Está gordo. Está fora de forma. Está muito pesado... são apreciações que fartamente se ouvem a respeito de jogadores que se apresentam com uma constituição física excessiva relativamente a colegas de equipa ou adversários – é indiferente, neste ponto.

Estrelas planetárias do futebol, como o argentino Maradona, o inglês Gascoigne, os brasileiros Ronaldo e Adriano, ou o paraguaio Chilavert, por exemplo, foram alvos de dedicada apreciação em momentos em que a sua aparência física deslustrava a figura com que se fizeram famosos – mesmo que a sua constituição física não deixasse espaço a tão grandes surpresas.

Recentemente, houve outros jogadores que sobressaíram – ou voltaram a sobressair – para fora do jogado por esses mesmos aspectos de ordem física.

Adebayo Akinfenwa esteve sob atenção especial na Taça de Inglaterra frente ao Liverpool. Por causa de um golo. E porque este seu autor dá nas vistas para além das qualidades de concretizador. A atenção especial não foi tanto por ele ser um adepto confesso dos «reds», ou porque o Wimbledon pôs em causa a superioridade do Liverpool,mas, mais uma vez, porque o inglês de ascendência nigeriana não cabe lá muito bem no corpo do «futebolista modelo».

Foi no passado dia 5.



Walter é o avançado internacional sub-20 pelo Brasil que em 2010 veio para o FC Porto, mas que, duas épocas depois, acabou emprestado. Até hoje. Independentemente da sua capacidade concretizadora de golos. E apesar do seu contrato com os dragões até 2016. O excesso de peso que Walter tem tendência para apresentar já faz parte do seu cartão de visita.

No passado dia 7, deixou aquela sua marca no regresso aos treinos no Fluminense, como foi noticiado pelo Maisfutebol.
 


Quando em 2014 chegou ao Fluminense, com 25 anos, Walter pesava 106 quilos. Perdeu 25 quilos em 15 dias, mas ainda não chegava... Com uma altura de 1,78 metros, números daqueles fazem disparar o índice de massa corporal para cima dos 30 pontos, para níveis que estão na classificação de obesidade – o índice adequado deve registar-se entre os 18,5 e os 25. Mas, acima dos 30 pontos de índice também está Akinfenwa; ele que mede 1,80 metros e, aos 32 anos, pesa 102 quilos. E este é o seu peso sem obrigação de reduções.

Há diferenças? Há. Nem tudo pode ser lido da mesma forma. Akinfenwa é conhecido como «a besta» devido ao seu tamanho. O avançado do Wimbledon sempre foi grande. É muito musculado. Levanta pesos na ordem dos 180 quilos. É o jogador mais forte há várias épocas num dos videojogos de futebol mais conhecidos do mercado.

«Ter um índice de massa corporal elevado não quer dizer obeso». O esclarecimento é feito por Maria Filomena Vieira, professora na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, pois a classificação de obeso de acordo com o índice justifica-se se esse valor «for representativo da gordura corporal».

A Antropometria é uma técnica que nos permite avaliar a morfologia humana utilizando variáveis da estrutura e da massa corporal, como a medida das pregas adiposas ou o perímetro dos membros. E dentro da morfologia humana há três tipos de indivíduos: o endomorfo (que é o que tem gordura a mais em relação à sua estrutura); o mesomorfo (com uma grande robustez física e grande massa muscular); e o ectomorfo (com pouca massa muscular em relação à sua estrutura).

Com um exemplo do dia a dia, a professora explica-nos que «é por isso que se diz que umas pessoas comem, comem, e nunca engordam e há outras que engordam só com o ar». E mesmo com a sua morfologia predominante, nenhum deles é estanque em relação aos outros tipos. Ou seja, também partilha das outras.

Um endomorfo terá tendência para engordar quando pára o exercício físico. Mas um ectomorfo não engordará. Até pelo contrário, poderá emagrecer porque a sua massa muscular desenvolvida com o exercício desparecerá: estar-se-á perante um mesoectomorfo. Cristiano Ronaldo, por exemplo, poderá ser incluído dentro da categoria ectomesomorfo.

