O Barcelona é um exemplo de admiração por todo o planeta. Mas Ronaldinho é o fenómeno dentro do fenómeno. O Barça tem muitos apreciadores há muito tempo em todo Mundo, mas, nos dias de hoje, é impossível dissociar desse estatuto o brilho que a maior estrela do futebol mundial transporta consigo e acrescenta ao muito orgulhoso emblema catalão.
O dia em Camp Nou começa cedo e cedo começam as filas para entrar no Museu do Barça. O complexo desportivo dos catalães tem características de atracção turística, com romarias diárias compostas pela mais diversas nacionalidades e um dos pontos altos é logo pela manhã, quando há treino. Aí, o ponto alto do espectáculo fala português e «joga bonito».
A entrada de Ronaldinho em cena é o ponto alto para largas dezenas de admiradores que podiam ser «peões» de um qualquer jogo de tabuleiro de geografia tal é a variedade das estaturas, das cores da pele, do formato dos olhos; que as camisolas do Barça envergadas não conseguem esconder.
A visão do jipe negro gigantesco que é grande de mais para entrar à primeira na entrada para o subterrâneo provoca o delírio na miríade, prolongado pela manobra do carro. Lá dentro, Ronaldinho, ladeado pelo seu primo que é também o motorista, e pelo preparador físico pessoal. Atrás, a mãe e a irmã.
Depositado o craque que não ousa conduzir em Barcelona para evitar qualquer entrada mais dura em quatro rodas, percebe-se que já nada mais se passará ali e começa a debandada com outro destino bem determinado: o campo de treinos mesmo ali ao lado do Camp Nou.
Só dá para os autógrafos
À medida que os minutos para o começo do treino vão diminuído, a fila de gente vai aumentando. No parque de estacionamento ali ao lado reservado, lá aparece o jipe; agora já só com o primo que vai ver o bom-de-bola melhor-que-todos em acção e o preparador físico particular que trabalha em coordenação com o departamento médico do clube ¿ cada um deles enchendo uma camisola igual onde cabem três Ronaldinhos.
Já com todo o plantel em acção, a multidão é autorizada a entrar para o espaço destinado e a banda sonora do treino passa a ter um refrão de uma só palavra: Ronaldinho idolatrado do lado de lá das vedações; um jogador normal em cima do relvado. Rijkaard tem um jogo da Liga dos Campeões para trabalhar e o momento para «jogar bonito» ainda está a dois dias de distância. Por enquanto, a peladinha é jogada a dois toques.
É como que uma chaleira a aquecer até ao regresso dos craques aos balneários. Para aqueles que conseguem chegar à zona de passagem entre o campo de treinos e o Camp Nou (a maioria crianças), recomeça a fase delirante. Ronaldinho é o único a quem os admiradores não dão hipótese de tirar uma fotografia para a posteridade nem com eles próprios, pois a avalanche de gente leva a que o contacto lado-a-lado com o craque não chegue a um minuto de autógrafos.
Entrado no estádio, o que permanece são dois semblantes: o daqueles que conseguiram em oposição com o daqueles que vão lá voltar no dia seguinte.