Chamam-se Miguel Silva e André Pestana, são naturais da Madeira e vivem em Inglaterra. Esta terça-feira tornaram-se notícia porque cometeram a proeza de viajar entre as fronteiras de Inglaterra e da Rússia... de bicicleta.

Chegaram ontem a Kratovo e esta manhã estiveram no Centro de Estágios de Saturn, onde receberam um prémio: foram os únicos adeptos autorizados a assistir ao treino da Seleção Nacional.

Mas como aconteceu esta aventura, pergunta-se?

«A aventura começou há cerca de dois anos, quando soubemos que o Mundial ia ser na Rússia. Nessa altura dissemos que se Portugal se qualificasse, íamos pedalar desde Inglaterra, onde vivemos há dez anos, até aqui à Rússia. Nem sabíamos quanto quilómetros seriam», conta Miguel Silva.

«Foram 14 dias a pedalar, a uma média de 170 quilómetros por dia. Acampámos várias vezes, na parte final, e como os hotéis na Polónia e na Letónia são mais baratos, ficámos em hotéis, porque os músculos não aguentavam mais.»

No total foram 2400 quilómetros somados em cima de um bicicleta. Uma façanha alcançada com valentia.

«Houve dias em que pedalámos 190 quilómetros, outros dias que correram um pouco mal e só pedalámos 150 quilómetros. Gostamos de nos superar a nós próprios, queríamos ver a seleção e tudo junto deu nisto. Aqui estamos nós.»

André Pestana, o menos desenvolto dos dois, diz que uma viagem destas enche-se de peripécias, naturalmente.

«Um dia o GPS mandou-nos por uma estrada de areia durante vinte quilómetros, na Polónia, o que tornou isto muito difícil, porque os pneus enterravam-se na areia», conta.

«Outra vez, na Lituânia, pedimos uma sopa, veio uma coisa fria, cor de rosa, muito estranha. Nem a consegui comer.»

André Silva, por outro lado, lembra o dia em que tiveram problemas com a autoridade.

«Apanhámos uma multa numa estrada não permitida a ciclistas na Polónia. Não sabíamos, fomos por onde nos mandou o GPS, fomos logo mandados parar pela polícia. Tivemos de pagar a multa e mudar de rota e a nova rota foi muito difícil, porque era de terra batida. Tive quedas, furos, enfim, foi complicado.»

No fim tudo acabou bem, portanto, e os mais amargos da viagem tornaram-se doces recordações. Miguel Silva e André Pestana passaram por sete países, até chegar à Rússia:França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Polónia, Lituânia e Letónia. Apanharam dias bons e dias maus, andaram pelo campo e pela cidade, pedalaram muito e descansaram pouco.

«No início nós queríamos fazer completo de Portsmouth a Kratovo. Mas para isso precisávamos de um mês ou mês e tal, só que o patrão não nos deu esse tempo todo de férias», adianta André Pestana.

«Por isso tivemos de reduzir a distância de 3500 quilómetros para 2400 quilómetros. Saímos de França, junto ao Canal da Mancha, e pedalámos até à fronteira da Letónia com a Rússia, do lado russo. Depois viemos de comboio para Kratovo.»

Agora estão a aproveitar a fama e a pensar já em quinta-feira, dia que viajam de avisão de Sochi, para ver o Portugal-Espanha. Já têm bilhete para o jogo há quatro meses, aliás. No domingo regressam a Inglaterra, agora de avião.

Antes de seguir viagem, porém, os dois amigos madeirenses receberam um prémio da Federação: foram convidados a assistir ao treino da Seleção. Foram os únicos adeptos autorizados a fazê-lo, aliás.

«Viemos para aqui porque gostávamos de ter um autógrafo da Seleção, mas sabemos que não é fácil, por causa da segurança que é muito apertada. Pudemos ver um bocadinho do treino, já não foi mau», acrescenta André Ventura, antes de se despedir e seguir para o hotel: os dois têm muito que descansar.

Parabéns pela aventura, e até sexta-feira, em Sochi.