O Benfica está em Salónica para a segunda visita ao PAOK. Em 1999, na segunda eliminatória da Taça UEFA, a formação encarnada saiu do Estádio Toumba com um triunfo importantíssimo (1-2).

Os gregos procuraram alterar o rumo da eliminatória no Estádio da Luz, garantindo o mesmo resultado, mas Robert Enke brilhou nos castigos máximos e o Benfica seguiu em frente na prova. Por pouco tempo, de qualquer forma. Três semanas depois, foi atropelado em Vigo (7-0).

Regressemos à vitória em Salónica. 21 de outubro de 1999. A equipa de Jupp Heynckes marca primeiro por Nuno Gomes. Kostas Fratzeskos empata ao minuto 87 mas Ronaldo responde logo depois. Sim, o Ronaldo do Benfica.

«Quando chegámos lá, encontrámos uma ambiente fantástico, intimidante para nós. Para além disso, a verdade é que não conhecíamos a equipa do PAOK. Naquele tempo não era como hoje em dia, em que há informações sobre tudo», começa por dizer, em entrevista ao Maisfutebol.

O brasileiro admite que ninguém sabia, por exemplo, quem era Sabry. «Levámos com o Sabry, que jogava muito e nós não sabíamos. A verdade é que fomos surpreendidos. Fomos de olhos fechados. Lá ainda conseguimos vencer, mas eles complicaram bastante na Luz.»

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Ronaldo Guiaro jogou no Benfica entre 1996 e 2001. Seguiram-se quatro anos no Besiktas, dois no Santos e outros quatro no Aris de Salónica, o grande rival do PAOK. «O ambiente foi complicado mas nada que se compare ao que senti nos 4 anos em que joguei no Aris. Aquele dérbi de Salónica é uma coisa infernal, é mais que uma guerra.

«Lembro-me que às vezes íamos para o estádio em autocarros da polícia, com todas as ruas fechadas. Levávamos com garrafas, pedras, enfim, uma coisa fora do normal», frisa o defesa, acrescentando: «Como este é um jogo nas competições europeias, sem essa rivalidade, será mais leve. Mas mesmo assim é muito difícil jogar num Estádio Toumba cheio.»

Qual é então a receita para o sucesso em Salónica? «É preciso encarar o jogo com tranquilidade, fazer as coisas de força simples e não se envolver em confusões. Acredito que o Benfica é superior e o único desnível nesta eliminatória pode ser mesmo o ambiente do jogo na Grécia.»

«Foram cinco anos de regular para baixo»

Ronaldo Guiaro, o Ronaldo do Benfica, admite que o bom momento na Grécia não bastou para atenuar o clima de instabilidade no clube encarnado: «Na altura, o Benfica passava um um período muito difícil. Havia muita cobrança mas as pessoas não sabiam as coisas que se passavam dentro do clube. Era difícil ter estabilidade, jogar no máximo e conseguir esquecer as confusões de fora do relvado.»

«Nem eu fiz um grande trabalho no Benfica. Adorei jogar lá e acho que, se fosse agora, renderia mais. Penso que foram cinco anos de um nível regular para baixo. Era difícil ter tranquilidade. Basta ver que depois saí para o Besiktas e fiz um ano espectacular na Turquia», salienta o central, que chegou à Luz como internacional brasileiro.

Nem José Mourinho resistiu à instabilidade encarnada. «Ainda tivemos o José Mourinho no clube, era um treinador com uma personalidade muito forte, com grande futuro, como veio a provar. Hoje em dia é dos melhores treinadores do mundo. Mas até ele acabou por sair logo do Benfica», frisa.

Aos 40 anos, Ronaldo aposta na carreira como treinador e promete apresentar-se ao melhor nível para a nova realidade: «Parei de jogar há dois anos e meio e estou a apostar na minha formação como treinador. Nesta altura já teria condições de assumir um desafio, mas isso irá acontecer na altura certa. Talvez possa começar como segundo treinador para evoluir de forma mais sustentada.»

No final da conversa com o Maisfutebol, tempo ainda para um breve comentário sobre o Campeonato do Mundo que se vai realizar no seu país. «O ambiente no Brasil não está muito propício para a realização do Mundial, há muita insatisfação entre as pessoas, faltam coisas básicas. Mas acredito que, quando o torneio começar, isso conseguirá ser esquecido por algum tempo e haverá um grande Mundial», remata Ronaldo Guiaro.