A história começou há muito tempo. Quando Marquinhos tinha doze anos. O irmão mais velho - é mais de uma década de diferença entre ambos - foi jogar para o Náutico, do Recife, e tratou de levar o irmão com ele. Depois disso, em 1997, Niquinha veio para Portugal e Marquinhos regressou à natal cidade de S. Paulo. Mas apenas por um ano. No início da segunda época Niquinha tratou de trazer para Portugal o mano mais novo. «Tratei primeiro das burocracias da papelada e depois trouxe-o para Portugal».
Marquinhos começou então a jogar nas camadas jovens do Rio Ave enquanto Niquinha jogava na equipa principal. «Morou sempre comigo e com a minha família cá em casa». Mesmo quando esteve durante dois anos emprestado ao Vianense. Ia e vinha todos os dias de Vila do Conde para Viana do Castelo. «Só o ano passado, quando esteve no Oliveira do Bairro, é que morava lá durante a semana», acrescenta Niquinha. «Mas vinha ter connosco nas folgas». São dez anos de vinda em conjunto.
Depois de três épocas em sucessivos empréstimos, Marquinhos, de 22 anos, teve esta temporada a oportunidade que esperava de Carlos Brito para ficar definitivamente na formação principal do Rio Ave. Ao lado do irmão. Seguiram-se as habituais brincadeiras de balneário. «Os colegas começaram logo a brincar connosco», conta Marquinhos. «Principalmente o Franco, que foi embora. Ele é que estava sempre com piadinhas por causa de sermos irmãos. Dizia que tinha de nos arranjar uma alcunha. Acabou a chamar-nos os Irmãos Metralha».
O papel do irmão Niquinha, diz, vai muito além das oportunidades que lhe proporcionou na vida. «Ele dá-me muitos conselhos e ensina-me como é o futebol», conta. «Quando me bate aquela tristeza por não jogar, ou quando faço alguma coisa errada, ele aparece, fala, dá-me força, dá-me um abraço». Niquinha diz que um irmão serve mesmo para isso. «Sei bem das dificuldades que é ficar de fora, quando vim para Portugal também passei uma época sem jogar, e procurei que não lhe acontecesse o que me aconteceu a mim e que não desanimasse. Nunca permiti que deixasse de correr e de lutar porque só assim podia ser bem sucedido».
Mas não é só Niquinha que deixa Marquinhos quase com as lágrimas no olho. A voz do jovem médio fica completamente trémula quando fala da família que foi encontrar na casa do irmão. «A minha cunhada Nídia é importantíssima para mim», diz. «Se não fosse ela e o meu irmão eu não estaria aqui. Por causa deles dois é que eu cheguei onde cheguei». No domingo à noite houve claro festa lá em casa. Por causa dele. «Quando cheguei a minha casa a minha cunhada veio a correr abraçar-me, dar-me os parabéns e dizer-me que o meu ponto ainda não era aqui, que eu tinha de ir mais alto. Falámos muito, foi uma noite de muita alegria aqui em casa».