Pedro Teixeira da Mota diz que nasceu sportinguista, mas deixou de sofrer com o clube leonino quando chorou baba e ranho com a derrota na final da Taça UEFA jogada em casa. Depois disso vieram anos terríveis, o sétimo lugar, a invasão de Alcochete e um afastamento cada vez maior.

Esta época, confessa o humorista, voltou a entusiasmar-se: a guardar tempo na agenda para ver os jogos, a seguir as notícias, a gritar os golos. Grande parte da explicação para esta reaproximação está em Ruben Amorim. Finalmente o Sporting tinha um rosto com quem se identificava.

«O Sérgio Conceição vê-se mesmo que é um gajo do futebol, que tem aquela, não vou dizer raiva, mas aquela intensidade a que o futebol está associado. O Jorge Jesus também, é um gajo muito do futebol. O Ruben Amorim, sendo também uma pessoa do futebol, não parece. Tem uma linguagem muito mais livre, muito mais racional, muito mais descontraída e consegue aproximar pessoas que estão desligadas do futebol», refere em conversa com o Maisfutebol.

«E mesmo o Sporting tendo estes resultados, mesmo sendo campeão, se fosse outro o treinador, não seria a mesma coisa. Porque, lá está, ele consegue atrair mesmo as pessoas que não ligam ao futebol. Falo do meu caso: eu este ano vi as conferências pré e pós-jogo todas. E vi as flash-interviews. Porquê? Porque se via ali uma frescura, um brilho em fazer aquilo de forma diferente.»

Pedro Teixeira da Mota, uma das novas promessas do humor nacional, sobretudo entre os mais jovens, diz que a identificação com Ruben Amorim por vezes acontece nas mais pequenas coisas.

«É curioso que em todas as conferências o Ruben Amorim quer rir-se. Parece que está a aguentar um sorriso de felicidade. Faz-me lembrar quando era miúdo e tinha uma grande nota, tinha tipo um 98 num teste, e depois estávamos a falar disso e eu a fingir que era normal, mas por dentro estava a sorrir porque sabia que tinha feito um bom trabalho», conta.

«Essa mistura de humildade, com competência e sensatez faz dele uma pessoa muito especial. Depois acontece uma coisa fantástica que é olhar para um treinador de futebol e perceber que ele podia estar no meu grupo de amigos. Era impensável o Sérgio Conceição, o Jesus, o Manuel Machado ou o Carvalhal estarem no meu grupo de amigos. O Ruben Amorim é um bacano.»

Nesta altura vale a pena lembrar, por exemplo, a ida de Ruben Amorim ao Maluco Beleza, o podcast de Rui Unas. Durante mais de uma hora, ainda antes de ser treinador, falou de tudo um pouco, com um à vontade pouco visto entre as pessoas do futebol. Parecia estar no ambiente dele.

«O futebol é um mundo tão fechado, tão sensível, tão distante, tão fora da nossa órbita, mas depois aparece um gajo como o Ruben Amorim, que parece um de nós. É novo, tem um discurso bacano, é real, tem humor. É muito interessante ver um tipo de 36 anos com esta proximidade com os jovens. Não sei se vai revolucionar o futebol, mas pode trazer uma nova linguagem», responde.

«Aliás, falo disso muito com o meu manager, o Afonso, e com outros amigos. Falámos do Ruben Amorim como se fosse um de nós.»

Ora esta conversa lança uma dúvida: será que a forma de ser descontraída e cool de Ruben Amorim, pode estar a trazer mais adeptos ao Sporting, e sobretudo adeptos que de outra forma dificilmente poderiam chegar ao clube leonino?

Jaime Pereira tem 17 anos, é sportinguista e concorda em tudo com Pedro Teixeira da Mota. «Não tenho um amigo que não se identifique com Ruben Amorim», atira.

«No meu grupo de amigos mais próximos sempre fomos muito fervorosos do Sporting, mas tenho outros amigos que não eram tanto e agora começaram a acompanhar mais. A forma de ele comunicar, de chegar aos adeptos, de mostrar orgulho nos jogadores é uma lufada de ar fresco. Mostra uma grande irreverência, talvez por ser mais novo, e sempre soube separar o bom do mau que há no futebol, para trazer para a carreira de treinador só o que é bom.»

