Arménia, território extraído da anacrónica URSS, país encravado entre o extremo europeu e a Ásia. Para muitos, um enigma, uma folha em branco. A seleção de futebol é um reflexo do próprio Estado, apesar de vários duelos contra Portugal nas últimas décadas.

Perdido no lugar 75 do ranking FIFA, o próximo oponente da Seleção Nacional justifica uma pesquisa cuidada. Para isso, nada melhor do que nos socorrermos dos serviços de informação de um espião em posse de matéria sigilosa.

Sejamos tolerantes com este pequeno exagero linguístico e vamos em frente. David Azin pode muito bem encarnar a pele de fonte preciosa. Afinal, é ele o único futebolista da Arménia com ligações recentes a Portugal.

O título está ligeiramente fora do prazo de validade, assumimos. Azin foi jogador do União da Madeira até junho de 2014, mas encontra-se atualmente «livre e à espera de um bom convite».

Encontrámo-lo em Colónia, Alemanha, onde nasceu há 24 anos, filho de emigrantes arménios. A conversa segue diretamente para o jogo de sexta-feira, no Estádio Algarve.

«Os últimos tempos da seleção foram complicados. Tivemos muitas lesões. O Movsisyan [avançado, 27 anos, jogador do Spartak Moscovo] e o Ghazaryan [extremo, 26 anos, Olympiakos], jogadores fundamentais, estiveram afastados algum tempo», começa por lamentar David Azin, em entrevista ao Maisfutebol.

«Nesta altura, creio que só temos uma baixa importante: Ozbiliz, também do Spartak, um excelente jogador. Por isso as coisas têm melhorado».

David Azin faz uma pausa para lembrar «o mais importante»: «Estamos a falar sobre atletas influentes, mas na seleção tudo gira em redor do Henrikh Mkhitaryan [Borussia Dortmund]. Para o povo arménio ele é uma lenda viva. Tem a importância que o Ronaldo tem para Portugal».

O próprio Azin tem «várias internacionalizações» nos Sub21 da Arménia e está à espera de uma chamada à principal seleção. Apesar de ter nascido e crescido em Colónia, David Azin afirma-se «orgulhosamente arménio» e até acredita numa presença no Euro2016.  

«Temos um meio-campo de qualidade e avançados ótimos. O nosso maior problema reside na defesa. Os elementos desse setor são inexperientes, pois vários ainda jogam na liga arménia. Depois temos outro que joga no Irão, outro no Cazaquistão e outro ainda na Rep. Checa. São mais competitivos»
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A juntar a essa limitação, David Azin lamenta que a Arménia falhe «tantas vezes» contra seleções teoricamente mais débeis. «Na corrida para o Mundial mostrámos bom futebol e em casa fizemos a vida difícil aos mais fortes. Mas depois falhámos onde não podíamos».

Da Alemanha a Portugal, com passagem pela Arménia

David Azin fez cinco anos nas escolas de formação do Colónia, transferiu-se para o Pyunik - «o clube mais forte da Arménia» - e passou por Suécia [Assyriska] e Finlândia [FF Jaro], antes de aterrar «na terra do Cristiano Ronaldo».

«O futebol escandinavo era muito físico e direto. Eu sou um jogador técnico e optei por jogar em Portugal. Estive cinco meses na Madeira, joguei contra as equipas B de Sporting, FC Porto e Benfica [sete jogos na II Liga] e gostava de ter continuado. Tinha tudo apalavrado, mas o treinador mudou e nunca mais me disseram nada».

David recorda «os dias de sol» e a presença constante «do mar» na passagem pela Madeira. Aprendeu a gostar desse pedaço de Portugal e a seguir «ainda com mais atenção» a nossa seleção.

«Na Arménia só se fala do Cristiano Ronaldo. Todos sabemos que Portugal tem mais jogadores de qualidade, mas Ronaldo é único. O duelo dele com Mkhitaryan vai ser interessante, por certo».

Imagens de David Azin no futebol português: