Futre voltou ao «céu». Ao seu «céu». «Para mim, não há nenhum clube no mundo acima do AC Milan. Chegar a este clube é o mesmo que chegar ao céu». A ideia foi dita por Paulo Futre durante a sua apresentação como administrador geral da Scuola Calcio Milan em Portugal. O evento decorreu no Estádio do Bessa, um dos palcos onde o gigante italiano se instalou. Lisboa e Madeira albergam outros centros de formação.

A cara do projecto será, então, Paulo Futre, o primeiro português a vestir aquela camisola. «Foi um dos cinco grandes momentos da minha carreira. Vinha do Reggiana, o clube mais pequeno onde joguei, e o Milan era o céu. É, por isso, uma grande honra poder representar aquele que para mim é o melhor clube do mundo», afirmou Futre.

Palavra de Futre: a Liga, a selecção, Falcao e o resto

Com o auditório do Estádio do Bessa repleto com as crianças que integram a escola, que abriu em Setembro do ano passado, Futre abriu o leque de histórias. Contando várias passagens da sua carreira, tentou chamar a atenção dos jovens para a grande oportunidade que têm numa escola com tão boas condições.

E deu um exemplo: «Eu jogava futebol, mas também era bate-chapas. Fiz parte da primeira e única selecção sub-11 do país. Houve vários castings, fui eleito no Montijo, depois no meu distrito, cheguei a capitão de equipa e, num torneio em França, fui o melhor jogador e o melhor marcador. Quando aterrei em Portugal, o Sporting estava à minha espera para me levar para lá. Mas esta foi uma oportunidade única naquele tempo. Não fosse isso e hoje era o melhor bate-chapas do Montijo.»

«Vou estar mil por cento concentradíssimo neste projecto»

O objectivo da Escola de Futebol do AC Milan é alargar horizontes e chegar ao maior número de pontos possíveis no país. «Queremos estar de norte a sul a formar miúdos para a alta competição. Vamos criar uma bolsa especial para quem não tiver condições de pagar a formação e queremos fazer protocolos com Câmaras Municipais. Se conseguirem colocar um miúdo dessa localidade no Milan, a Câmara recebe um prémio. Não queremos pedir, queremos dar», garantiu Paulo Futre. E depois, rematou com a ideia chave, que já é um «chavão»: «Vou estar mil por cento concentradíssimo neste projecto.»

Esta é a primeira vez que Paulo Futre assume um projecto deste género apesar de já ter recebido várias propostas, inclusive para criar escolas com o seu nome. Porquê aceitar agora? «Era o Milan, não podia dizer que não», justificou.

O objectivo é «colocar o terceiro português no Milan», depois de Futre e Rui Costa. Actualmente há mais dois na equipa sub-20: Pelé e Ricardo Ferreira. A aposta no mercado português é facilmente justificável: «O jogador português é o melhor que há na Europa e somos o país mais exportador da Europa».

Também podem jogar meninas? Com certeza. Aliás, Futre ladeou-se de duas jovens presentes na cerimónia para traçar outra meta: «Quero colocar a primeira portuguesa na equipa profissional do AC Milan.»

E o que fará Futre? Ficará pelos bastidores? Para além de dar a cara pelo projecto, o antigo internacional luso promete vestir o equipamento e explica o que vai acrescentar. «Temos 90 treinadores, que lhes podem ensinar tudo. Mas eu sou a única pessoa no mundo que lhes pode ensinar uma coisa: os movimentos com as mãos. Vou equipar-me para lhes ensinar a jogar com as mãos, também», prometeu.

A camisola (não a mítica 10, mas a 28 que usou em Milão) já lhe tinha sido entregue e ele nunca mais a largou. Dezasseis anos depois, Futre é de novo «rossonero».