Prepare-se. A lista é considerável, mas merece recordação. Nostálgico para os mais velhos, de descoberta para os mais novos. Afinal, está escrito na história como o primeiro título mundial para as seleções nacionais de Portugal. Eis os 18 heróis, comandados por Carlos Queiroz.

Brassard e Bizarro na baliza. Fernando Couto, Paulo Madeira, Valido, Abel Silva e Morgado na defesa. A meio, Jorge Couto, Paulo Sousa, Tozé, Hélio Sousa, Filipe e José Xavier. Para o ataque, Paulo Alves, António Resende, João Vieira Pinto, Folha e Amaral. Eis os campeões.

Riade foi há… 30 anos. Entre fevereiro e março de 1989, a turma das quinas fez história no Médio Oriente, ao conquistar o Mundial sub-20 de futebol.

Uma campanha épica, a contrariar favoritismos teóricos. E na qual Portugal foi quase sublime: cinco vitórias e uma derrota em seis jogos: esta última ditou os únicos três golos sofridos na prova.

Após entrar a vencer a Checoslováquia e a Nigéria, ambas por 1-0, Portugal perdeu ante a anfitriã Arábia Saudita, 3-0, na terceira e última jornada da fase de grupos, já com apuramento garantido. Depois, folha limpa nas vitórias para o título, dos quartos de final à final: 1-0 à Colômbia e ao Brasil e 2-0 à Nigéria, para a consagração.

Três décadas depois dos heróis de Riade, hoje quase todos na casa dos 50 anos, o Maisfutebol recupera memórias pelos herdeiros de quem fez taça em 1989. O bichinho da bola alastrou e alguns dos campeões viram filhos crescer para o futebol. Antes dos testemunhos das novas gerações, um olhar ao panorama de quem seguiu os passos dos pais consagrados.

Herdeiros dos campeões de Riade 1989:

  • Bizarro: Tiago Bizarro seguiu as pisadas do pai e é também guarda-redes. Começou a época na equipa principal do Freamunde.
  • Jorge Couto: Tomás Couto é avançado da equipa de juniores do Boavista. O outro filho, Tiago Couto, suspendeu durante esta época o futebol, devido aos estudos.
  • Tozé: Bernardo Pereira é defesa na equipa de juniores do Leça, Nuno Pereira avançado dos juvenis do Padroense.
  • Hélio Sousa: André Sousa é defesa-esquerdo do Vitória de Setúbal.
  • João Vieira Pinto: Tiago Pinto joga no Ankaraguçu, da Turquia.
  • Folha: Bernardo Folha é médio da equipa de juvenis do FC Porto.
Campeões estiveram juntos esta semana, a recordar os 30 anos do feito (Foto: FPF)

Da nostalgia de JVP às cartas de Hélio

Tiago Pinto era o único dos filhos futebolistas já nascidos aquando de Riade. Tinha acabado de completar um ano de vida quando, ainda no berço, mal sabia o feito que o pai alcançava em solo saudita. Soube-o mais tarde, em memórias e momentos partilhados por João Vieira Pinto, autor do golo da vitória ante a Nigéria, na fase de grupos.

«Eu já era nascido, mas não me recordo. Lembro-me de o meu pai dizer que foi um ano em que as pessoas nem acreditavam muito na seleção, até porque, nas camadas jovens, não tinha hábito de ganhar competições. A partir daí, começaram a dar mais importância, porque foi um marco para as gerações posteriores», conta Tiago Pinto, ao Maisfutebol.

Mais novo, ainda Tomás Couto não estava nos planos quando o pai, Jorge, fazia figura na capital saudita. Foi o melhor marcador da seleção, com dois golos: o da vitória nos quartos de final com a Colômbia e o 2-0 da final, contra a Nigéria.

A final entre Portugal-Nigéria, há precisamente 30 anos:

«Já me disse que foi uma grande conquista, com uma boa geração, que teve bons jogadores e que foi uma das maiores conquistas dele», assinala Tomás, 18 anos, o filho mais novo de Jorge Couto.

Tiago nasceu em 1988, Tomás em 2001. No meio de ambos, André Sousa, jogador do V. Setúbal, em 1998. O filho de Hélio - ainda hoje ligado às seleções - conta que o pai, a quilómetros de distância, não esquecia quem tinha longe da vista, mas perto do coração. «Contava-me que escrevia cartas à minha mãe. E é um campeonato do mundo. Está com os colegas e fica na memória dos jogadores. Fica para a vida. Também já vi vídeos, nomeadamente o jogo com o Brasil, das meias-finais», refere.

Tiago Pinto nota que o pai recorda «com nostalgia» o feito, conseguido então com 17 anos. «Sei que o marcou. Estamos a falar de um mundial, apesar de ser camadas jovens», partilha.

Ainda bebé, Tiago não foi, naturalmente, à Arábia Saudita. No entanto, partilha saudosismo e noções de então, a par da conquista posterior, em 1991. «Não fui, até porque viajar antigamente, e principalmente para a Arábia Saudita, era complicado. Mas lembro-me, apesar de não ter a ver com Riade, de ir ao Estádio da Luz, com 120 mil pessoas. De ser carregado ao colo por várias pessoas, porque era a única maneira de passar de um local para o outro. É engraçado pensar e imaginar como poderá ter sido a minha mãe, jovem, levar-me ao estádio com essa confusão», supõe.

A influência da ascendência

Tiago Pinto, Tomás Couto e André Sousa são três dos casos de seis campeões que viram os filhos seguir o futebol. O percurso dos pais influenciou, mas o peso na escolha foi relativo.

«O meu pai sempre deu liberdade para escolher. Nunca forçou a minha decisão na carreira, foi um percurso natural. A minha mãe sempre teve cuidado de o acompanhar e de levar a família, a mim e à minha irmã. A todas as competições e a jogos. Foi com naturalidade que ganhei vontade de ser jogador. Tive oportunidade de entrar nos balneários, nos jogos importantes e sempre quis ser jogador por causa dele», justifica o lateral-esquerdo do Ankaraguçu.

Tiago Pinto, André Sousa e Tomás Couto são alguns dos filhos futebolistas dos campeões de Riade

Um de carreira cimentada, os outros a construí-la. Tomás faz a transição da formação para sénior, entre juniores e equipa B do Boavista. «O meu pai nunca obrigou, simplesmente as coisas foram acontecendo. Comecei a ter o gosto, porque quis, gostava. Agora, quando vai ver os jogos, ajuda-me e as coisas têm corrido bem», sublinha o mais novo dos Couto.

André dá os primeiros passos de sénior no clube da carreira do pai, junto ao Sado. O percurso de Hélio tocou, mas a decisão foi tomada por si.

«Nunca pediu nada: “Só porque eu sou futebolista, não quer dizer que o meu filho também seja”, é por aí», ilustra o lateral-esquerdo de 21 anos. «Pelo gosto, disse ao meu pai que queria experimentar jogar futebol», nota o internacional sub-18, sub-19 (aqui treinado pelo pai) e sub-20.

Se é certo que a descendência não festejou tanto como os pais em 1989, entre Pinto, Sousa e os Couto, há algo que os une dentro das quatro linhas. E só com essa renovação é possível pensar em alcançar nova proeza. De Riade, 30 anos depois, com inspiração para presente e futuro.