isso que queriam, construir uma «casa no centro da cidade». E a palavra Porto, claro, para ligar os dois países.

Do lado de fora o Porto Riad tem uma construção típica portuense, mas quando se entra é possível observar toda a cultura marroquina presente nos móveis, na tapeçaria, na decoração e nos famosos cachimbos de água. A grande maioria do mobiliário de decoração veio diretamente de Marrocos.

Raquel olha para a alimentação marroquina como um dos aspectos mais interessantes do país, pois «é tudo muito natural». Sublinha os tajines de carne, peixe ou legumes, feitos no barro, e o cuscuz, prato típico da sexta-feira, dia sagrado. A grande diferença na alimentação são os condimentos que dão sabor à comida, sem precisar de sal.

Embora gostasse de saber o idioma, Raquel ainda não o domina. Conhece apenas o básico como "olá" (salaam aleikum) ou "obrigado" (shukran). A empresária portuguesa adotou alguns costumes marroquinos como a utilização de condimentos na comida, o chá marroquino e o cachimbo de água.

O marido, natural de Sidi Slimane, uma pequena cidade perto de Rabat, tenta passar tradições aos filhos, apesar de também já se ter adaptado à cultura portuguesa.

Questionada sobre o duelo entre Portugal e Marrocos, esta quarta-feira, Raquel reconhece estar dividida.

«Portugal é Portugal. Se soubesse que se perdêssemos passávamos na mesma, ia torcer por Marrocos. Assim estou dividida e para o meu marido é igual», afirma Raquel.

A portuguesa acrescenta ainda que em Marrocos «vive-se muito o futebol». «Estava lá quando foram apurados para o Mundial e nunca vi nada assim na minha vida. E, ao contrário do que se pensa, conhecem muitos jogadores portugueses. O Cristiano Ronaldo aparece em muitas publicidades de companhias de telefone e de eletricidade», disse.

O casal olha para Portugal e Marrocos como casas, até por viajar frequentemente entre os dois países. Em visita ao Sahara, o bar marroquino do casal, o Maisfutebol esteve à conversa com o também marroquino Abdelhamid Raji, empregado e amigo de Abdelkader Belkerma. Na Invicta desde 2007, não pensa ir embora, até porque é casado com uma portuguesa.

«Queria que ganhasse Marrocos, mas se Portugal ganhar fico contente na mesma porque ambas as equipas estão no meu coração. Na sala tenho duas bandeiras, uma de Portugal e outra de Marrocos, em conjunto com a minha mulher estamos a apoiar as duas equipas», disse.

Nesta quarta-feira espera que o Sahara fique cheio de portugueses e marroquinos para assistir ao jogo, e resta-lhe apenas uma coisa: desejar  حظا سعيدا (boa sorte) às duas seleções.