A ’Euro 2016 Network’ reúne órgãos de comunicação social de vários pontos da Europa para lhe apresentar a melhor informação sobre as 24 seleções que vão disputar o Europeu de França. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Por Emanuel Rosu

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«Análise táctica e questões chave»

Com a defesa mais avara da qualificação – a Roménia concedeu apenas dois golos nos seus dez jogos – Anghel Iordanescu voltará a jogar para seus pontos fortes ; ou seja, fazer o máximo de um núcleo de jogadores subestimados, trabalhadores e famintos num sistema disciplinado 4-2-3-1.

Ciprian Tatarusanu da Fiorentina é tido como a primeira escolha entre os guarda-redes, mas a maior dor de cabeça defesa de Iordanescu é encontrar um lateral-direito adequado. Paul Papp foi a primeira escolha durante a qualificação, mas tem tido uma forma deficiente no Steaua Bucareste, onde ele tem sido frequentemente preterido. Portanto, Cristian Sapunaru o ex-Porto do Pandurii, ou Alexandru Matel, do Dinamo Zagreb, são opções mais prováveis. No lado esquerdo da defesa está o capitão de Iordanescu, Razvan Rat, que voltou recentemente depois de uma cirurgia ao ombro.

Vlad Chiriches, agora em Nápoles após uma experiência mal sucedida no Tottenham, e Dragos Grigore são os favoritos para ocupar as posições de defesa central com Cosmin Moti, do Ludogorets, e Gabi Tamas, do Steaua, como substitutos. Chiriches tem mais experiência e é sem dúvida o jogador mais valioso de Iordanescu, mas os seus desempenhos nesta temporada foram marcados por erros infantis em momentos críticos e uma tendência para perder a cabeça quando no um para um.

A monitorizar o quarteto defensivo a partir do meio campo estarão Ovidiu Hoban, do Hapoel Be'er Sheva, e Mihai Pintilii, do Steaua. Ambos são disciplinados e vistosos a partirem o jogo, mas oferecem pouco na forma de ameaça atacante.

E esse é o maior dilema de Iordanescu. Por tudo o que a Roménia dá de garantia na defesa e de eficácia no contra-ataque, a questão continua a ser o que o treinador vai fazer caso a sua equipa fique a perder. Como ficou demonstrado na fase de qualificação, sem um plano B o ónus do ataque fica com os quatro da frente de Iordanescu.

Em luta pelo posto de ponta de lonça estão Denis Alibec – o avançado em destaque na Roménia nesta temporada – Florin Andone, que tem estado a brilhar no Cordoba, em Espanha, e Claudiu Keseru , atualmente no Osmanlıspor. Os três estão em grande forma, mas Alibec parece ser o favorito, mesmo se Iordanescu criticou o avançado ex-Inter por excesso de peso.

Mas é na composição da linha de três homens atrás do ponta-de-lança que Iordanescu tem de acertar. À direita, Adi Popa, do Steaua, e Gabriel Torje – emprestado ao Osmanlıspor pela Udinese – são dois alas rápidos e vão lutar por um lugar, enquanto na esquerda é provável que comece Bogdan Stancu. Stancu esteve em bom plano pelo Gençlerbirligi nesta época, foi fundamental para a Roménia na qualificação e o seu remate de longo alcance é uma arma perigosa, mesmo que ele esteja desaparecido durante grandes períodos do jogo.

E no meio Iordanescu deve escolher entre jovens e velhos. Nicusor Stanciu, 23 anos, mostrou-se como novo titular do Steaua nesta temporada, deslumbrante no papel de nº10 com os seus dribles, os passes excelentes e perigosas cobranças de livres. Ele também foi excelente no empate sem golos entre a Roménia e a Espanha em março. Ou então há Lucian Sanmartean, de 35 anos, no crepúsculo da carreira com o Al Ittihad da Arábia Saudita; sendo, no não obstante, um jogador cheio de magia.

Onze provável (4-2-3-1): Tătărușanu; Săpunaru, Chiricheș, Grigore e Raț; Hoban e Pintilii; Popa, Stanciu e Stancu; Andone.

Que jogador da Roménia vai surpreender todos no Euro?

