Cinco meses sem vitórias em casa para o campeonato. Ciclo de seis derrotas interrompido por um desconsolador empate na receção ao Marítimo. O Rio Ave de Nuno E. Santo é um case study no futebol mundial.

Jogo pobre, equipas desconfiadas, balizas descansadas ao ponto de as luvas de Ederson e José Sá terem sido devolvidas ao saco sem passar pela lavandaria. Emoção reservada, com entrada VIP e surpreendente, para os derradeiros segundos da contenda.

Valeu a pena esperar até ao fim, afinal, contrariando todas as previsões. A sonolência reinava, o nulo era teimoso e, de repente, três momentos de espetáculo e dois golos.

Joeano, lançado nos últimos dez minutos, vê José Sá a fazer uma defesa extraordinária; no contra-ataque, Derley serve Heldon e o Marítimo marca numa raríssima saída para o ataque; Nuno Espírito Santo já levava com os piores impropérios imagináveis quando Joeano, outra vez ele, respondeu a um passe de Tarantini e evitou o mal maior.

1-1, tudo feito à pressa e no epílogo de um jogo sem muito mais para contar.

É verdade que os primeiros 15/20 minutos do Rio Ave foram fortes. Impelidos pelo brio, os vilaacondenses foram caça-fantasmas entusiasmados nessa fase inicial, decididos a colocar um ponto final parágrafo numa crise caseira sem paralelo.

Promessas boas, de facto, com Braga a comandar toda a estratégia e a dupla de ponta-de-lança, Hassan e Sandro Lima, devidamente alimentada por Ukra e Luís Gustavo.

O Marítimo, assumidamente retraído e interessado essencialmente no empate, começou a saber anular os pontos fortes ao adversário e a meio da primeira parte tudo mudou.

Um muro madeirense de um lado, uma alma cheia de vontade e sem imaginação para mais do outro.

Alguns remates de longe, alguns cruzamentos em desespero e as defesas a lidarem com tudo como se fosse mais um dia num escritório a rebentar de burocracia.

O argumento arrastou-se sem cenas especialmente forte até às cenas finais, fortíssimas.

O ponto não serve de grande consolação ao Rio Ave, mas uma derrota seria bem pior do ponto de vista emocional. Quanto ao Marítimo, não merecia mais do que isto.

O anonimato do meio da tabela fica-lhes tão bem.