300 kms separam Castelo Branco de Guimarães. Foi esse o salto dado por João Afonso, desde o Benfica local até ao Vitória minhoto. Completou os estudos, nunca entrou em euforias e aos 24 anos mede forças, olhos nos olhos, com Slimani, Montero ou Jackson Martinez.

O Maisfutebol conta-lhe a história do defesa central que foi amador durante cinco temporadas e meia. Chovem-lhe pedidos de camisolas e já nem precisa de ir ao talho em Guimarães.
 
Comecemos pelo presente. João Afonso é uma das revelações da equipa de meninos formada por Rui Vitória. Aposta do V. Guimarães para esta época, começou como suplente da dupla de centrais composta por Moreno e Defendi. Uma situação natural, mas que rapidamente mudou de figura. O jovem de 24 anos teve de saltar do banco logo na segunda jornada, aos 22 minutos, para substituir o capitão Moreno.
 
Desde então não mais saiu do eixo da defesa. Na oitava jornada, em Setúbal, estreou-se a marcar e carimbou os três pontos do conjunto de Rui Vitória. Um golo histórico, não só para João Afonso, mas para todos os albicastrenses. Já vai perceber porquê.
 
Diante do Sporting, o jogador que chegou a Guimarães proveniente do Benfica e Castelo Branco esteve imperial no jogo aéreo ao segundo poste e foi determinante nos dois primeiros golos dos minhotos. O segundo é mesmo dele, apesar do último toque de Maurício, desesperado.
 
Ricardo António, um vimaranense há vários anos radicado em Castelo Branco, foi o treinador de João Afonso no Benfica e Castelo Branco, e, antes de ser treinador, fez dupla de centrais com o jovem vitoriano.

Falou ao nosso jornal sobre o seu ex-colega e sobre o seu ex-pupilo, e garante que «pelo trajeto e pela personalidade que tem, a sua aventura em Guimarães não tinha como falhar».
 
«Está a estrear-se, mas já tem uma grande bagagem»
 
O atual treinador do Benfica e Castelo Branco conhece bem João Afonso e dia que o defesa é uma aposta com uma reduzida margem de erro por parte do V. Guimarães.
 
«Conheço o João desde que subiu a sénior, jogou ao meu lado uma vez que começou por fazer dupla comigo. Nessa fase ele jogava a marcar e eu a líbero, aí vi que era forte na marcação; depois numa outra fase começou a jogar como agora se usa, a fechar o lado esquerdo, inclusive chegou a jogar a defesa esquerdo. Jogou uma época praticamente inteira a lateral esquerdo, isso ajudou-o num aspeto que ainda não se notou muito em Guimarães: sai muito bem a jogar. Está a estrear-se, mas este percurso deu-lhe muita bagagem», refere Ricardo António.

JOÃO AFONSO NOS DESTAQUES DO V. GUIMARÃES-SPORTING
 
O anterior treinador assinala que João Afonso até já evidencia melhorias nalguns aspetos em que não era tão forte, como por exemplo o jogo aéreo: «Uma coisa em que ele não era muito forte era no jogo aéreo e hoje é difícil não ganhar uma bola de cabeça. Sempre foi uma pessoa calma, tranquila, sabe o que quer, por isso é que se portou da maneira que portou a defrontar jogadores como o Montero, o Slimani e também o Jackson Martinez».
 
Hoje bate-se com grandes nomes do futebol português, mas nem sempre foi assim. Antes de chegar ao V. Guimarães, João Afonso jogou seis épocas consecutivas no Benfica e Castelo Branco (clube onde completou a sua formação), disputando a antiga II Divisão B, agora Campeonato Nacional de Seniores (CNS).
 
Ou seja, cinco épocas e meia no terceiro escalão do futebol português, como jogador amador. Apenas em janeiro deste ano assinou contrato profissional com o Castelo Branco, e somente em julho passou a ser jogador profissional, quando se mudou para a Cidade-Berço.

No fundo, João Afonso esteve cinco épocas e meia à mão de semear, qualquer clube o poderia resgatar nas janelas de transferências.
 
«Pode ter objetivos como a seleção»
 
Outros tempos. Os objetivos de João Afonso, que herdou a camisola 15 anteriormente usada por Paulo Oliveira, mudaram. O defesa central tem uma estrutura profissional a assegurar que o seu rendimento é melhor e João Afonso não tem de treinar sozinho. Era o que acontecia quando o defesa do V. Guimarães estudava e treinava apenas em horário pós-laboral. Pedia que lhe abrissem o estádio para treinar.
 
