O cronómetro para a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016 e para o Campeonato da Europa de futebol França 2016 já está em contagem decrescente. Os atentados terroristas que nos tempos recentes deixaram marcas mortíferas em Paris e em Bruxelas tornam a questão da segurança como prioritária para todos.

A 6 de abril assinala-se o Dia Internacional do Desporto para o Desenvolvimento e a Paz, cuja proclamação foi feita pelas Nações Unidas, e o Comité Olímpico de Portugal (COP) celebrou a data com a promoção da conferência «A (in)segurança no mundo: vulnerabilidades, riscos e ameaças nos eventos desportivos».

O evento de reflexão e debate sobre segurança nos grandes eventos desportivos pretendeu assinalar a atualidade desta questão quando há duas grandes manifestações desportivas previstas. E aconteceu no preciso dia em que também se comemora a passagem de 120 anos sobre os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna – como assinalámos na última edição da MF Total

A instalação do medo

A paz e a trégua olímpica caraterísticas do espírito dos Jogos foi um dos motes com que o Presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, lançou o debate sobre a segurança – a palavra mais dita nesta terça-feira no auditório do COP – que na atualidade faz parte da organização de qualquer evento.

Na Antiguidade, as Olimpíadas eram uma época de tréguas entre os povos da Grécia Clássica, que guardavam as armas e competiam desportivamente. Pedro Pezarat Correia lembrou que, já nesta era moderna, os grandes eventos desportivos – como uns Jogos Olímpicos ou um Campeonato do Mundo de futebol – «paravam durante as guerras». O general e professor universitário foi o preletor da conferência. E atualizou a História frisando que, «hoje, os grandes acontecimentos [desportivos] fazem-se com as guerras existentes e são eles próprios alvos de terrorismo».

Se Pezarat Correia historia que o olimpismo visa o desenvolvimento do homem com vista a uma sociedade pacífica, concretiza também que o terrorismo tem como objetivo «instalar o medo para hostilizar ou coagir» destacando que «passou a ter um estatuto de tipo de guerra» ultrapassando o plano de forma de guerra.

Pedro Pezarat Correira (fotografia do COP)

«Pouco se tem feito contra o terrorismo», quer nas ações quer nas palavras analisa o orador do dia frisando que «não se vê num curto prazo a eliminação do terrorismo». E se a segurança nos eventos desportivos «é contrária» à sua definição à sua génese, «a antítese desta guerra não é a paz, é a segurança». Deporto, terrorismo, segurança: estes foram os conceitos em análise com os exemplo, mais ou menos recentes em pano de fundo.

Desde os Jogos Olímpicos Munique até ao França-Alemanha da sexta-feira 13 de novembro do ano passado, em Saint-Denis, numa das operações terroristas que mataram em Paris. Esta é uma das formas do terrorismo dos dias de hoje: tanto pode ter alvos seletivos como indiscriminados. E os acontecimentos desportivos fazem parte desta realidade.

Pezarat Correia afirma que «os grandes acontecimentos desportivos são favoráveis aos atos de terrorismo» pelo impacto que causam, pela imprevisibilidade que os enforma, pela sua visibilidade, por visarem alvos adicionais, pela dificuldade que colocam às medidas de segurança e pela subversão que provocam logo pelo medo de poderem acontecer.

O combate preventivo

«A segurança nunca poderá ser absoluta» e, assim, «o combate ao terrorismo tem de ser preventivo» e não ficar por ser apenas reativo. Até porque, antes de mais, aponta o general, nesta luta contra o terrorismo «conta mais o que se faz do que o que se evita». Um ato terrorista concretizado «vale mais» do que 10 evitados, pois o simples facto de se anunciar que se evitou um atentado já é propaganda que os terroristas aproveitam.

Mas «o terrorismo não é imbatível». E é preciso «habituarmo-nos a viver com a ameaça terrorista». «Temos de nos habituar a viver com o risco do terrorismo como vivemos com o risco das catástrofes naturais.» Esse «trunfo do terrorismo pode ser eliminado aprendendo a vivar sem medo». Pezarat Correia sublinha que «a guerra contra o desporto no terrorismo pode ser ganha, mas «só se os seus alvos não se deixarem dominar pelo medo».

A colaboração entre as forças de segurança e os organizadores dos eventos desportivo é já uma realidade assumida sem exceção e «qualquer grande acontecimento desportivo já não acontece sem esta articulação». O que importa definir é «que medidas é que se tem de aplicar», explica o general criticando os responsáveis da UEFA que puseram a hipótese de fazer jogos do Euro 2016 à porta fechada: «Nem esta pergunta deve ser feita, nem esta resposta deve ser dada.»

Recusar o medo proposto pela coação terrorista é o primeiro passo para ganhar esta guerra, no que pode ser caracterizado como uma «guerra de vontades» – o desporto é um bom exemplo pela vontade de vencer que lhe dá sentido. O combate prossegue na prevenção face à realidade dos dias de hoje, quando os ataques terroristas já são perpetrados por cidadãos dos países atacados.