Itália é tudo que separa Inglaterra de fazer, finalmente, jus à frase viral «football is coming home».

Pela primeira vez em 55 anos, a pátria do desporto-rei está novamente perto de pôr as mãos num grande troféu, depois de ter eliminado a Dinamarca num jogo no qual, muito por culpa de Kasper Schmeichel, se prolongou até aos 120 minutos.

A Dinamarca escreveu algumas das páginas mais belas deste Europeu. A superação de uma equipa aparentemente despedaçada pelo drama de Eriksen, mas que renasceu ao terceiro jogo da fase de grupos e que a partir daí caminhou confiante até cair esta quarta-feira em Wembley.

Mas de pé!

FILME, FICHA DE JOGO E GOLOS EM VÍDEO

Depois de uma entrada melhor (mas não tremendamente autoritária) dos ingleses, a seleção nórdica soltou-se a partir da dezena de minutos e começou a assumir-se numa das catedrais do futebol mundial.

Aos 23 minutos escrevíamos que o conjunto de Kasper Hjulmand parecia muito sereno e que o jogo estava a começar a correr-lhes de feição.

Nessa altura, a Inglaterra parecia perdida com bola e intranquila sem ela, ao ponto de ter cometido duas faltas seguidas no meio-campo defensivo, a segunda desnecessária.

E essa designação adquiriu tremendo peso instantes depois: na sequência da falta, Damsgaard colocou os dinamarqueses a ganhar com um dos golos deste Euro.

Ironicamente, o tento dos visitantes terá feito melhor à Inglaterra, imediata foi a reação da equipa de Southgate à desvantagem. Kane tornou-se mais voluntarioso e apareceu noutras zonas, cedendo terrenos de finalização a Sterling.

O avançado do Tottenham ofereceu de bandeja um golo ao compatriota do Man City e no minuto seguinte furou a defesa dinamarquesa com um passe para Saka. Do cruzamento do extremo do Arsenal nasceu o 11.º autogolo do Euro 2020: Simon Kjaer, que tentava evitar a finalização de Sterling na pequena-área.

Após o intervalo, acentuou-se o domínio que os ingleses já evidenciavam desde o golo sofrido.

Kasper Schmeichel, que na véspera havia questionado se o futebol alguma vez tinha estado em casa – tantos são os anos sem ganhar nada para os ingleses – fez das tripas coração para ajudar a levar a Dinamarca para nova final 29 anos depois de o pai, Peter, ter lá estado com os nórdicos. Deu o corpo ao manifesto no já referido remate à queima-roupa de Sterling na primeira parte, na segunda negou um golo certo de Maguire com a luva direita e continuou a encher a baliza depois disso.

E como a Dinamarca precisava dele!

Os nórdicos caíram fisicamente a partir da hora de jogo e nem as alterações promovidas (cinco, três delas de uma assentada aos 67 minutos) permitiram reequilibrar o jogo. Porque quem entrou não esteve ao nível dos que saíram e, sejamos justos, a Dinamarca não tem um leque de segundas linhas com qualidade suficiente que lhe permita manter o mesmo rendimento.

Mais: mesmo com apenas uma alteração efetuada nos 90 minutos (Grealish para o lugar de Saka), os ingleses, talvez empurrados pelas bancadas de Wembley, pareceram sempre mais rápidos e frescos do que os visitantes.

Está na hora de chamar Schmeichel, o melhor em campo, novamente a esta crónica. No prolongamento segurou a esperança dinamarquesa firmemente entre as luvas. Começou por negar um golo a Kane e a seguir sacudiu um remate forte de Grealish.

A Inglaterra acumulava situações de perigo e dizer que os dinamarqueses já só jogavam no meio-campo defensivo é uma hipérbole: a verdade é que os homens de Hjulmand já mal saíam das imediações da sua grande-área por mais que tentassem, sem êxito, ensaiar transições rápidas.

Aos 102 minutos, Sterling caiu na área num lance com Maehle. O árbitro foi soberano e o VAR ratificou a decisão, vislumbrando um toque ligeiro mas, aparentemente, suficiente para derrubar o avançado de Inglaterra. Schmeichel ainda travou o pontapé de Kane dos 11 metros, mas não evitou a recarga do capitão inglês.

De rastos fisicamente, o melhor que a Dinamarca conseguiu foi um remate de Braithwaite, rosto da reação nórdica. Mas não havia forças para mais e a seleção da casa geriu bem o jogo na segunda parte do prolongamento e selou, com justiça, a primeira presença de sempre numa final de um Europeu.

«Is football coming home?»

Almost.