Eram apenas 2500, mas pareciam uma multidão. Quase sete meses depois, um jogo grande em Portugal voltou a ter público e só por isso este nulo no Estádio de Alvalade já valeu a pena.

Que saudades dos aplausos, dos gritos, dos bruáááááás, dos siiiiiiiiiiiiins, dos gritos de «Portugal».

À exceção desta grande conquista, de resto, este Portugal-Espanha valeu sobretudo para Fernando Santos: para o selecionador perceber como há coisas que é urgente melhorar na equipa nacional.

A Espanha, sobretudo durante os 40 minutos iniciais, foi de uma superioridade atroz. Deu-nos uma lição de bem jogar. Exemplar na pressão, excelente na ocupação dos espaços, fantástica nas movimentações. Durante 40 minutos, aliás, não foram bem duas equipas que se defrontaram: foi uma equipa contra um grupo de jogadores.

A seleção espanhola defendia com as linhas bem definidas e os jogadores sempre próximos, e ataca desconstruindo a organização defensiva de Portugal: metendo vários jogadores entre linhas, prontos a receber a bola e fazer a equipa progredir no jogo.

Busquets era nesse sentido exemplar: assim que a equipa ganhava a bola, parecia automático, o médio subia no terreno a posicionar-se entre os jogadores portugueses, pronto a receber a bola.

Portugal conseguiu sacudir a pressão espanhola nos minutos finais da primeira parte, altura em que Raphael Guerreiro até teve a melhor oportunidade até então, rematando para as nuvens na linha de pequena área, e deu um ar da graça do que poderia ser o segundo tempo.

Fernando Santos lançou então William Carvalho, Ruben Dias e Bernardo Silva, nos lugares de João Moutinho, Pepe e André Silva, e sobretudo o primeiro e o último vieram alterar o jogo de Portugal. É verdade que a Espanha baixou muito a pressão, mas a capacidade de William e Bernardo jogarem entre linhas, de fazerem passes verticais e de se saberem posicionar mudou tudo.

Nessa altura, Cristiano Ronaldo atirou uma bomba à trave e Renato Sanches disparou um míssil também aos ferros, após assistência de Ronaldo. A bola, portanto, só não entrou porque não quis, até porque nas duas ocasiões andou ali a saltar em cima da linha de baliza.

Feitas as contas, as melhores ocasiões de golo foram de Portugal: três grandes oportunidades. É certo que a Espanha obrigou Rui Patrício a duas boas defesas e atirou uma bola às malhas laterais, mas não esteve tão perto de marcar como a Seleção Nacional esteve nessas três ocasiões.

As substituições fizeram claramente melhor a Portugal do que à Espanha, o que é normal: a Seleção Nacional entrou com um onze demasiado diferente do habitual, com muitos jogadores novos: Ruben Semedo, Renato Sanches, Francisco Trincão e André Silva, por exemplo.

A Espanha, essa, está novamente a construir uma grande seleção. Também não teve nomes incontornáveis como Sérgio Ramos, Busquets, Carvajal, Jordi Alba, Isco ou Iago Aspas, dando oportunidade a vários jovens: jogaram quatro com menos de 24 anos.

Feitas as contas, foi um jogo bom sobretudo para os selecionadores. Para nós valeu sobretudo pelo público.

Que saudades...