Simone Biles é a next big thing na ginástica artística. A norte-americana, de 19 anos, venceu a medalha de ouro no All-around (conjunto de todos os aparelhos) dos Jogos Olímpicos do Rio com tamanha categoria e diferença que é preciso ir a outros desportos para encontrar uma comparação de tamanha supremacia.

Nascida em 1997 na capital do Ohio, Colombo, e filha de uma mãe viciada em drogas e álcool, Biles mudou-se com os avós, que a adotaram, para os subúrbios de Houston, Texas. Entrou tarde para o programa de elite da ginástica americana, por volta dos 14 anos, mas agora chegou ao topo, algo que, praticamente, toda a gente já sabia que iria acontecer.

Medalha de prata nesta quinta-feira, a também norte-americana Aly Raisman confessou, em lágrimas, que «sabia que a Simone ia ganhar.» Por isso, o choro era de uma medalhada de prata que sabia que não podia ir mais além. Porque o mais além é uma rapariga de 19 anos, negra, que não teve uma infância fácil, mas que venceu os três últimos all-around em mundiais e que no total conta com dez medalhas de ouro em campeonatos do mundo, algo que nenhuma outra mulher conseguiu. Isto para além do título no Rio de Janeiro por equipas e quando ainda faltam as finais individuais por aparelho.

Raisman foi questionada sobre o facto de ser uma vice-campeã alegre. «Não se vem para aqui a pensar que se vai conseguir ganhar à Simone. Tenho a certeza de que não se vai para os 100 metros a pensar que se pode bater o Usain Bolt. É mais ou menos a mesma coisa», atirou.

Simone Biles foi confrontada com uma comparação semelhante. A resposta saiu-lhe naturalmente: «Não sou o próximo Phelps ou Bolt. Sou a primeira Simone Biles.»

Marta Karolyi, mulher de Bela Karolyi, o famoso treinador de Nadia Comaneci, assistiu das bancadas ao fenómeno Biles, como coordenadora da equipa norte-americana.

«Tenho a certeza que ela vai ser uma grande estrela, vai ser uma milionária», disse a húngaro-romena, que fugiu da ditadura de Ceasescu e mudou-se para os EUA.

Marta Karolyi tem agora uma visão que não tinha há alguns anos. «Vi a Marta na zona mista. Aqui há uns anos, ela disse-me: “Tu és uma miúda saltitona, não tenho bem a certeza quanto a ti.” Mas aqui estamos.»

Na equipa norte-americana, ninguém fica indiferente a Simone, que até já tem um movimento com o nome dela. Porquê? Porque foi ela a primeira a fazê-lo, naquele jeito como se fosse a coisa mais natural do mundo.

 

Enfim, como ela é. A rejeitar estrelato, mesmo que tenha uma arena inteira a aplaudi-la. «Como me sinto com isto tudo? Com fome…»

E agora seguem-se as finais individuais, por aparelhos.