Florin Andone joga na segunda divisão de Espanha pelo Cordoba, mas tem a capacidade criar problemas à oposição de alto perfil. Inteligente, rápido, forte e disposto a lutar pelos seus objetivos, Andone será a principal esperança da Romênia para marcar golos no Euro 2016.

Quem é o jogador que vai desiludir mais?

Răzvan Raţ teve uma temporada complicada no Rayo Vallecano, que terminou com a despromoção à segunda divisão espanhola. O jogador de 35 anos de idadeausente durante meses depois de submetido a uma cirurgia ao ombro, mas o seu estatuto de capitão garantiu que fosse chamado ao grupo que vai viajar para França. Se estiver totalmente em forma, será certo no lado esquerdo da defesa.

Qual é o objetivo realista da Roménia no Euro e por quê?

Se os treinadores e os seus jogadores podem elevar a autoestima e não se deixarem assolar por frustrações óbvias, a Roménia pode chegar à fase a eliminar. A equipa espera que seu estilo de futebol reativo e compacto de futebol proporcione uma alternativa competitiva à que as gerações anteriores mostraram no plano internacional. Os casos de Andone, Chiriches e Stanciu são os de jogadores com a fome para que isso aconteça – mesmo numa época em que o futebol romeno não tem génios.

Por Lucian Lipovan

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«Segredos por detrás dos romenos»

Anghel Iordanescu – selecionador

Iordanescu voltou para o terceiro período como treinador da seleção romena em 2014, após oito anos sem treinar uma equipa. Ele tinha estado ocupado no posto de senador no parlamento romeno, mas voltou ao redil, apesar de ter apoiado Gica Popescu, o candidato da oposição ao atual presidente da federação, Razvan Burleanu. Um homem muito religioso que muitas vezes beija ícones de santos antes dos jogos, Iordanescu é um general no exército romeno – um título concedido por mérito no desporto – e tem um currículo formidável, tendo vencido a Taça dos Campeões como jogador/treinador-adjunto com o Steaua Bucareste, que era a equipa do exército, em 1986. Foi também candidato a presidente da Câmara de Bucareste, em 2012. A sua alcunha é «Tata Puiu» , que se traduz como «Pai galinha».

Costel Pantilimon

Os pais do guarda-redes do Watford, que trabalhavam numa fábrica de aviões na cidade de Bacau, são ambos surdos. Eles começaram por levar o filho para jogar com a equipa de futebol da família quando ele tinha seis anos. «Quando eu tinha oito ou nove anos o meu pai disse-me que eu devia ser guarda-redes porque eu sou muito alto e seria mais fácil», lembra Pantilimon. Ele mede agora 2.03 metros. Depois de se tornar um guarda-redes profissional sempre fez questão de enviar dinheiro para os seus pais e ainda vai de férias com eles nalgumas vezes. O pai de Pantilimon raramente vai ver os seus jogos, mas trouxe boa sorte. «Agradeço aos meus pais tudo o que fizeram e ainda fazem por mim», diz. «O facto de eles serem surdos nunca me afetou. Quando estou longe mantemos contato por SMS e através da Internet. O seu primeiro ganho monetário, de uma aparição numa das equipas nacionais jovens, foram uns principescos 90 dólares [80 euros]. «Comprei um par de sapatos para mim e dei o resto aos meus pais», lembra.

Bogdan Stancu

O apelido de Stancu é «Motanul» – que significa «O Gato». Tímido desde a infância desde a infância, quando jovem preferia passar o tempo sozinho e era muito sensível. Quase deixou o futebol quando perdeu o pai quando tinha 14 anis, mas persistiu – também joga tênis, assim como os jogos de computador FIFA.

Gabriel Torje

Nascido em Timisoara, Torje foi para a equipa local da primeira divisão pelas mãos de Gheorghe Hagi, o treinador na altura que viu grande potencial no jovem de 16 anos. Ele depois assinou por um dos grandes rivais do Timisoara, o Dínamo Bucareste, que se gabava então: «Ficámos com o coração deles.» Alguns anos depois, causou polémica quando foi apanhado por câmeras numa festa a cantar uma música de apoio aos arquirrivais do Dínamo na capital, o Steaua, que era assim: «Steaua é o único, o mundo inteiro deve saber isto.» Para confundir ainda mais as coisas, chorou quando o Dínamo perdeu uma final da Taça para o Steaua fazendo com que os adeptos do Steaua fizessem uma canção com os palavras «Chora, Torje, chora». Não é de jogar videojogos de futebol, mas já Call of Duty é presença regular no seu computador.