Ricardo António, como já demonstrou anteriormente, não dúvida das potencialidades do central, mas ainda assim lamenta que apenas uma restruturação nos quadros competitivos da Federação Portuguesa de Futebol lhe proporcionou este salto.
 
«Beneficiou com a mudança que houve o ano passado no CNS, porque a fase final acontece em abril e maio, quando os clubes da primeira divisão andam à procura de jogadores. Vários clubes da primeira divisão viram os nossos jogos nessa fase. Qualidade sempre teve, agora não é fácil dar o salto»
, refere o técnico.
 
O passado foi construído em Castelo Branco, no presente ambienta-se aos grandes palcos no V. Guimarães. No início tinha dificuldades em ouvir as indicações de Douglas e a comunicação com Defendi não era fácil. Não estava habituado a jogar para milhares de espectadores. Mas, até onde acredita Ricardo António que João Afonso poderá chegar?
 
«Estando-se em Portugal, depois de se atingir o patamar que ele atingiu normalmente fala-se nos três grandes. Ele está num grande clube e sabe disso, agora é preciso sorte. É preciso sorte para quando ele estiver bem, esses clubes precisarem de um jogador para a posição dele. Depois, estando num clube como o Vitória e a época estando a correr bem, pode ter objetivos como a seleção. Acredito nele, porque é paciente. Acredito que vai querer mais, até porque ainda no sábado não se viram diferenças entre ele e os jogadores que jogam nos grandes», atira Ricardo António com uma convicção inabalável.
 
Chovem pedidos de camisolas e já nem precisa de ir ao talho
 
Fora de campo, a «humildade e a tranquilidade» são as principais características do jovem jogador do V. Guimarães. Nuno Correia é o agente de João Afonso e um dos primeiros a interessar-se pelo atleta que se licenciou em Educação Física e está a obter o grau de Mestre na mesma área. Reconhecendo-se como suspeito para falar do jogador do V. Guimarães, o empresário refere que não pode deixar de referir a «humildade» de João Afonso e da sua família.
 
«Tanto o João como a família são pessoas muito humildes. Obviamente que estão muito felizes com esta situação, mas têm os pés bem assentes na terra. Estão a desfrutar do momento e sempre que podem vão ver os jogos», afirma o empresário do jogador que tem dado os primeiros passos na Liga.
 
A adaptação à Cidade-Berço está a correr bem. João Afonso mora com o húngaro Benjámin Balázs, também reforço do V. Guimarães esta época, mas que ainda não se estreou na equipa principal dos minhotos. As pessoas de Guimarães acolheram-no e o defesa central já nem precisa de ir ao talho. No restaurante onde faz algumas refeições tratam-lhe dessa tarefa.
 
Mimos que outrora, em Castelo Branco, era João Afonso a fazer por proporcionar. Ricardo António relembra que deu um lar natalício a vários jogadores estrangeiros que representaram o Castelo Branco: «Ajuda sempre quem precisa, tivemos aqui vários casos de jogadores de fora do país que estavam sozinhos, ele acolhia-os e chegavam a passar o Natal com ele»
, recorda Ricardo António.
 
«Também por ele ser como é, tranquilo e humilde, esta ascensão do João Afonso tem sido uma loucura. Começa a ser reconhecido em Guimarães, e em Castelo Branco as pessoas todas o conhecem e dão-lhe carinho».
 
Ainda se recorda do golo que João Afonso marcou no Bonfim? O último albicastrense a dignar-se de tal feito (marcar um golo na Liga) foi Miguel Vaz, que a 6 de janeiro de 2001 marcou um golo no principal escalão do futebol português. O atual diretor desportivo do Benfica e Castelo Branco marcou ao Sporting, com a camisola do Campomaiorense. Também por isso, a aparição de João Afonso na Liga ganha seguidores.
 
«Atrevo-me a dizer que já é um símbolo de Castelo Branco e para os albicastrenses, uma loucura. Na própria página do atleta no facebook, essencialmente do jogo do Porto para cá, chovem pedidos de camisolas e mensagens de incentivo, mesmo na rua as pessoas reconhecem-no», atira Nuno Correia.
 
Um símbolo em Castelo Branco, uma esperança em Guimarães. Demorou a chegar à Liga, mas está a fazer por não perder tempo a estabelecer-se como patrão da defesa do V. Guimarães. De poucas palavras, mas sempre pronto para rasgar sorrisos, João Afonso encara o espírito do Rei D. Afonso Henriques na Cidade-Berço.