«Às vezes engana», diz o director técnico nacional da Federação Portuguesa de Râguebi: «Lembro-me de dois jogadores, de 130 e 148 quilos, que tinham um metro e oitenta e dois metros de altura. E que diziam sobre eles Como é possível?!» «Era exatamente o contrário, conta Tomaz Morais. «Estiveram no Campeonato do Mundo, com um espírito de sacrifício enorme e superaram todas as dificuldades.» «É a minha prática em relação a dois casos excepcionais», frisa o antigo seleccionador nacional de râguebi.



Em 2011, no FC Porto, Walter confessou, numa citação do «Record»: «O treinador disse-me que eu só jogava... quando estivesse com o peso certo. Emagrecia e voltei a ser opção.» Seguiram-se os empréstimos, Primeiro para o Cruzeiro, seis meses depois o Goiás, onde chegou mais uma vez com peso a mais. Mas, como ficou lançado pela entrevista anterior, o avançado superou a morfologia e levou a equipa a ganhar o Brasileirão B como melhor marcado da prova.

Em 2013, Walter reconhecia: «A questão do peso sempre foi um problema para mim, não nego. Luto mesmo com a balança, mas nunca vão ver-me magro.» Já neste ano, quando foi para o Fluminense, o treinador Remato Gaúcho abordou o caso também para o «UOL»: «Já sabíamos do problema do peso. Os preparadores têm falado bastante com ele (...) a nossa nutricionista tem falado com ele.»

É assim, essencial, aliar «as características genéticas» à correcção dos «erros alimentares» que são cometidos «durante muito tempo sucessivo» e, especialmente, em idade de formação. «Hoje, não há um equipa que não tenha elementos permanentes em termos nutricionais, um médico efectivo» com essas preocupação, diz Tomaz Morais. António Gaspar, fisioterapeuta e recuperador físico, destaca também o cuidado que é necessário ter na gestão «dos hábitos alimentares» relativamente ao «plano metabólico».

«Os jogadores que têm tendência para ganhar peso têm de ter um esforço maior a par da equipa», refere o fisioterapeuta da seleção nacional de futebol confirmando que «se a propensão para engordar resulta do índice de massa corporal, há uma propensão maior para lesões, além da questão da optimização das suas capacidades, das suas qualidades».

«E, também na recuperação de lesões, é sempre mais difícil para quem tem tendência para ganhar peso. António Gaspar admite que «é preciso cuidados redobrados na recuperação», pois «tem muito a ver com a consciencialização do indivíduo». «E tem, claro, muito a ver com o desporto que se pratica; para o futebol é uma coisa, para o râguebi outra, para o halterofilismo outra...»

Dietas disparatadas

«O desporto de alta competição exige mobilidade», lembra Tomaz Morais. Maria Filomena Vieira afirma que o excesso de peso «terá um reflexo inevitável na alta competição pela capacidade de produção de energia». Professora da cadeira de Cinantorpomorfia na faculdade, a académica explica que esta disciplina permite aliar o movimento à medida do corpo para definir o perfil morfológico de um potencial atleta fazendo convergir a «variação de talentos para as características específicas das diversas modalidades».

Mas, mais uma vez, não é tudo linear. A professora universitária lembra também que o peso de um atleta ganha também «mais evidência nos desportos que o têm como factor para estar na competição». «Nessas modalidades, há disparates que se fazem – como dietas enormes em poucos dias – para perder quilos» e poder competir na categoria de peso que se pretende, como são os desportos de luta, judo ou boxe, por exemplo.

E sem falar nos excessos e comportamentos desregrados, como consumo de álcool ou drogas, alguns dos quais fazem engordar. Casos desses, juntaram-se à propensão para ganhar facilmente peso de alguns dos que foram referidos logo de início...