Denis Alibec

O peso de Alibec quase foi razão de um debate nacional. Apesar da sua excelente forma na primeira divisão romena, Iordanescu recusou por vezes a chamá-lo à equipa nacional dizendo que ele era gordo de mais. «Ele precisa de perder dois ou três quilos antes de eu chamá-lo», disse Iordanescu. Alibec argumentou que a acusação era falsa – ele diz que o seu peso é o ideal, mas que é muito musculado. Ele gosta de jogar Counter Strike no computador e tem muitas tatuagens – e vai fazer outra com a data da qualificação da Roménia no Grupo A.

Vlad Chiriches

O jogador mais caro de sempre a ter sido vendido por um clube romeno – do Steaua para o Tottenham por 8,5 milhões de euros – Chiriches adora ir ao teatro. Gosta de sitcoms como «Modern Family , «Os Simpsons» e «Family Guy» e admira outros desportistas como Michael Phelps e Usain Bolt. Disse ter gasto 500 mil euros com o seu casamento realizado em Florença, para o qual forma convidadas 400 pessoas.

Claudiu Keseru

Uma vez, Keseru chorou quando o pai não o deixou ir ao treino de futebol depois de obter uma nota «9» escola (quando 10 era o máximo da escala). Entrou nas Olimpíadas de Matemática locais e foi a primeira criança do seu ano a ser admitido no ensino secundário. Isso foi definido pelos pais como condição para ele jogar futebol. De dificuldade em dificuldade, foi aprendendo em vários clubes na França e tornou-se um adepto do PSG. Gosta particularmente de Blaise Matuidi e inclui o centro-campista no seu melhor onze do mundo.

Razvan Rat

Rat é ávido um colecionador de vinhos, um passatempo que começou quando jogava pelo Shakhtar Donetsk na Ucrânia – onde também conheceu a esposa. Cresceu numa pequena cidade romena, Piatra Olt, onde assistiu à lendária campanha da sua seleção no Mundial 1994 na casa dos seus vizinhos porque a sua família não tinha uma televisão. Hoje adora carros rápidos e possui dois Ferrari.

Nicolae Stanciu

Stanciu é a mais nova estrela da equipa nacional – mas não gosta que lhe chamem «Nicusor», que é um diminutivo de Nicolae. Quando regressou do seu primeiro jogo de futebol quando criança, ele voltou para casa aborrecido, a reclamar: «Ninguém me passa a bola». Em casa, ajudou os pais a trabalhar na agricultura. «Nós não o levávamos para trabalhar, mas apenas para que não ficasse sozinho. No entanto, ele fugia sempre para jogar futebol», lembra a sua mãe. Às vezes, Stanciu saía de casa às 6 horas, fazia uma viagem de autocarro de 15 km até a cidade mais próxima e voltava às 9 da noite. Pediu para o seu quarto ser pintado de vermelho e azul, com o emblema da sua equipa favorita, o Steaua – por quem agora joga. No passado, era apaixonado por slot machines e apostas desportivas.

Por Emanuel Rosu

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A figura Vlad Chiriches

Vlad Chiriches não teve um tempo fácil a nível de clubes quer com o Tottenham quer com o Nápoles, mas isso não tem influência no seu peso para a Roménia. Ele era uma presença poderosa em toda a qualificação para o Euro 2016 e viaja para França como um dos líderes indiscutíveis, com o objetivo de causar uma surpresa com a equipa nacional enquanto prova que os seus críticos estão errados.

Esta primeira presença num grande torneio internacional será o maior teste da carreira de Chiriches. Haverá questões que pesam sobre si: é capaz de cumprir o seu imenso potencial no passado, ou vai simplesmente passar o verão adicionando minutos para o currículo sem causar um verdadeiro impacto?

