O canoísta português Fernando Pimenta comentou hoje com alguma ironia as críticas de que foi alvo depois do 5º lugar na final de K1 1000 m, lembrando que muitas delas são provenientes de pessoas que nunca viram outra modalidade que não futebol.

«Não fico triste quando leio comentários negativos, porque existe falta de cultura por parte de algumas pessoas, que devem ser perdoadas. Talvez nunca tenham ido à escola, talvez sejam um pouco analfabetas, talvez só se preocupem com modalidades na altura dos Jogos Olímpicos e provavelmente nunca viram desporto sem ser o futebol», disse Fernando Pimenta, citado pela agência Lusa.

Integrante do quarteto finalista em K4 1000 m, Fernando Pimenta lembrou os sacrifício necessários para chegar aos Jogos: «Eu acho engraçado. Sinceramente, vejo esses comentários e começo a rir. Às vezes dá-me vontade de chorar, mas é de [chorar a] rir, porque vê-se claramente que as pessoas não têm noção do que é desporto, do que é passar um inverno completo dentro de um rio, acordar às 7 h para fazer treinos de natação, ir para o rio com dois ou três graus de temperatura. Nos dias chuvosos em que o pessoal gosta de estar durante o domingo instalado no sofá a ver um bom programa de televisão, um bom filme, nós não podemos, nós estamos dentro de água, a andar de bicicleta, a treinar, nós vamos correr, fazemos natação, fazemos ginásio. Nota-se que as pessoas não sabem os nossos currículos. Isso a mim dá-me ainda mais garra, mais vontade. Continuem, se se sentem felizes, continuem», reforçou o medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012.

Pimenta não esqueceu o gesto do ciclista Rui Costa, que lhe deixou uma carta aberta solidária: «Ainda nem agradeci ao Rui. É dos atletas que tenho como referência, como o Nelson (Évora), a Telma (Monteiro), o Rui Bragança. Vários atletas aqui presentes e outros que não vieram cá aos jogos, para mim, são atletas de referência, exemplos, são ídolos, porque representam a alma, a verdadeira essência do que é Portugal», prosseguiu Pimenta.

O canoísta luso prometeu não reagir a quente, mas deixou claro que vai comentar a campanha olímpica depois da final: «No final dos Jogos, quando me sentar, tranquilo, vou escrever qualquer coisa, mas de uma forma serena, fria. É isso que tenho aprendido com o desporto, controlar muito as emoções, gerir essas emoções e, depois, no momento certo, dar as respostas, mas sempre com muita classe. Eu gostava que todas as modalidades não conquistassem diplomas, conquistassem medalhas. Mas, como o Rui Bragança, o João Pereira, entre outros atletas, referiram, enquanto a cultura desportiva em Portugal não melhorar em termos de apoios privados - e não falo só na canoagem, mas em nome de todas as modalidades -, é difícil», frisou.

«Estive 210 dias em estágio, isso é muito duro. Abdiquei da família, dos amigos. Queremos transmitir boas energias, dizer aos portugueses que devem acreditar no seu trabalho. Sempre que tiverem sonhos de serem atletas olímpicos, de estarem na luta pelo seu país, devem acreditar, devem trabalhar. O desporto é isso mesmo, é uma das melhores escolas que as pessoas devem ter. Como atleta, só tenho de apelar à prática do desporto”, finalizou.