Fim.

O campeão da Europa disse esta noite adeus à reconquista do título, num duelo de 50-50, sob os 30 graus de Sevilha, decidido num pormenor.

O sonho esbarrou no poste, quando não nas mãos de Courtois, e a Seleção afogou as mágoas junto ao Guadalquivir, no Olímpico de La Cartuja, despedindo-se de forma inglória do Euro 2020.

Se em 2016 Portugal teve sorte, com o sorteio, com a chave das eliminatórias em que calhou, com um pontapé afortunado… Esta noite, teve azar. Thorgan Hazard.

«Erros meus, má fortuna, amor ardente. Em minha perdição se conjuraram», escreveu Natália Correia e cantou Amália, não sobre um jogo de futebol. A analogia, ainda assim, adapta-se. Foi este o fado da Seleção, que fez a pior participação em fases finais de Europeus.

Mas comecemos pelo início. Fernando Santos trocou Nélson Semedo e Danilo, respetivamente, por Dalot (estreia absoluta a titular) e Palhinha, que teve a difícil missão de travar as arrancadas de Lukaku e De Bruyne nas transições belgas no primeiro tempo.

Tal como na derrota em Munique frente à Alemanha, a Seleção demonstrou grandes dificuldades em controlar o jogo largo do adversário.

A Bélgica atacava com cinco e defendia com cinco, por culpa dos alas Meunier e Thorgan Hazard, sempre bem abertos a fazerem todo o flanco, obrigando Bernardo e Jota a fechar com muitas dificuldades.

Haveria de ser Thorgan já perto do fim da primeira parte a estabelecer a diferença no marcador, num lance em que apareceu mais dentro, solto à entrada da área, a rematar com Rui Patrício a ser mal batido.

Havia iniciativa dos «Diabos Vermelhos», com KDB a pegar na batuta e a variar o jogo, e resposta portuguesa a espaços. Faltava bola na frente a Portugal, que dependia sobretudo de Renato Sanches, a ganhar duelos no meio-campo e a arrancar, para permitir algum fôlego para subir no terreno.

Ao intervalo a estatística até podia enganar quem visse que Portugal rematou o dobro (8-4), mas quase sempre sem perigo, e até teve mais posse de bola (54%-46%). Correu, ainda assim, menos 1,5 kms (52,9 contra 51,4).

Era uma equipa demasiado curta. Só deixou de sê-lo quando com a Bélgica já sem De Bruyne, que saiu logo no início da segunda parte, ressentindo-se de uma entrada de Palhinha, Fernando Santos arriscou: aos 55m, entraram Bruno Fernandes e João Félix (estreia no Euro) para os lugares de João Moutinho e Bernardo, muito apagado.

Minutos depois, a Seleção começava finalmente a criar perigo: Jota apareceu a disparar por cima, Félix de cabeça, Bruno de fora da área… As oportunidades sucederam-se. Até que, aos 83m, Rúben cabeceou solto para uma grande defesa de Courtois e no mesmo minuto Guerreiro atirou ao poste.

Azar. Muito azar.

O jogo aqueceu, com picardias no relvado, e a Bélgica ficou na expectativa, esticando o jogo em Lukaku, sempre que possível, para poder respirar do sufoco luso.

Apesar do calor intenso e dos menos dois dias de descanso, Portugal tentou tudo até ao fim. A imagem do veterano Pepe no ataque, a disputar cada lance era a evidência de até podiam faltar pernas, mas nunca vontade.

Caiu de pé o campeão.

No entanto, foi um Euro assim-assim. Portugal tem muito talento e mesmo assim nunca foi capaz de deslumbrar. Faltou rasgo, risco e, por vezes, destemor.

Hoje, houve alguns erros e muita má fortuna. A sorte fugiu-nos, sem sabermos se a vamos voltar a encontrar.

Esta noite Portugal teve pela frente um Hazard dos «Diabos».