A Polónia que recebe Portugal nesta quinta-feira para a Liga das Nações tem o goleador Robert Lewandowski, que vai celebrar 100 jogos com a camisola da seleção, mas agora tem também Piatek. Um fenómeno neste arranque de temporada, a bater recordes sobre recordes na Serie A. Tal como Cristiano Ronaldo, também ele chegou esta época a Itália. Mas um arranque de sonho vale-lhe nesta altura mais do dobro dos golos do português, nove em sete jogos.

Além do mais deu de avanço. Krzysztof Piatek chegou ao Génova no defeso e entrou com estrondo. Estreou-se no início de agosto com um póquer em pouco mais de meia hora na Taça de Itália, frente ao Lecce. Precisou de menos de dois minutos para marcar o primeiro, depois seguiu por ali fora. Há 68 anos que nenhum jogador do Génova marcava quatro golos numa partida.

Mas ficou de fora do jogo seguinte, a primeira jornada da Serie A. Apenas se estreou no campeonato à segunda ronda. E desde então não parou. Marcou em cada jogo do campeonato, incluindo no domingo passado, na derrota do Génova frente ao Parma. E aí fez algo que ninguém fazia em Itália desde 1994/95, quand Gabriel Batistuta marcou em 11 jogos seguidos. Já tinha igualado um recorde quase com 70 anos quando se tornou o primeiro estreante desde Karl Aage Hansen em 1949/50 a marcar oito golos nos primeiros seis jogos no campeonato italiano.

Tem um golo a cada 70 minutos na Serie A, uma média que melhora se olharmos o total da época em Itália: 13 golos em oito jogos, um a cada 52 minutos. É nesta altura o maior goleador dos principais campeonatos europeus. Destaque absoluto mesmo com o Génova a fazer uma época mediana, nesta altura em 10º lugar, que redundou para já na saída do treinador David Ballardini, depois da derrota de domingo passado com o Parma.

Aqui está Piatek

Para Piatek tudo aconteceu muito depressa desde que chegou a Génova no início do defeso, quase incógnito. «Não estava ninguém no aeroporto a receber-me», ri-se Piatek numa reportagem da FIFA: «Agora não posso ir a lado nenhum sem ser assediado.»

O valor estimado da sua contratação foi quatro milhões de euros. Agora fala-se em números 10 vezes superiores, em informações recorrentes sobre o interesse de vários grandes da Europa na sua contratação. Embora o presidente do Génova, Enrico Preziosi, diga que «é loucura» falar na saída do jogador já para janeiro.

Piatek tem 23 anos e começou a jogar no Lechia Dzierzoniow, na cidade onde nasceu. Num ambiente pouco favorecido, é ele quem o diz. «Do sítio de onde vim muita gente se perdeu. Meteram-se nas drogas. Eu consegui escapar. O futebol ajudou-me», contou ao portal SportoweFakty.

Mudou-se para Lubin, a 100 km de distância, ainda junior. Foi jogar no Zaglebie, onde subiu à primeira equipa e se estreou na Liga polaca. A meio da época 2016/17 saiu, para assinar pelo Cracóvia. Marcou 11 golos em 27 jogos na primeira temporada e os 21 golos em 38 partidas na época passada foram o passaporte para a transferência para Itália.

Passou pelas seleções jovens da Poónia e chegou a estar nos pré-convocados para o Mundial 2018, mas não entrou na lista final. A dececionante campanha polaca na Rússia, onde a equipa terminou no último lugar no seu grupo, levou a mudanças. Antes de mais no banco. Adam Nawalka deu lugar ao antigo médio Jerzy Brzeczek, que assumiu como selecionador ainda antes do final do Campeonato do Mundo.

Brzeczek convocou Piatek para a jornada de seleções de setembro. Não jogou no empate com a Itália para a Liga das Nações, mas estreou-se no particular com a Irlanda. Esteve uma hora em campo no empate a uma bola, num jogo em que Lewandowski não foi opção. Agora, o selecionador diz que não descarta colocar os dois homens golo em campo em simultâneo, mas não é provável que faça a experiência frente a Portugal, pelo menos no onze titular.

O lugar deverá ser de Lewandowski, a grande referência do ataque da Polónia e obviamente uma referência para Piatek. «Vejo o Robert jogar desde miúdo. Tentava imitá-lo. Sempre me impressionou a forma como joga de costas para a baliza», contou Piatek ao portal SportoweFakty: «Ele veio falar comigo na última concentração. O Robert tem uma maneira de ver o jogo completamente diferente da de muita gente no nosso país. Falou muito sobre Guardiola, a atenção que dá aos detalhes, como conseguia encontrar uma solução para qualquer situação. O Robert ajudou-me muito.»

As comparações entre os dois são inevitáveis e muitos apontam-lhes semelhanças e, por isso, difícil compatibilidade em simultâneo na equipa. Para já, frente a Portugal, Piatek deve começar no banco à espera de uma oportunidade para entrar. Mas tem o futuro pela frente.

Michal Probierz, o treinador do Cracóvia, não tem dúvidas quanto a isso. «O Piatek pode ir muito longe», disse o técnico ao Tuttomercato. «Génova é o lugar certo para ele melhorar e atingir o seu potencial. Ele tem características idênticas ao Lewandowski, mas é sete anos mais novo», observa: «Estou seguro de que, se continuar a ser bom profissional e evitar lesões graves, vai ser um dos grandes avançados da Europa.

Probierz diz que o talento de Piatek escapou aos grandes da Europa, mas era óbvio. «Tem o golo no sangue e um fantástico sentido posicional. O Génova fez um grande negócio, numa operação muito rápida», afirma: «Surpreende-me que os grandes clubes da Europa, com todo o scouting que fazem, tenham falhado um talento tão grande na Polónia.»

Piatek está em alta e está tudo a acontecer depressa, mas ele garante que vai manter os pés no chão. «Nunca vou deslumbrar-me. Ainda não alcancei nada. A minha família e a minha namorada mantêm-me com os pés no chão. Já não me sento frente a um computador ou consola seis horas por dia, como fazia. Gosto de trabalhar duro, gosto de me cansar. Tenho cuidado com a dieta e o treino.»