Vítor Pereira, presidente do Conselho de Arbitragem, voltou este sábado a condenar aquilo que designou por «clima e atos de violência e intimidação sobre os árbitros» ( veja porquê).

A 28 de janeiro tinha condenado os «atos ignóbeis de vandalismo» e apelado «mais uma vez, à contenção e atitude pedagógica de todos os agentes desportivos e adeptos do futebol» ( recorde o caso).

Desta vez foi um pouco mais longe ao defender que está «na altura de todos os dirigentes desportivos condenarem este tipo de condutas e fazerem também eles a defesa daquilo que é uma figura incontornável de um jogo de futebol».

Vítor Pereira concluiu lembrando o óbvio: «Não há futebol sem árbitros».

Percebo as intervenções de Vítor Pereira, embora entenda que são insuficientes face à dimensão do problema.

O que estamos a viver no futebol português exigia medidas urgentes, a um outro nível. Exige, por exemplo, que  presidente da Federação, presidente da Liga e até Secretário de Estado do Desporto (existe, não é?) falem.

Que tipo de intervenção?

A realização urgente de uma reunião com os presidentes de todos os clubes da Liga.  Depois disso, uma comunicação pública, forte e inequívoca, que condene o que está a suceder.

Para os mais atentos, recordo o que está a passar-se.

1. Intervenções agressivas de dirigentes desportivos sempre no mesmo sentido: desculpar os maus resultados com o trabalho dos árbitros, fazendo crescer a suspeição de que as pessoas que dirigem os jogos não mrecem confiança.

2. Políticas de comunicação dos clubes mais poderosos, sempre com o mesmo objetivo: condicionar o trabalho dos árbitros.

3. Ameaças a árbitros e destruição do seu património, além da sensação, que a mim me incomoda particularmente, de que há pessoas que conhecem em detalhe a vida dos árbitros e seus familiares.

É evidente que isto não pode continuar, por duas razões simples.

1. Os árbitros e seus familiares são pessoas e têm direitos que devem ser protegidos e garantidos.

2. O futebol não resiste a este tipo de histórias e comportamentos da parte de quem deveria defendê-lo.

Face ao que se passa, manifesto a minha surpresa por não ver o presidente da Federação Portuguesa de Futebol na linha da frente da defesa dos árbitros. Fernando Gomes é um desportista e uma pessoa de coragem. Este é o momento de dar um passo em frente.

Pode ser que o desempenho de Vítor Pereira à frente do Conselho de Arbitragem não seja perfeito ou sequer popular. Mas enquanto estiver no cargo não poderá ser deixado sozinho. E neste momento é isso que Vítor Pereira parece: um homem entregue a si próprio, a combater um problema muito maior do que ele. E por isso, fatalmente, condenado ao insucesso.

Do presidente da Liga nada espero. E dos presidentes dos clubes idem. Com honrosas exceções, sempre foram antes de tudo egoístas, para dizer o mínimo.

Como se não bastasse, os clubes estão divididos e fazem reuniões para conspirar e tentar a queda de Mário Figueiredo. Enquanto isso (ou também por causa disso...), FPF e Liga discutem na praça pública questões que deviam envergonhar as duas instutuições, como esta das transferências.

Neste clima, espero que os árbitros já tenhm percebido o básico: estão entregues a si próprios.

Se me encontrasse no lugar deles saberia o que fazer: entregava o apito. Enquanto é tempo. 

Dirigentes e adeptos fanáticos (felizmente, acredito, ainda não são a maioria) mereciam enfrentar a vergonha de um campeonato sem árbitros, no ano em que Lisboa recebe a final da Liga dos Campeões, Cristiano Ronaldo é o melhor jogador do mundo e José Mourinho lidera o melhor campeonato do Mundo.

NOTA: Caro leitor, não fique com a ideia errada. Não acho que os árbitros são tipos perfeitos e a quem assiste toda a razão. Nada disso. Por exemplo, da última vez que um deles não foi apitar (João Ferreira, num Beira Mar-Sporting, em agosto de 2011), o que sucedeu? No jogo seguinte foi nomeado Pedro Proença e tudo voltou à normalidade. Acho é que os árbitros são o elo menos protegido do futebol e devem ser defendidos dos ataques miseráveis de que são alvo.