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A entrevista, com participação activa dos novos leitores do www.maisfutebol.iol.pt, ficou agendada precisamente para o dia em que estoirou a «bomba» da rescisão de João Pinto com o Benfica. 

A importância do sucedido marcou a concentração da Selecção portuguesa antes da partida para a Holanda e acabou, naturalmente, por condicionar os planos da conversa com Rui Costa. Como benfiquista e amigo de longa data do ex-capitão encarnado, o médio da Fiorentina não hesitou em desabafar o que lhe ia na alma. 

De qualquer modo, houve tempo para debater com Rui Costa temas prementes como o Europeu de todos os sonhos portugueses, a sua situação na Fiorentina ou a relação que estabeleceu com a internet. 

Escolhemos, entre cerca de cem propostas recebidas, três perguntas dos nossos leitores para colocar directamente à estrela portuguesa. Seja como for, Rui Costa guardou todas as questões que nos foram enviadas e, ainda que de forma indirecta, acabou por responder às dúvidas da maioria. 

Por imperativos jornalísticos que se prendem com normas do discurso escrito, facilitação da leitura e questões temporais, a versão escrita da entrevista sofreu ligeiras modificações em relação à conversa original, que também poderá ser vista na versão video. O agrupamento das respostas por temas é a alteração mais visível. Fica a garantia, contudo, de que o pensamento de Rui Costa foi integralmente respeitado. 
 

- O episódio de João Pinto abala ou fortalece a Selecção? 

- Gosto sempre de realçar as partes positivas das coisas. Neste caso, ainda bem para o João que aconteceu numa altura em que entrou em estágio e estará com 21 colegas e todo o staff da federação a ajudá-lo a superar este momento. O João é um grande profissional, fundamental para esta Selecção. Vai conseguir superar a situação e ajudar Portugal a atingir o feito que todos nós pretendemos. 

- O Rui comentou o caso com alguma mágoa, até na sua qualidade de benfiquista... 

- Sim. Pode dar-se o caso de as pessoas pensarem que sou amigo do João, que era companheiro de quarto dele no Benfica e sou na Selecção e portanto falo só por amizade. Mas não o faço, como creio que nenhum benfiquista esteja neste momento a falar por amizade. Falo acima de tudo por benfiquismo, por aquilo que o João deu e pretendia dar ao clube e não lhe foi permitido. Além do mais falo com mágoa, porque a forma como foi feita esta dispensa deixa algo no ar em relação à desorganização que reina neste momento no Benfica, à falta de carácter que houve. O João não fez parte da lista de dispensas, foi dispensado na semana a seguir. Isto quando, por vontade do Benfica, já estava dispensado há muito mais tempo. Não se consegue compreender o porquê de as pessoas não terem sido responsáveis ao ponto de terem incluído o nome dele quando saiu a lista. 

- As suas críticas incluem o treinador e a administração da SAD... 

- Todos. Não estamos a falar de um jogador qualquer, estamos a falar do João Pinto, que foi a bandeira do clube até ao dia em que rescindiu. É um dos melhores jogadores portugueses de sempre. E digo mais, não só como homem do futebol mas por uma questão de lógica: se o treinador e o presidente do Benfica não contavam com ele, ou o Benfica tem os cofres cheios e não precisa de ganhar dinheiro, deixando o João sair a custo zero, ou então têm Pelé, Maradona e Eusébio na frente e então podem prescindir do trabalho dele. 

«Custa-me muito a engolir» 

- O João Pinto é um bode expiatório de seis anos de insucesso? 

- Acontece sempre assim quando uma equipa grande tem um grande jogador e não ganha. Mesmo ao nível da imprensa, é muito mais fácil meter em dificuldades um jogador como o João Pinto do que - com todo o respeito ¿ outro que jogue pouco ou não seja tão influente. Ele paga pela importância que tem no clube e porque era muito fácil acusá-lo de determinadas situações. Fui campeão ao lado do João e ninguém se pode esquecer da importância que ele teve naquele ano. O João não se tranformou. O que se transformou, pela negativa, foi a qualidade do futebol do Benfica. 

- Acha que seria melhor para ele continuar em Portugal ou sair para o estrangeiro? 

- Só ele, neste momento, poderá decidir o que é melhor. Com certeza ele não estava à espera e por isso não está preparado para dizer o que quer, porque tem que pensar muito bem nisso. Fomos todos apanhados de surpresa, principalmente ele. Posso confirmar que só neste estágio ele soube o que se estava a passar. Ele disse-me antes do jogo contra o País de Gales e praticamente não lhe dei atenção. Estávamos a preparar o jogo e eu até pensei que ele estava na brincadeira. Só mais tarde falámos mais seriamente e percebemos que estavam a correr com o João Pinto do Benfica. É lamentável. Creio que todos os benfiquistas estão tristes, mesmo aqueles que a determinada altura possam ter contestado o João. Sou jogador de futebol, respeito o que a Direcção do Benfica fez, mas custa-me muito a engolir, principalmente sabendo da importância que o João tem naquele clube. 

- O que sentiria se visse João Pinto no Sporting? 

- É um jogador livre e vai ter que escolher o melhor para ele. Se for o Sporting vai doer-me o coração, mas irei abraçá-lo, porque acima de tudo sou amigo dele. 

- A sua saída é menos um atractivo para o Rui voltar? 

- Neste momento isto é menos um atractivo para todas as pessoas que estão desiludidas, insatisfeitas e tristes porque o clube não ganha.