Sem brilho, mas com eficácia. De forma clara. Não houve Cardozo, mas houve três golos das alternativas ofensivas a Tacuara (um de Rodrigo e dois de Lima).

Pelo segundo jogo seguido, o Benfica venceu fora marcando três golos e não tendo Cardozo. Um mito que cai nas formulações sobre a águia?

A derrota do FC Porto em Coimbra deu a esta deslocação do Benfica a Vila do Conde um interesse suplementar.

A perspetiva de ultrapassar os dragões na tabela aumentou o enstusiasmo do universo benfiquista e isso notou-se bem antes do início da partida, com a forma entusiástica como a equipa foi recebida no Estádio do Rio Ave.

De novo sem Cardozo, tal como tinha acontecido em Bruxelas, Jorge Jesus (ainda fora do banco, por castigo) tinha que definir que tipo de ataque pretendia para este encontro. Optou por manter Lima no onze e dar a titularidade a Rodrigo, o homem que entrou para marcar no jogo com o Anderlecht, para a Champions.

O Benfica apresentou-se em Vila do Conde num 4x4x2 assente em dois avançados muito móveis, nenhum deles demasiado fixado na área, como aconteceria houvesse Cardozo.

Markovic, titular em Bruxelas, foi sacrificado, mas os primeiros minutos mostraram que esta nova formulação do 4x4x2 sem Cardozo dava uma boa dinâmica ao jogo benfiquista.

Fejsa voltou a ser titular, compondo com Matic, Enzo e Gaitan um meio-campo claramente com três unidades de maior combate e um lado esquerdo mais propenso a ajuda o ataque. Nico aparecia a conjugar com Lima e, por vezes, Rodrigo, dando à dinâmica do jogo do Benfica a noção de que o 4x4x2 se transformava, na verdade, num 4x3x3 em situações ofensivas, com o argentino a assumir funções ofensivas.

Do lado vila-condense, ficou, logo de início, o registo de uma identidade preservada, apesar da visita se chamar Benfica. Nuno não abdica do 4x3x3 e montou uma estratégia em tudo idêntica ao que fez até agora.

O Rio Ave tem um fantasma caseiro a exorcizar (partia para este encontro com quatro derrotas seguidas em Vila do Conde), mas no decorrer do encontro foi esquecendo esse trauma e bateu-se, sempre, de igual para igual com a águia.

A primeira meia-hora mostrou um Benfica dominante mas sem conseguir criar grande perigo. O Rio Ave entrou num esquema de toada e resposta: a águia tinha mais bola e mais poder ofensivo, mas os vila-condenses retaliavam sempre que possível.

Com o tempo, a equipa da casa foi conseguindo conter o ímpeto benfiquista e à passagem de meia-hora o jogo estava equilibrado.

Nos minutos finais da primeira parte, o Benfica obteve um novo fôlego ofensivo, como que a querer chegar à vantagem ainda antes do descanso.

E esse momento aconteceu mesmo, aos 39, num lance rápido do ataque benfiquista. Em bela combinação, Rodrigo dá a Lima, recebe de volta e fatura, sem grande dificuldade, aproveitando a descompensação da defesa vila-condense, apanhada de surpresa pela rapidez da movimentação. Ederson é mal batido, Rodrigo não falhou.

A estrada parecia aberta para um triufo do Benfica, com 0-1 já perto do intervalo.

Sucede que o conjunto de Jorge Jesus, tendo tido sempre mais bola que o adversário, nunca conseguiu esmagar o opositor. Na verdade, nem sequer foi abundante nas oportunidades criadas.

O segundo tempo surgiu sem alterações de parte a parte. O Benfica dava mostrar de querer fazer uma gestão controlada da magra vantagem, mas o o Rio Ave nunca chegou a deitar a toalha ao chão.

Um pouco contra a corrente, o conjunto de Nuno repôs a igualdade, em lance com muito mérito de Ukra, que aproveita o espaço dado pela defesa do Benfica em zona proibida para fazer o 1-1.

Havia ainda meia-hora para disputar e, apesar do tom inesperado do empate, prevalecia a ideia de que o Benfica estava mais perto da vitória. Rodrigo, inconformado, tentava todas as formas para bisar.

Mas viria a ser Lima a recolocar a ordem natural nas coisas. Num livre direto executado com mestria, o avançado brasileiro fez o 1-2. O empate sobreviveu poucos minutos.

Com o segundo amarelo de Wakaso, aos 69, tudo ficou ainda mais facilitado para os encarnados. Agora sim, o Benfica pôde assumir a tal gestão inteligente do resultado, que pretendera iniciar no arranque do segundo tempo, mas que teve adiar, após o 1-1 de Ukra.

Longe do brilhantismo, mas com a eficácia que se pede a quem pretende vencer fora, o Benfica aproveitou o embalo do triunfo de Bruxelas e da derrota do FC Porto em Coimbra e prolongou o bom momento, com uma vitória clara.

Este não seria, certamente, o jogo ideal para o Rio Ave sacudir o trauma dos jogos em casa.

Tudo somado, a diferença de 1-3 a favor do Benfica foi não só o resultado mais justo como o desfecho mais natural.

O futebol não tem sempre que ser uma coisa complicada.