Há uns anos havia um anúncio inglês que apelava ao orgulho patriótico, mas era um bocadinho enganador. Basicamente um pai e um filho, antes de um jogo com a Alemanha, esperavam por um elevador e cantavam qualquer coisa como two world wars and one world cup, England, England, two world wars and one world cup, England all the way.

Depois o elevador chegava, abria-se e... estava cheio de alemães.

O anúncio terminava assim, a arrancar sorrisos, sobretudo a ingleses, mas não era completamente verdadeiro, lá está. É que depois da Inglaterra ter vencido a final do Mundial perante a Alemanha, em 1966, nunca mais conseguiu eliminar seleção alemã numa fase final de uma grande competição.

Inglaterra e Alemanha defrontaram-se nos quartos de final do Mundial 70, nas meias-finais do Mundial 90 e do Euro 96 (este jogado... em Inglaterra) e nos oitavos de final do Mundial 2010: a Alemanha ganhou sempre, a seleção inglesa caiu invariavelmente eliminada das competições.

Foi preciso, portanto, esperar mais de meio século (exatamente 55 anos) para ver a Inglaterra mandar outra vez para casa a Alemanha. Aconteceu esta terça-feira, novamente em Wembley, tal como tinha acontecido na final de 66, o que trouxe alguma justiça a um jogo em que foi melhor.

No entanto foi preciso esperar pelos quinze minutos finais, e pela entrada de Grealish, para ver por fim os golos. O primeiro teve a assinatura de Sterling, que começou e terminou a jogada, o segundo foi obra de Harry Kane, que se estreou a marcar no Euro 2020, ambos tiveram Grealish na jogada.

Curiosamente, os golos nasceram os dois do lado esquerdo, onde o envolvimento ofensivo de Luke Shaw foi fundamental, a criar superioridade até sair o cruzamento para a zona de finalização.

No fundo, Sterling e Luke Shaw, com o apoio fundamental de Sterling e Harry Kane, tiveram a chave para abrir a defesa alemã, que a maior parte do tempo, sobretudo na segunda parte, soube controlar muito bem a profundidade inglesa e manter a baliza de Manuel Neuer protegida.

Antes disso, refira-se, a Inglaterra foi superior na primeira parte, a Alemanha equilibrou no segundo tempo. Southgate mudou a estratégia inglesa, retirou um avançado (Grealish e Phil Foden ficaram no banco) para lançar um lateral (Trippier foi titular), desviando Kyle Walker para central.

No fundo a Inglaterra defendia com três centrais e dois laterais ofensivos, num reforço da segurança defensiva, que deixava Bukayo Saka, Harry Kane e Sterling sozinhos na frente. A verdade é que a alteração correu bem e a seleção inglesa mandou em quase toda a primeira parte.

Sterling, num remate de fora da área, Maguire em dois cabeceamentos e sobretudo Harry Kane, que ultrapassou Manuel Neuer e viu Hummels tirar-lhe o golo quando ia encostar para o fundo da baliza, ficaram nesse primeiro tempo perto de marcar.

A segunda parte começou diferente, com Havertz a obrigar Pickford à defesa da tarde, e a partir daí o jogo nunca mais foi o mesmo. A seleção de Joachim Low controlou melhor os espaços, retirou bola ao adversário e a Inglaterra perdeu profundidade ofensiva.

Até que, já com Grealish em campo, a Inglaterra arrancou definitivamente para a vitória, empurrada por um Estádio de Wembley em completa euforia: uma euforia com alimentada durante 50 anos. O futebol inglês está esta terça-feira em festa, e é muito justo que esteja.

Resta dizer que não há mais nenhuma seleção em prova do grupo de Portugal no Euro 2020: o tal «grupo da morte». Portugal, França e Alemanha caíram nos oitavos de final.

Já a Inglaterra fica à espera do jogo entre a Suécia e a Ucrânia para saber com quem vai disputar um lugar nas meias-finais. Enquanto isso, o tempo é de beber cerveja e de cantar. Two world wars and one world cup, England, England.