Com as lesões de Adrien e Nani a condicionarem as suas escolhas, a convocatória alargada de Fernando Santos para o jogo com a Hungria de dia 25 e – acessoriamente – para o particular com a Suécia tem poucos motivos de polémica.

Ainda assim, a chamada de Renato Sanches, que depois da pausa de inverno, na Alemanha, alinhou em apenas 87 minutos pelo Bayern no ano de 2017, motivou um esclarecimento por parte do selecionador, que considerou ser suficiente o facto de o médio português fazer habitualmente parte dos convocados de Carlo Ancelotti para justificar a sua confiança. À exceção de André André, que voltou a jogar com regularidade no FC Porto, também não é claro que houvesse muitas alternativas válidas para o lugar – e as opções de Fernando Santos vincam, uma vez mais, a preferência que continua a dar à base do grupo campeão europeu: Éder 

Dos 25 convocados, 17 estiveram no Campeonato da Europa. Além dos lesionados Adrien e Nani, que em condições normais estariam entre os eleitos, os ausentes são Ricardo Carvalho e Eduardo (que entraram num patamar de carreira menos competitivo) e Vieirinha e Rafa Silva, estes últimos por opção.

Portugueses com mais do dobro de minutos dos húngaros em 2017

A verdade é que a escassa utilização de Renato Sanches o torna figura de exceção no lote de 25 convocados por Portugal. Se utilizarmos o critério de minutos jogados em 2017, o médio do Bayern é o único com menos de quatro jogos completos – os menos utilizados que se seguem na lista são os centrais Neto (que vem de uma prolongada pausa de invero na Rússia) e Pepe (que esteve parado dois meses por lesão). E mesmo jogadores que nem sempre são titulares, como André Gomes, Moutinho ou o próprio João Mário, que nos últimos dois jogos começou no banco do Inter têm um número de minutos que deixam a perder de vista os concorrentes húngaros.

Em média, os 25 convocados de Fernando Santos têm quase dez jogos completos em 2017 (875 minutos) o que é mais do dobro do valor médio apresentado pelos 27 da Hungria (362 minutos). Há 12 portugueses entre os convocados com mais de dez jogos completos - e os mais utilizados, que ultrapassam os 14 jogos, são Anthony Lopes, Pizzi, Bernardo Silva e Cristiano Ronaldo.

A título de comparação, o jogador húngaro mais utilizado no ano de 2017 é a estrela da companhia, Balasz Dzsudzak – que bisou no empate 3-3, do último Europeu. Mas Dzsudzak, que é também o jogador húngaro com mais golos (seis) desde o início do ano, alinha no pouco competitivo futebol dos Emiratos Árabes. E nove dos convocados por Bernd Storck têm menos de três jogos oficiais nas pernas, desde janeiro.

Minutos jogados em 2017

Portugal: 21881 (média, 875)

Mais utilizados: Anthony Lopes (1380), Pizzi (1359), Bernardo Silva (1291) e Cristiano Ronaldo (1260)

Menos utilizados: Neto (360), Renato Sanches (87)

Hungria: 9775 (média, 362)

Mais utilizados: Dzsudzak (864) e Gulacsi (720)

Menos utilizados: Lovrencsics (143) e Kádár (180)

Diferentes patamares

Outra forma de avaliar o diferente patamar competitivo das duas equipas neste momento – recorde-se que o futebol húngaro também tem uma pausa de inverno prolongada – é a avaliação da proveniência dos jogadores. Dos 27 escolhidos por Bernd Storck, só quatro – o guarda-redes Gulacsi (RB Leipzig), o médio Nagy (Bolonha) e o avançados Sallai (Palermo) e Szalai (Hoffenheim) – jogam em duas das cinco principais Ligas europeus.

Por comparação, 14 dos 25 convocados portugueses atuam nas Ligas do top-5 europeu (quatro em França, quatro em Espanha, dois em Itália, dois em Inglaterra e dois na Alemanha). Nenhum dos jogadores húngaros está ainda em prova nas competições da UEFA, enquanto nove dos nomes agora escolhidos por Fernando Santos seguem para os quartos de final da Liga dos Campeões (Pepe, Cristiano Ronaldo, André Gomes, Raphael Guerreiro, Renato Sanches, João Moutinho e Bernardo Silva) ou da Liga Europa (Quaresma e Anthony Lopes).

Sem surpresas, Cristiano Ronaldo é, de entre os 49 jogadores chamados para o Portugal-Hungria, aquele que conta mais golos marcados em 2017 (são 10) seguido de André Silva (cinco) e Bernardo Silva (quatro). Na Hungria, para além do já citado Dzsudzsak, só Priskin e Szalai marcaram mais de dois golos.

CONVOCADOS DE PORTUGAL

Guarda-redes: Rui Patrício (Sporting), 810 minutos; Anthony Lopes (Lyon), 1380; Marafona (Sp. Braga), 900

Defesas: Nélson Semedo (Benfica), 1166; Eliseu (Benfica), 900; João Cancelo (Valencia), 898; Cédric (Southampton), 816; Bruno Alves (Cagliari), 810; Raphael Guerreiro (B. Dortmund); 725; José Fonte (West Ham), 630; Pepe (Real Madrid), 379; Neto (Zenit), 360

Médios: Pizzi (Benfica), 1359; Bernardo Silva (Mónaco), 1291; João Moutinho (Mónaco), 1083; Danilo (FC Porto), 966; William Carvalho (Sporting), 927; André Gomes (Barcelona), 875; João Mário (Inter), 767; Renato Sanches (Bayern), 87

Avançados: Cristiano Ronaldo (Real Madrid), 1260; Ricardo Quaresma (Besiktas), 1042; Gelson (Sporting), 1031; André Silva (FC Porto), 815; Éder (Lille) 604

CONVOCADOS DA HUNGRIA

Guarda-redes: Peter Gulacsi (RB Leipzig), 720 minutos; Balázs Megyeri (Greuther Furth), 630; Dénes Dibusz (Ferencvaros), 360; Adam Kovacsik (Videoton), 360

Defesas: Mihaly Korhut (Hapoel Beer Sheva), 552; Adam Lang (Dijon), 414; David Kalnoki-Kis (Ujpest), 360; Paulo Vinícius (Videoton), 360; Adam Pinter (Greuther Furth), 350; Szilveszter Hangya (Vasas), 342; Endre Botka (Ferencvaros), 248; Barnabás Bese (Le Havre), 195; Atilla Fiola (Videoton), 180 Tamas Kadar (D. Kiev), 180

Médios: Adam Nagy (Bolonha), 627; Zoltan Gera (Ferencvaros), 270; Zsolt Kalmar (Brondby), 231; David Holman (DVSC), 194 Laszlo Kleinheisler (Ferencvaros), 189; Gergo Lovrencsics (Ferencvaros), 143

Avançados: Balázs Dzsudzsak (Al Wahda), 884; Adam Gyurcso (Pogon Szczecin), 495; Krisztian Nemeth (Al Gharafa), 374; Marton Eppel (Honved), 319; Roland Sallai (Palermo), 302; Tamas Priskin (Slovan), 273; Adam Szalai (Hoffenheim), 223.