Quem está dentro de campo tem a certeza de que ele pode cumprir, como a Roménia conseguir o seu objetivo de alcançar a fase a eliminar. «O papel de Chiriches é fundamental», acredita o selecionador Anghel Iordanescu, embora o jogador de 26 anos não queira colocar muita pressão sobre seus próprios ombros: «A geração de que faço parte tem um activo: a unidade dentro do grupo.» «Eu não sou alguém para fazer declarações. Eu só preciso me manter focado. Seria um erro pensar em outra coisa senão mo meu jogo.»

O seu impacto na Premier League e, ultimamente, na Serie A pode não ter sido o mais positivo – Chiriches começou apenas 18 jogos do campeonato nas duas últimas temporadas –, mas ele manteve sua aura na equipa nacional. A defesa da Roménia é o seu ponto de venda; sofreu apenas dois golos durante a campanha de qualificação, menos do que qualquer outra seleção.

Talvez ajude que Chiriches esteja habituado a levantar-se depois de ser atingido. Ele passou uma temporada na formação do Benfica, mas foi forçado a voltar para casa depois de uma série de lesões – temendo que a sua carreira não iria passar do chão.

O futebol foi, porém, sempre a sua ambição, mesmo que tenha levado o seu tempo a assentar como defesa central. A queda em desgraça de Chiriches no Tottenham foi repentina. Passou de homem do jogo na vitória por 2-1 em Old Trafford (em 1 de Janeiro de 2014) a suplente em menos de seis meses. Uma lesão nas costas não ajudou; nem uma mudança de treinadores no clube, assim como filmagens dele cair, aparentemente bêbado, quando de volta à terra natal não contaram a seu favor. Seja qual for a causa, caiu em desgraça e nunca atingiu o mesmo nível novamente.

A mudança do esquerdino para o lado direito da defesa não ajudou e ele fez apenas três jogos pelo Tottenham na segunda metade da temporada 2014/15 – embora não tenho prejudicado a sua posição na equipa romena. Chiriches pode esperar usar a braçadeira de capitão em Paris a 10 de junho quando a Roménia abrir o torneio contra a anfitriã França.

A dupla com Dragoş Grigore no centro da defesa é um dos poucos assuntos em que Iordanescu tem sido capaz de assumir a satisfação completa muito antes do início do Euro 2016. A força da Roménia veio da parte de trás durante a qualificação, mas Chiricheş pode fazer algo para mudar isso ele mesmo. Quando chegou à Premier League, Chiriches era conhecido pela sua capacidade de sair da defesa com a bola. Ele foi forçado a adaptar o seu estilo na Inglaterra e essas incursões raramente eram vistas. Na equipa nacional, porém, não existem tais restrições e as suas incursões ofensivas lançam muitas vezes ataques perigosos.

Apesar do entusiasmo de Chiriches para avançar pelo campo fora, o atual estilo de jogo da Roménia deve pouco a um apetite geral para o ataque. Eles puseram em prática um desempenho encorajador num empate 0-0 com a Espanha, em março. E isso serviu como um impulso de confiança espetacular para jogadores e fãs. Contra os atuais campeões europeus, os homens de Iordanescu tiveram uma atitude elétrica e não teria sido injusto sairem com uma vitória.

No seu melhor, Chiriches pode ajudar a que essas coisas aconteçam. Com sua habilidade, o uso da bola e o conforto em posse estabeleceu um novo padrão para os defesas centrais do país. Ele marcou golos espetaculares contra o Ajax e o Molde na Liga Europa, enquanto a sua elegância e criatividade eram tais que o Steaua mudou a sua tática para permitir -lhe a liberdade que o seu talento merecia.

Agora, ele vai para o Euro 2016 com o objectivo de mostrar ao mundo uma nova versão do brilho romeno – talvez não o mesmo tipo de jogadores como Gheorghe Hagi, Adrian Ilie, Dan Petrescu ou Adrian Mutu, mas cuja força do grupo poderia ser a inveja dos seus pares. «Nós vamos ter uma nação inteira atrás de nós, seremos todos Roménia e se ficarmos juntos somos capazes de fazer grandes coisas – confiem em mim.»