A cidade de Braga fervilha com o aproximar da final da Taça de Portugal. A dois dias do importante jogo no Estádio Nacional, contagem decrescente que pode inclusive acompanhar no site oficial do clube arsenalista, a palavra Jamor é uma das mais pronunciadas entre as conversas dos bracarenses.
 
Não admira. Em 94 anos de história trata-se da quinta vez que os minhotos disputam aquela que é conhecida como a prova rainha do futebol português, contando já com um troféu no currículo. A última presença braguista no Jamor data de 1998, altura em que os minhotos foram derrotados pelo FC Porto.
 
Já lá vão 17 anos, portanto, desde a última tentativa do Sp. Braga pôr novamente a mão no caneco. Ambição do presidente António Salvador desde que assumiu os destinos do Sp. Braga, partilhada com e pelos adeptos.
 
«No domingo é muito mais que um clube que está em causa, é uma cidade, o envolvimento de uma região em prol de um jogo de futebol que toda a gente quer vencer», assumiu recentemente o líder máximo do Sp. Braga, António Salvador, à margem de um almoço que juntou os heróis de 66, ano que os minhotos se sagraram campeões da Taça de Portugal.
 
150 autocarros com guerreiros de capacete
 
Os bilhetes a que o Sp. Braga teve acesso (11966) esgotaram, pelo que é esperada a presença de cerca de doze mil espectadores arsenalistas no Topo Sul do Jamor. Do Minho partirá uma coluna de 150 autocarros fretados pela câmara em parceria com alguns empresários da região e colocados gratuitamente à disposição dos associados.
 
A partida está agendada para as 5h30, quase 12 horas antes do apito inicial do madeirense Marco Ferreira. A mata do Jamor é o destino, destino esse que é separado do Estádio Municipal de Braga por 376 kms de asfalto.
 
Depois do prometido piquenique na mata, a festa, em tons de vermelho, está garantida na bancada. Incorporando o espírito de «Guerreiros do Minho», os adeptos do Sporting de Braga vão entrar na bancada do Jamor com capacetes de cartão ao estilo dos guerreiros romanos.

Para além disso, dos dez mil capacetes que serão distribuídos pelos adeptos, a SAD do clube dos arcebispos vai igualmente distribuir pelos seus adeptos bandeiras e balões alusivos ao Sp. Braga.
 
Para aqueles que não conseguiram o ingresso mágico, até porque a procura foi superior à oferta, a Câmara Municipal de Braga promete recriar na Praça do Município, no coração de Braga, um pouco das emoções do Jamor com a instalação de um ecrã gigante que irá transmitir o jogo.
 
Adepta especial que tem uma foto a cores de 66
 
Entre os milhares de adeptos do Sp. Braga estará uma adepta especial. A sua presença até nem é novidade nos jogos da equipa de Sérgio Conceição, mas ganha destaque pelo facto de ter assistido às quatro finais que os arsenalistas já disputaram em Oeiras.

Amélia Morais, ou simplesmente Melinha, como é reconhecida por acompanhar os bracarenses, já prepara a deslocação do próximo domingo.
 
«Se Deus nosso senhor quiser eu com 79 anos, se durar até domingo, lá vou por aí fora numa alegria como em 66; que coisa mais bela, mais rica», refere a adepta em conversa com o Maisfutebol, recordando que já há 49 anos acompanhou o Sp. Braga na sua primeira aventura no Jamor.
 
«Estive lá em 66 meu amigo, tinha casado há quatro anos e tinha 30 anos na final de 1966», aponta Melinha. A associada do Braga, uma das mais carismáticas, revela até que se pode gabar de ter uma foto a cores da histórica final.
 
«Aqui em Portugal ainda era a preto e branco, mas um senhor alemão tirou-me uma fotografia a cores com uma máquina que tinha um grande canudo, que eu até disse 'ei que porra, dá mesmo para ver Braga por um canudo'», atirou.
 