Por isso, Jaime Pereira adianta que Ruben Amorim é o treinador com que sempre sonhou. «Quando penso no treinador ideal para o Sporting, ele reúne todas essa as características.»

Guilherme Pereira, 16 anos, também ele adepto do Sporting e feliz da vida com o homem do leme, assina por baixo tudo o que ficou dito acima.

«Acima de tudo é um treinador jovem, que leva o trabalho a sério, mas que ao mesmo tempo consegue estar sempre tranquilo e tem um discurso muito controlado, com os pés no chão, sem manias e que se foca muito naquele que ele pode controlar. A imagem que transparece é de um tipo jovem, que está sempre na boa. Do que vejo, é um bacano», conta.

«Um jovem que esteja de fora e que não ligue tanto a futebol, quando vê por exemplo uma conferência do Sérgio Conceição ou do Jorge Jesus o que pensa é: não gosto disto, muita agressividade, muita rigidez, são pessoas demasiado sérias, muito tóxicas. Já quando olha para o Ruben Amorim, identifica-se com ele, porque ele é do futebol, mas é um tipo animado, bem-disposto, bem-educado, tranquilo. Sem dúvida que nos identificamos muito com isso.»

Feitas as contas, parece seguro afirmar que sim, Ruben Amorim tem essa capacidade de chegar a um público mais jovem, que muitas vezes anda mais afastado do futebol. Mas falta aqui perceber outra coisa: será que existe essa noção no mundo empresarial, do marketing e das marcas?

«Concordo plenamente e partilho da mesma opinião», responde Daniel Sá, diretor-executivo do IPAM - Instituto Português de Administração e Marketing.

«Vejo de facto que Jorge Jesus e Sérgio Conceição, apesar das idades e dos estilos diferentes, personificam o mundo do futebol como o conhecemos, enquanto em Ruben Amorim, apesar de também ser um homem do futebol, reconheço um estilo muito diferente, com um discurso transversal, que vai para além do futebol. E honestamente, isto não é um detalhe.»

Mas poderá isso significar mais adeptos, mais consumidores, mais mercados para o Sporting?

«Acho que sim, como é evidente. De uma vez por todas, temos de parar de olhar para o futebol como uma indústria isolada, como se não existisse nada à volta. O futebol compete numa enorme indústria, que é a indústria do entretenimento. Que é gigante. Além do futebol, tem todas as modalidades desportivas, tem a cultura, tem a música, tem o teatro, o cinema...», refere.

«Estes competidores todos disputam a atenção do mesmo público e dos patrocinadores. As pessoas são atraídas por diferentes fatores, claro, mas a guerra permanente no futebol português afasta pessoas que optam por fazer outras coisas e deixam de ir ao estádio, de ver jogos na televisão, de comprar camisolas. Esta postura de Ruben Amorim, inclusivamente saindo dos canais convencionais, é um passo decisivo, e que todo o futebol devia dar.»

Daniel Sá reitera por isso que Ruben Amorim pode significar um novo paradigma no futebol português, e um paradigma que signifique dinheiro. Até porque as marcas estão atentas.

«Um treinador em Portugal faz cerca de 150 conferências de imprensa por ano, o que o coloca no patamar dos políticos ao nível de visibilidade, às vezes ainda mais. Portanto, a dimensão comunicacional ganhou uma importância enorme: um treinador quando fala, está a falar para a sua equipa, para o público, para os adversários, para os patrocinadores», sublinha.

«Para além disso, o futebol português há muitos anos que vive uma guerra permanente, com suspeitas constantes, acusações, enfim, tantos, tantos casos, que o normal no futebol português é a turbulência. Esta turbulência afasta muitas pessoas do futebol, que se cansam e ficam fartas que esteja constantemente a colocar-se a dúvida sobre a verdade desportiva. Na verdade, e apesar de ter sido expulso quatro vezes, e apesar do problema com o curso de treinador, reconheço que Ruben Amorim transmitiu sempre uma tranquilidade e uma calma que veio romper com o que é normal no futebol em Portugal. Teve sempre um discurso positivo e uma postura correta.»