Faltam duas semanas para o início do campeonato do mundo e no Brasil é difícil pensar noutra coisa. Seja para protestar ou imaginar os grandes jogos que estão quase a chegar, ou o muito negócio para fazer, no país tropical a festa começou há muito, mas Luiz Felipe Scolari quer manter a seleção protegida desse ambiente, sabendo que só com objetividade vai alcançar resultados.

Já com todos os jogadores em estágio após a integração do campeão europeu Marcelo, Felipão definiu uma série de regras bem restritas para fazer da Granja Comary uma fortaleza. O centro de treinos fica nos arredores de Teresópolis, a cerca de 100 quilómetros do Rio de Janeiro, mas a polícia decidiu vedar uma área alargada de um quilómetro e meio em redor das instalações para evitar eventuais protestos. Um helicóptero da Polícia Federal sobrevoa os campos de treino da equipa para garantir a segurança.



No entanto, toda essa proteção não evitou que os jogadores fossem vaiados na segunda-feira quando chegaram à Granja para iniciarem os trabalhos. Em entrevista ao jornal «Estado de São Paulo» Scolari matou o assunto: «O Mundial fora de campo não é assunto para os jogadores. Quem tem de tratar das manifestações é a polícia e o governo. Nós só temos que explicar aos atletas que a sua função é jogar à bola».

Neste esforço de consciencialização foi pedido aos jogadores para terem cuidado com o uso das redes sociais, embora não tenham sido restringidas. «Os jogadores terão liberdades desde que não interfiram com o nosso trabalho», disse o treinador quando anunciou a lista de 23 convocados, frisando a importância de utilização «responsável» destas plataformas: «Cada um assume o que escreve, estão a dar a sua opinião particular, não da equipa».

A própria federação mantém uma ligação permanente às redes socias, divulgando muita informação sobre os trabalhos da equipa.



Também foi delineado um plano especial de deslocação dos jogadores caso surja um programa de saúde grave e a solução passa mais uma vez pelo helicóptero, que transportará o atleta de forma célere para um dos hospitais centrais do Rio de Janeiro, conforme foi relatado pela Prefeitura de Teresópolis.

Os problemas mais simples, como exames ortopédicos para identificar lesões, serão realizados no centro de treinos, uma vez que os muitos milhões investidos no local permitem a disponibilização de meios avançados para este tipo de tratamentos.

Encerrados na Granja Comary, os atletas só vão sair para fazer os jogos, pelo que Scolari voltou a recorrer à psicóloga Regina Brandão para delinear um plano de gestão das emoções da equipa. A especialista chegou esta quarta-feira ao local, acompanhada por duas colegas, e pretende conversar individualmente com cada jogador para traçar um perfil, recorrendo a um inquérito uniformizado.

As perguntas assentam em temas tão díspares como a reação à marcação de um golo, o que o leva a fazer uma falta ou até que ponto sente a falta da família. Também é pedido aos jogadores para definirem numa escala numérica o grau de importância de certos momentos nas suas carreiras.


De regresso ao escrete, onde foi campeão do mundo em 2002, Scolari repete fórmulas, pelo que a comparação com o Mundial da Coreia e Japão é fácil de fazer. Desde logo voltou a escolher um grupo de quatro capitães: Thiago Silva, Júlio César (o mais experiente), Fred e David Luiz. «É a filosofia de trabalho dele. Ele escolhe quatro jogadores para serem líderes, mas temos outros líderes também. Isso é mais para as reuniões em que se discutem coisas internas. Os quatro são chamados para isso. Mas o grupo todo é experiente. Alguns jogadores são mais jovens, mas consagrados, com experiência internacional, e a opinião de todos é sempre válida. Todos têm liberdade para falar, para se expressar», revelou Júlio César.

O primeiro assunto discutido por este grupo foi a divisão de 35 milhões de dólares em prémios de jogo caso o Brasil seja campeão do mundo. Até ao início do campeonato, a 12 de junho, estão previstos mais oito encontros, que esporadicamente poderão contar com a participação de outros atletas, nomeadamente os mais brincalhões, como Fred e Marcelo. Algo que Felipão também gosta de cultivar no grupo.