Fotografias à parte, o que não sai da memória de Amélia Morais, que com 79 anos vai pela quinta vez ao Jamor com o seu Sp. Braga, é a imagem da bola a bater na rede da baliza do V. Setúbal.

«Foi o Perrichon mesmo à última da hora, quase a apitar que meteu o golo, se não íamos para penáltis», certifica a senhora que costuma passear o seu braguismo pelos estádios.
 
«Só um analfabeto é que pergunta se vou ao jogo»
 
Melinha confirma que os bilhetes que chegaram a Braga foram insuficientes para todos aqueles que gostariam de marcar presença no Jamor. Inclusive, até lhe pediram o cartão de associada emprestado para tirar bilhete.
 
«Até me ri», referiu Amélia Morais enquanto soltou uma enorme gargalhada. «Sim senhor! Vou emprestar o meu cartão e eu fico em casa a olhar para o teto. Só um analfabeto é que pede uma coisa dessas e pergunta se vou ao jogo. Se o Braga ainda não fez um jogo na Europa sem eu estar presente, não ia ir aqui na minha pátria?»

 
O farnel ainda não está pronto, ainda há tempo para isso, mas Melinha já sabe o que vai levar na bagagem e o que quer trazer no regresso.
 
«Não vou levar muitas coisas. Gosto muito de coxas, mas é coxas de comer», atirou com uma nova gargalhada ainda mais forte. «Vou levar duas coxas de frango e uma de coelho, e levo também umas bifanas. Para beber levo água, não vale a pena levar vinho porque tenho medo de me emborrachar. O que interessa é depois trazer a taça», concluiu.
 
O desejo está formulado, e já agora fica também a promessa feita. Caso a Taça de Portugal viaje para o Minho, Melinha junta-se à «festa de arromba». «Vou para lá para o centro da cidade, dançar até arrombar».
 
Um autocarro com as cores do rival
 
No meio do mar vermelho que vai rumar do Minho em direção ao sul, pelo menos um autocarro vai partir da cidade dos arcebispos em direção ao Jamor com esperança em tons de verde. O Núcleo do Sporting em Braga teve apenas direito a 55 bilhetes por parte do clube de Alvalade, pelo que é esse o número de adeptos que vai transportar a Oeiras.
 
«Só iremos 55 pessoas organizadas e de autocarro. Se tivéssemos 500 ou 600 bilhetes mesmo assim não chegavam, mas só tivemos direito a 55 bilhetes, por isso vai apenas um autocarro organizado pelo nosso núcleo», refere Daniel Pereira, presidente do Núcleo do Sporting na cidade bracarense.
 
O líder dos sportinguistas da cidade de Braga diz que não há qualquer sentimento especial no núcleo por a final se disputar diante do clube da cidade:

«Temos um sentimento normalíssimo, como se tratasse do Porto, do Benfica ou do Guimarães. O Sporting está habituado a marcar presença na final, o núcleo já organizou outras viagens ao Jamor, por isso, apenas para alguns elementos que vão pela primeira vez é que há algum nervoso miudinho, mas é normal», refere.
 
Daniel Pereira espera um clima de festa no encontro da final da Taça de Portugal.

«Vamos preparados e com todos os condimentos para fazer um churrasco. Queremos apoiar condignamente o Sporting, sem violência. No fundo, estar em família, rever pessoas que não se vê há muito tempo e comer e beber à boa maneira portuguesa»
. Os autocarros dos leões que partem do norte do país, vão concentrar-se na área de serviço da Nazaré às 10h30, para daí seguir em direção ao Oeiras, ao Estádio do Jamor.
 
A dois dias do jogo do ano para Sporting e Sp. Braga, é inegável que a cidade dos arcebispos já fervilha com a disputa da Taça de Portugal e com a deslocação ao Jamor. Perrichon, o tal heróis de 66, veio da Argentina para assistir ao jogo e, também ele transmitir a sua força.

Os bracarenses estão a postos para o jogo de domingo, às 17h15.