Há ser último e ser último. Há ver a concorrência ao longe ou ser apenas o que vai atrás de um pelotão compacto: e isso fez a diferença no Rio Ave que esta sexta-feira defrontou um Marítimo que parecia rejuvenescido depois da goleada na ronda anterior (5-1) ao V. Setúbal.
Como tem vindo a afirmar o treinador dos vila-condenses, Carlos Brito, a equipa carrega o peso de ser o último no campeonato. Mas com tanta gente à mão de uma partida, o Rio Ave como que apareceu mais solto, sem tanta pressão pela necessidade de um resultado (até havia, mas a pontuação disfarçava). Por isso, a formação de Brito entregou-se à luta com mais cabeça e o mesmo coração que em ocasiões anteriores nos Arcos.
Com várias alterações no onze, o Rio Ave entrou bem melhor que os madeirenses. O clímax desse domínio inicial deu-se ao quarto de hora, com Yazalde a atirar ao lado, após bola parada cobrada por Livramento. Enquanto isso, o Marítimo era uma sombra da equipa que goleou na jornada anterior. Mais, o maior susto porque Paiva passou foi ele próprio que o criou, ao falhar um pontapé na bola, após passe de um colega.
Fábio Coentrão travava duelo interessantíssimo com Paulo Jorge, dois ex-benfiquistas. Mas era muito difícil os vila-condenses conseguirem manter o ritmo inicial. Daí que o encontro tenha passado por fases monótonas, sobretudo no meio da primeira parte. Depois de 15 minutos bons, só ao terceiro quarto de hora houve mais razões para alguém se levantar da cadeira. Aconteceu mesmo na ponta final, com o Rio Ave a rondar a baliza de Marcos, mas sem, com isso, chegar à vantagem.
Da tranquilidade ao golaço de Djalma
Como por magia, a segunda parte começou com Fábio Coentrão isolado na área de Marcos. Talvez impressionado com tanta facilidade, o esquerdino acabou por desperdiçar a melhor ocasião do desafio. O leitor, de certo, já utilizou a expressão «tinha tempo para tomar um café». Pois bem, isso aplica-se na perfeição ao que aconteceu no minuto 47. Coentrão estava sozinho na área, recebeu a bola, rodou, olhou a baliza, viu Marcos e tentou o golo. Mas permitiu a defesa do brasileiro e aquilo que pareciam três pontos, era apenas uma ocasião escandalosa falhada pelo melhor em campo.
Carlos Carvalhal percebia que o Marítimo não podia ser o mesmo do primeiro tempo e retirou um pouco inspirado Manú para lançar Djalma (decisivo, como se veria mais à frente). Só que os madeirenses não se soltavam das amarras. Apenas um bom trabalho de Baba com remate torto foi sinal de que o Marítimo estava em Vila do Conde.
O Rio Ave era, porém, uma equipa muito mais segura de si. Fábio Coentrão era o excesso de loucura que os vila-condenses permitiam a si próprios, com o substituto Candeias no extremo oposto: quer em campo, quer em níveis exibicionais. Por isso, não foi de estranhar que o último classificado tenha chegado ao golo. Livramento saiu sob aplausos aos 76 minutos, mas antes já apontara o canto que daria a Edson a oportunidade de se estrear a marcar na Liga.
Iria reagir o Marítimo? Assim se impunha, mas, verdade seja dita, foi o Rio Ave quem andou mais perto do 2-0. Ao intervalo, alguém gritava na bancada que tinha ganho um prémio chorudo no Euromilhões. Mas o único excêntrico nos Arcos era Fábio Coentrão. Pelo que criava e fazia correr, quer pelo modo como desperdiçava na cara de Marcos pela segunda vez na noite.
Aquela que era uma exibição serena e à qual o resultado fazia jus, transformava-se em mais uma aflição, nos derradeiros minutos, também porque a bola embateu no poste, após remate de Candeias. E havia motivos para os vila-condenses estarem aflitos. Djalma tirou um coelho da cartola e apontou um golaço, sem que o Marítimo tivesse justificado o empate.
Igualdade na partida, ao minuto 90, mas longe de a emoção ter acabado. Marcos ainda teve de salvar o resultado com duas estiradas brilhantes nos descontos. Carlos Brito terá ficado, certamente, desiludido com o empate. Tem razões para isso.