Portugal tem nesta quinta-feira frente à Lituânia um desafio decisivo na corrida ao Euro 2020. Em caso de vitória, e se a Sérvia não ganhar ao Luxemburgo, o apuramento pode ficar já garantido no Algarve, antes do fecho da qualificação, marcado para domingo no Luxemburgo. A Seleção Nacional parte para o jogo no Algarve como clara favorita. Facto incontestável até para quem, em Portugal, torce pela Lituânia.

«Só espero que a Lituânia não leve cinco golos...» O desabafo é de um dos poucos jogadores lituanos em Portugal. Kornelijus Kontutis tem 21 anos e joga no Calipolense, nos Distritais de Évora. Está cá desde criança, fala português com sotaque alentejano e até já tem um diminutivo que soa bem mais familiar: «Também me chamam Nelo.»

«Vim para Portugal com nove anos. Os meus pais vieram à procura de trabalho. Vieram logo para o Alentejo», conta o defesa central que mantém a ligação ao seu país de origem: «Tenho lá família, tios, avós. De dois em dois anos vou lá.» Sobre a Lituânia, Kornelijus fala com carinho: «É um país pequeno, não tem muita população. É bonito, que posso dizer mais? Têm de ir lá ver.»

Quanto a futebol, as coisas são complicadas. «Não conseguem lá chegar. Há alguns bons jogadores, só que não chegam lá, não conseguem», resume Kornelius a falar das limitações da seleção de um país de 2,5 milhões de habitantes, que recuperou a independência da União Soviética há menos de três décadas e está no 132º lugar do ranking da FIFA. Em três confrontos com Portugal, a Lituânia sofreu três goleadas: 5-1 em 2000, num particular em Viseu, 4-1 em 2004, no Bonfim, no final da preparação para o Euro 2004 e há apenas dois meses 5-1 em Vilnius, já na qualificação para o Euro 2020. Está no último lugar do Grupo B, com um ponto, ganho no empate em casa com o Luxemburgo.

É um país onde o futebol nem é o desporto mais popular. A Lituânia é muito forte no basquetebol e essa é a modalidade que os miúdos se habituam a praticar, conta Kornelijus: «Eu morava numa vila. E os amigos que ainda lá tenho não têm ligação ao futebol. Gostavam mais de basquetebol. É a principal modalidade lá.» Com ele foi diferente: «Comecei desde pequeno a gostar mais de futebol do que de basquetebol e o primeiro presente que me ofereceram foi uma bola de futebol. Tinha sempre a minha bola no pé.»

Quando se mudou com os pais para Portugal, Kornelijus quis manter a ligação ao futebol e procurou um clube para jogar. «Fui logo para o Elvas», conta o central que também já passou pelo Terrugem e chegou esta época ao Calipolense. E que gostava de fazer carreira no futebol, enquanto procura também um caminho profissional. «Acabei a escola, estudar para mim não dava. Não estou a trabalhar, ainda não encontrei um sítio onde me sinta bem a trabalhar. Gostava de fazer carreira como jogador, de ter sorte e oportunidade num clube maior.» E isso pode até passar por um regresso à Lituânia: «Se tivesse oportunidade de fazer uma experiência lá podia ser bom.»

«Nelo» já é um bocadinho português também, mas na hora de escolher um lado para o jogo de amanhã não tem dúvidas: «Tenho sempre a Lituânia no coração. Mas vai ser difícil.»

Enquanto faz planos para ir ver o jogo ao Algarve, «junto com alguns colegas», Kornelijus não põe a fasquia muito alta. Torce para que a Lituânia não sofra uma goleada como a de setembro deste ano, em Vilnius, quando Portugal venceu por 5-1 com um póquer de Cristiano Ronaldo, e espera que se possa ver alguma qualidade: «Espero que a Lituânia jogue um futebol bonito. Capacidade têm, só que têm que ter também sorte.»

Quanto a Portugal, não tem dúvidas de que o apuramento vai acontecer, mesmo depois de uma campanha para a qual a Seleção Nacional partiu como campeã em título, mas que teve vários deslizes pelo caminho, incluindo a derrota com a já apurada Ucrânia em outubro: «Portugal vai conseguir passar, na quinta-feira vai conseguir os três pontos. Está no top 3 das melhores seleções do mundo.»