Portugal perdeu com Cabo Verde num jogo marcado por circunstâncias especiais, com Fernando Santos a lançar sete novos internacionais [quatro de iníco, mais três durante o jogo] que, com apenas um treino conjunto na véspera, revelaram evidentes dificuldades de entrosamento. A juntar a essas dificuldades, um forte vento que se fez sentir na Amoreira e que embalou Cabo Verde para uma merecida festa que ganhou corpo com dois golos no final do primeiro tempo. Para a história, além das sete estreias absolutas, fica também a primeira derrota da Seleção Nacional diante de um País Africano de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

Confira a FICHA DO JOGO

Não é fácil criar rotinas com apenas um treino e, embora Fernando Santos tenha procurado colocar as novas peças nas posições que costumam atuar nos respetivos clubes, isso notou-se ao longo do jogo. Cédric ainda conseguiu algumas combinações com Bernardo Silva no flanco direito e Antunes fez o mesmo com Vieirinha no lado contrário, mas a verdade é que depois notava-se a tal falta de entrosamento, não só na fase de construção, mas sobretudo nas transições defensivas, onde esta nova seleção sentiu muitas dificuldades para travar os rápidos contra-ataque de Cabo Verde.

Rui Águas trouxe uma equipa de contenção, mas engatilhada para depois tirar proveito da velocidade de Ódair e Héldon para o contra-ataque, aproveitando o muito espaço que os laterais portugueses deixavam nas suas costas. O jogo começou intenso e com um festival de oportunidades desperdiçadas nas duas balizas, com Cabo Verde a atacar em velocidade, com bolas na frente, e Portugal a responder, de pé para pé, com prioridade, como já dissemos, para os flancos, mas sem que nenhuma das equipas se conseguisse impor de forma clara. Atacavam à vez e Cabo Verde tinha direito a banda sonora com os muitos adeptos presentes a acompanhar as investidas dos seus com gritos pouco habituais nos jogos portugueses.

O primeiro calafrio foi na baliza de Anthony Lopes, com Odair a escapar pela direita e a cruzar para o desvio de Júlio Tavares. Portugal respondeu logo a seguir no mesmo corredor, com Antunes a cruzar para o remate frouxo de Hugo Almeida. João Mário e Bernardo Silva também falharam o alvo em boa posição para finalizar, mas Cabo Verde também falhava neste capítulo, com destaque para uma oportunidade flagrante de Júlio Tavares depois de uma recuperação de Héldon. O jogo seguia, assim, com parada e resposta, com Cabo Verde a consegui impor mais velocidade, apesar ed jogar contra o vento, e Portugal à procura de soluções, Com Bernardo Silva a procurar novas soluções em lances individuais.

O vento a embalar Cabo Verde

O vento forte que soprou na Amoreira, convém frisar, estava a ter influência no jogo. Nomeadamente quando Portugal procurava mudanças de flanco, a bola era embalada pelo vento e tomava direções inesperadas. Também se notou num livre de Antunes e, sobretudo, no primeiro golo de Cabo Verde, aos 37 minutos, com um cruzamento de Odair da direita a surpreender tudo e todos e a entrar junto ao segundo poste. Um golo que tornou ainda mais intensa a festa que os cabo-verdianos já faziam nas bancadas e embalou a equipa de Rui Águas para o segundo, cinco minutos depois, sem que Portugal tivesse tempo para reagir. Um golo que surgiu de bola parada, num livre, em forma de canto curto, à entrada da área, com muita gente na área, mas a bola sobrou caprichosamente para Gêgê que atirou a contar. O intervalo chegava logo a seguir, com grande festa nas bancadas.

Fernando Santos fez apenas uma alteração ao intervalo, prescindindo de João Mário, que jogou com total liberdade de movimentos nas costas de Hugo Almeida, e fez entrar Ukra para o lado esquerdo, passando o médio do Mónaco para uma zona mais interior, mas por pouco tempo. A verdade é que Portugal entrou bem melhor no segundo tempo, com o jogador do Rio Ave a mostrar serviço logo de início. Vieirinha colocou Vózinha finalmente em jogo com um remate colocado e nos minutos seguintes Portugal teve novas oportunidades para marcar, mas Cabo Verde voltou a provocar estragos em mais um contra-ataque. Héldon destacou-se na zona frontal e foi derrubado, à entrada da área, por André Pinto. Vermelho inevitável. Fernando Santos já tinha Éder, André André e Pizzi junto à linha, mas, com a expulsão do central, teve de reformular os seus planos, recompondo o eixo defensivo com Danilo.

Os destaques do jogo: Heldon mostrou serviço no regresso a Portugal

Rui Águas reforçou o miolo com um jogador da casa, Babanco, numa altura em que Cabo Verde arrancava «olés» das bancadas, com sucessivas trocas de bola. Os outros três que estavam junto à linha acabaram por entrar [Vieirinha rendeu Hugo Almeida como capitão] e Portugal demorou novamente a assentar jogo, até porque Cabo Verde também ia mexendo na equipa, com constantes interrupções.

O jogo terminou com Portugal a atacar, com Pizzi também a entrar bem, à procura de um golo, mas com Cabo Verde a controlar as investidas dos portugueses, de forma segura, ao som dos tambores que vinham das bancadas. A festa foi mesmo dos cabo-verdianos.